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  Quando há uma coisa na sua frente que, apesar de ser óbvia, tanto quanto um homem pulando de uma ponte — por estar só —, ou alguém desconhecido lhe dando dinheiro e balas — mamãe não gosta dessas pessoas —, essas coisas, aquelas que deixamos escapar pelos nossos olhos, são aquelas que, um dia, serão sua destruição.

  Perguntava-me como a vida poderia ser pior, mas não de forma normal, completamente numa confusão, porque estava indo viajar. E não era para um lugar bom. Nem com quem eu queria ir. Mas de alguma forma deveria me ajudar a superar certas coisas. Como eu estar apaixonada por ele de todas as formas possíveis. E tem outras, que incluem luvas pelo resto da vida e muita, muita terapia.

  Dei um beijo na bochecha de mamãe, que não sabia se chorava ou ria, mas eu desconfiava que seu rosto pudesse ficar contorcido de maneira estranha se ela continuasse a fazer tanta careta. Passei por Boby e o abracei apertado também. Escutei a buzina gritante do carro de Maia enquanto arrastava minhas malas para longe da casa, e em uma última olhadela, observei quando a casa se deteriorava na minha frente. Não! De novo, não! Recuso-me a passar por essa experiência outra vez!

Fixei os olhos na panturrilha do meu sapato de combate que ia até o joelho. Escutei os sons dos estragos a minha volta. Tive vontade de gritar. Chamar minha mãe para longe daquele lugar, agora! Exigindo que nunca mais entrasse lá.

Eu até tentaria explicar esses acontecimentos estranhos na minha vida, tentaria mesmo, mas é provável que me trancassem no hospício e esquecessem que tinha chave. Como fizeram com vovó. Mas ela é outro caso, possivelmente, acho que ela não ficou maluca de verdade, apenas perdeu aquela sanidade que todos têm. Ah, menos eu.

— Vamos, Jane, temos que buscar o Nick ainda — berrou, passando a cabeça para fora do carro e batendo as mãos no teto do carro.

E eu achando que o dia poderia ficar pior.

Foi quando eu o vi. Ele estava sentado no banco da praça do outro lado de onde eu me encontrava, parecia entretido em analisar meu rosto e seu rosto estava escondido numa máscara de... de... Ferro. Seus olhos azuis se mexiam a cada movimento meu e achei que poderia correr, mas provavelmente estaria facilitando as coisas para ele. E Deus, como eu queria ficar longe dele.

Depois vi ele saindo da porta de casa e prendendo os braços numa jaqueta de couro preta. Ele era tão descolado que cheguei a achar que poderia ser macumba, tampouco em tão... Merda!

Aqui vou eu, tentar contar como a bosta da minha vida se tornou tão doida que se perguntassem para qualquer pessoa no Oregon se viram a maluca, apontariam direto para minha casa.

Constrangida por ter sido pega olhando novamente para ele, abaixei a cabeça e arrastei os pés até dentro do Honda de Maia.

Ele tinha olhos verdes que pareciam poder assistir minha alma, como se pudesse me despir com apenas um olhar, e isso incomodava. Muito. Mas eu sempre tentava focar a mente no lugar mais seguro, sabe, quando não estou tentando mata-lo, estou tentando não beija-lo e tudo nesse meio termo é muito confuso.

— Tá tudo bem com você, Jane? — indagou Maia assim que joguei a mala dentro do porta malas.

— Melhor impossível — respondi seca.

— Bom dia, pessoal! — Alex sentou do meu lado no carro e me olhou estranhamente, como se esperasse algo. — Mia, ela está branca. E não é do jeito mortiça de sempre, até parece que viu um fantasma.

Você nem faz ideia.

— Estava perguntando agorinha sobre isso, mas ela disse que estava perfeita.

GodlinOnde histórias criam vida. Descubra agora