VI- Construindo uma igreja

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Hugo despertou naquela manhã de um jeito totalmente diferente. Demorou um pouco para dormir (pensou que o som emitido por uma coruja da proximidade fosse um alarme anti-roubo de carros e também pensou que havia um ladrão forçando a janela, quando a vaca Formosa apoiou-se nela, pois ela gostava de dormir com a cabeça apoiada no peitoril), mas depois das explicações de Zeca dormiu de vez. Em vez de despertar com o trânsito maldito das metrópoles, com o sol sempre escondido pelas nuvens de fumaça, acordou com o barulho dos pássaros que logo de manhã começam a trinar, com o barulho das galinhas vindo do galinheiro e com o galo que toda manhã cantava, umas vezes em cima das bananeiras, outras em cima da cerca.

Abriu os olhos e olhou para a janela de ferro, que estava fechada por dentro com cadeado. A luz do sol amarelo passava pelos seus vãos, lembrou-se de que o sol deixou de ser amarelo devido à poluição. Levantou-se e resolveu ir tomar café.

Encontrou Zeca já de pé, e espantou-se de achar o primo já acordado.

- Levantou cedo hoje? Perguntou Hugo.

- Hoje eu acordei cas galinha. Aqui no sítio nóis num é di acordá tarde.

Só de ouvir falar em acordar cedo, Hugo tinha um troço. Ao chegarem, na noite passada, ainda assistiram à televisão durante um tempo (o sítio tinha a caixa de doideiras), e ele tinha acordado cedo por causa do galo. Cidade enfraquece, matutava Hugo. Na roça, além de dormir tarde, ainda acordam cedo e trabalham o dia inteiro em um monte de coisas.

A varanda da casa onde ficava a cozinha se abria diretamente para o quintal, um quadrado delimitado por enormes eucaliptos ao longe. No fundo deste quintal, estava situada uma horta onde eram cultivados alface, cenoura, rabanete, salsinha e mandioca, em grandes canteiros, separados por uma estreito caminho excelentemente carpido por enxadas fortes.

Zeca e Hugo estavam tomando café quando Zeca disse que Chico os chamara, pois tinha algumas notícias quentes. Estavam os dois curiosos para conhecê-las.

Foram até o sítio onde Chico morava. Atravessaram o roçado e pularam a cerca que delimitava os sítios. Já encontraram Chico debaixo da copa de uma goiabeira, sentado na sombra, descansando no mato.

- Quar qui é a notícia qui ocê falô pra nóis- perguntou Zeca para Chico.

- Tá todo mundo comentando. Depois do raio que caiu ontem na praça, vão construir uma igreja nova. O prefeito prometeu um bom cascalho por dia para quem ajudar na construção.

- Oba! Intão nóis pode i tudu lá i ganhá uns trocado.

- Só que o padre avisou que a igreja tem que estar pronta até o dia de Corpus Christi, porque o bispo vem aqui.

- Mai donde qui vão fazê a igreja nova?

- Lá onde ela tá. Vão construir à partir da velha.

Agora a coisa complicava. O dia de Corpus Christi estava muito perto, e não se conclui uma construção da noite para o dia. Se fossem até lá, na certa iam trabalhar dia e noite.

Estavam os três debaixo da goiabeira, quando Zé chegou. Veio correndo, pulou a cerca e caiu de cara com a grama debaixo da goiabeira.

- Oceis sabia qui o Gringo co Jamanta robaro pão da padaria do Inocêncio?

- Não- responderam todos.

- Mai oceis tudu tinha qui tê visto. Eles dois falaro qui o Inocêncio num presta atenção im ninhum qui entra lá.

O Zé era realmente lerdo. Todos falavam da igreja em construção, enquanto ele vinha e falava de uma coisa sem importância. De que importava se Gringo e Jamanta (calma, você ainda vai conhecê-lo) tinham roubado o pão da padaria? É certo que os dois não valiam nada, que Inocêncio era muito distraído, mas nada se encaixava com o assunto atual.

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⏰ Última atualização: Sep 21, 2015 ⏰

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