PRÓLOGO:
Existiram, talvez, pessoas tão altamente diferentes como a leitura desta história nos apresenta? Existirão inteligentes que parecem ignorantes, ou ignorantes que parecem inteligentes? Existirá, em alguma parte do mundo, tamanho antagonismo? Essas são perguntas complicadas, que não podem ser respondidas em um livro mambembe como este, são traços da dificuldade da classificação, da dificuldade de distinguir. Mas, cada um sabe como respondê-las, cada um tem a sua opinião, cada um vê do jeito que quer.
J.M.S Março de 1999.
PRIMEIRA PARTE: A ROÇA
I- UMA PEQUENA VIAGEM AO POVOADO
Agora o leitor irá conhecer o povoado de Rio Comprido, antiga vila de São João do Rio Comprido, bem no interior do estado de São Paulo, nas margens de um pequeno córrego sem nome, um córrego que deságua num rio que mais parece um barbante molhado, que por sua vez, vai cair no Tietê ( pode ser que o leitor não saiba da existência deste lugarejo, mas não me vão procurá-lo no mapa, por favor) , uma pequena vila, desses micro municípios onde o delegado conhece o nome de todos, até dos animais; onde o prefeito é velho conhecido de todo mundo; onde todos os moradores se conhecem, enfim um lugar de profunda calma, onde a indústria de poluição, os políticos sem-vergonha, a psicose urbana e ditadura dos computadores ainda não chegaram ( mas basta os ditadores cibernéticos saberem que existe lugar assim que todos eles chegam ao mesmo tempo ). O saldo máximo de tecnologia são as televisões e as parabólicas. Na linguagem humorística, uma cidade de primeira, porque se engatar a segunda, a cidade já ficou para trás.
Imagine uma grande avenida de entrada, sem canteiros, que para nós da cidade grande chama-se ruela, um pequeno posto de gasolina postando-se à entrada, algumas casas dos dois lados e umas ruas de terra partindo dessa avenida. Mais para frente notam-se algumas casas comerciais, uma pequena igreja situada numa praça, mais casas e já a cidade termina. O povoado acaba por fluir-se dos dois lados da avenida, com as principais ruas asfaltadas, mais algumas onde ainda existe a terra.
Quanto às casas comerciais, existem os lugares-comuns. Numa calçada, alinham-se uma porta, que dá acesso a um açougue, e outra porta, que dá acesso à quitanda. Na esquina, uma casa comercial maior, um misto de padaria e boteco, onde se vê pão e cachaça aparecerem na maior harmonia.
Na outra esquina, já aparecem os concorrentes, bares, quitandas e açougues menores ainda, terminando na esquina com um mini mercado, talvez o maior posto de compras. Aparece também a farmácia, um estabelecimento um pouco maior, onde o dono é misto de farmacêutico e médico. E termina este quarteirão com um prédio grande para as proporções do município, o banco, onde todo mundo têm as contas.
Ao longo da pequena praça, amontoam-se uma lanchonete, uma sorveteria e um fliperama. Quase todos só abrem aos sábados e domingos, quando a praça fica movimentada de manhã e à noite. E, no outro lado, o salão paroquial, um grande salão, que abre suas portas para os triviais bingos.
Mais para cima, nos lados mais altos da cidade, além da maior concentração de casas, estava a escola, percebida de longe pelos alambrados de um campo de futebol minúsculo. Depois, a prefeitura, a construção mais bonita da cidade e majestosa, seguida da câmara dos vereadores, um prédio simples com um amplo jardim na frente.
Quanto à parte mais baixa da cidade, havia menos casas, poucas ruas asfaltadas e já se viam cercas de arame farpado delimitando as propriedades rurais. O tosco hospital da cidade ficava aí, logo na frente da cerca que delimitava o fim da vila. E entre a cerca e o hospital ficava uma estrada de terra poeirenta, castigada, íngreme e cheia de pedras.
Para o urbanoide ferrenho, isto é como a descrição do inferno. Já para o carente de tranquilidade e para o amante de lugares simples, isto é o céu. Para mim isto é um bom lugar para se descansar e escapar das neuroses urbanas. Um cenário ideal para uma história.
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Admirável Rio Comprido
RomanceComo se chega a Rio Comprido? É perto de onde? Qual o seu ponto de referência? Tem placa na estrada? Nessa história simples, de um povo humilde do qual eu e você fazemos parte, que pode se passar tanto em outro país ou planeta quanto no bairro vizi...