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 As coisas ficaram estranhas depois de um tempo sozinha, eu o vi mais vezes que poderia contar, pela minha visão periférica. Estava como sempre, com uma máscara cobrindo todo o rosto, tinha olhos azuis brilhantes e cheirava a ferro. Ele usava roupas que mais pareciam trapos, uma calça marrom e uma camisa que um dia poderia ter sido branca, mas agora estava em bege rasgado. Isso consequentemente deixava seu peito musculoso nu. Não que eu me importasse. Ser perseguida por um fantasma não me incomodou nenhuma vez nesses últimos anos, tanto que, se alguém me pergunta-se qual era a aparência de mendigos escravos, o usaria como referência.


Anteriormente, não saia da minha cabeça o que esse homem queria comigo, ou porque coisas estranhas aconteciam, mas decidi, depois de tentar falar com ele — e ele sempre sumir — que sou louca mesmo. E provavelmente não vou passar dos vinte antes de ser presa no manicômio.

A vida segue, eu acho.

Mas tem gente que consegue ser chata! Mas Nick, ele transforma isso numa dádiva. Eu estava sentada no capô do carro tentando ver entre a luz forte do sol; Maia e Alex haviam decidido irem juntos ao hotel ligar para o guincho. Eu não queria ficar sozinha com Nick, mas foi à única maneira que encontrei de ficar longe de Alex, e depois de tanta falação com minha mãe ao telefone, após deixar que ele falasse com seu pai, o clima novamente ficou esquisito.

Eu mesma teria oferecido Nick para ir junto com eles. Contudo, o medroso se recusou a sair do carro, alegando que como advertência do sol, sua cabeça estava doendo muito. Maia achou um pote de aspirina para ele e quando saia deu um beijo na sua bochecha, então os dois saíram andando; ela de botas e Alex de chinelas havaianas. Não querendo ficar compartilhando o mesmo ar que ele, sai do carro e sentei no capô.

Abri os olhos lentamente. Havia alguma coisa de errado, com a claridade, eu acho. Nuvens de chuva começaram a cobrir por completo a grande bola de fogo; arfei ao sentir várias gotas de chuva caírem na minha cabeça, deslizando facilmente até cair no chão. Como podia o tempo mudar assim? Isso definitivamente seria algo que atrasaria nossa viagem. Já que íamos para outra cidade, que consequentemente era em outro país, que obviamente ficava longe demais, não me importei com a chuva anterior, mas essa, oh não, isso era demais para minha cabecinha de pac-man aguentar! Gradualmente, a chuva foi ficando mais forte, me obrigando a entrar no quarto.

Capotei a cabeça no banco, suspirando pesadamente. Todo meu corpo, apesar de ter dormido numa cama confortável — não como outras pessoas, que tiveram a desventura de dormi no chão — doía muito. Queria conseguir dormi enquanto olhava para as gotas de chuva caindo no carro, limpando a nuvem de poeira que se acumulou quando dirigimos nesse deserto. Já fazia quase meia hora que eles haviam partido, e eu já estava na foça de tanta preocupação. Nick nem parecia se importar com qualquer coisa, só mexia no celular e resmungava de vez em quando.

— Vou atrás deles. Quer ir? — Peguei minha blusa vermelha e sai do carro. Logo que meus pés tocaram as pedras rochosas, eu fui abraçada pela chuva tempestuosa.

— De jeito nenhum! Quer morrer afogada nessa chuva, boa sorte, só não me leve junto.

Parecia uma cachoeira de água caindo na minha cabeça, mas me controlei e comecei a ir em diante. Minha visão ficou borrada, queria ter visão noturna, pois o céu estava quase nublado como a noite: sem lua. Escorreguei no chão lamacento e cai no chão com um baque. Aí, doeu! Por sorte, bati apenas minhas costas, teria sido ruim se tivesse batido a cabeça. Mas, mesmo assim, doeu, e eu senti algo embaixo de mim. Provavelmente uma pedra. Quando tentei levantar foi como se alguém estivesse me puxando para baixo, gritei quando senti algo pegando meus braços, mas não via ninguém na minha visão, algo de baixo me puxava. Comecei a me debater, gritando. Pedia por socorro desesperadamente. E quanto mais fazia isso, mais fundo meu corpo se afundava no chão de lama.

GodlinOnde histórias criam vida. Descubra agora