Capítulo 1

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Estava literalmente jogado no banco do passageiro do carro, novamente imaginando como eu teria de me comportar no dia.
Comecei a desenhar rabiscos no vidro embasado do carro, mais uma longa e fria manhã da Cidade de Manchester... e tediante.
O carro havia parado e eu levantei o suficiente para poder ver o motivo, a cavalaria de Manchester.
Em pleno avanço da humanidade cavalos eram usados, sim. E de onde a brilhante e majestosa ideia veio?
De cientistas, filósofos, pessoas de alto escalão. Anos antes de meu nascimento essas pessoas tiveram a ideia de trazer o passado para o presente, o motivo? Taylor Caniff ainda vai descobrir.
Depois de observar os cavalos pretos passarem pela faixa de pedestres quase invisíveis pela tinta falha, volto a fazer minha verdadeira obra de arte a caminho da quadra de beisebol.
(***)
- E o que acha da Payne?
Estávamos somente eu, Benjamim e David na quadra, sentados na arquibancada. Eu os ouvia enquanto brincava com a bola de beisebol quicando no chão e voltando para minha mão.
- Ben será que você pode parar pelo menos um segundo de pensar em garotas e pensar nos testes de quarta?
- A qual é David deixe de ser entediante... é nosso último dia do feriado e você só pensa no Internato?
- Porque eu não sou igual a algumas pessoas, que só pensam em transar e desrespeitar regras.
- Deixa o Ben, David você precisa se soltar mais... senão vai acabar morando com sua mamãe para sempre - Eu disse apertando suas bochechas.
- Cara será que eu posso ter privacidade pelo menos da minha vida pessoal? Obrigada
- Ihh ele ficou nervosinho - Disse Ben fingindo cochichar para mim.
- Ahh tadinho - Eu afino um pouco a voz.
- É sério gente da para vocês pararem?
Enquanto discutíamos sobre o estado de humor de David, sinto uma leve vibração no meu bolso direito da calça, atendo já sabendo que é a minha mãe falando do outro lado da linha, me pedindo para voltar para casa.
- Bem... vou nessa...- Falo pegando uma mochila que sempre trago.
- Mas como? - David me encara - Você acabou de chegar Caniff... - Ele pega a bolinha que eu lanço para ele.
- Eu sei... - Mostro um sorriso para ele - Mais...ordens de mãe, são ordens de mãe...certo?
Benjamim da uma risada debochada
- Como se você as seguisse, né?
- Eu sei, eu sei... - Digo levantado os braços - Mas eles disseram que tinham que me mostrar ou me contar algo importante e blá, blá.
Saio andando, deixando-os falando sozinhos, quando já estou para sair da quadra, viro e mando um beijo para eles.
Começo a andar pelas ruas, esse é o lado bom de ter um carro, na vinda você vem no quentinho e no confortável e na volta você vai ao frio, e carregando a mochila. Que por sinal foi desnecessária. O frio não era dos maiores, mais também não era dos menores.
Fiquei me perguntando a viajem de volta inteira o que meus pais queriam... eu não tinha feito nada de errado...tinha?
(***)
Quando cheguei ao portão de casa, parei bem em frente e respirei fundo.
- Que eu não morra... - Falei para mim mesmo.
Abri a porta de casa, tirei o casaco e os tênis. Vou andando até a sala, e consigo ouvir vozes, por mais baixas que sejam.
(***)
- U-um guarda co-costas!? Como assim!?
- Eu e sua mãe sabemos que você não é um dos alunos mais obedientes filho...
- Mas e a minha vida social como fica!?
- Não nos desobedeça filho! Só queremos que você fique bem! Ele vai vir aqui amanhã e vai te acompanhar por todo seu período escolar, e não se fala mais nisso!
Fecho os punhos, ele só veio aqui para isso?
- Vamos começar assim Pai... o Senhor some da minha vida, eu só te vejo aos feriados e olhe lá, e quando aparece...quer colocar um guarda-costas atrás de mim? Isso é muito irônico. Ah e, aliás, o senhor que deveria ter um guarda-costas porque não sou eu que trabalho no governo, certo?
- Já chega já para o seu quarto!
Abro a boca para falar mais alguma coisa, mas percebo que ele não ia desistir tão fácil dessa ideia estupida, então subo para o meu quarto fechando a porta com tanta força que sinto vidraçaria da janela tremer, apena ignoro e me jogo na cama.
Pode parecer infantil toda essa cena, mais me diz... um guarda-costas? Um homem andando para tudo qualquer lado comigo? Até parece que eu não sei me defender, só falta fraldas e chamar o cara de babá.
Fico deixando o tempo passar deitado olhando para o teto e pensando nas boas respostas que poderia ter dado ao meu pai se ele não tivesse um cinto perto, olho para o relógio em cima do criado-mudo e vejo que já são duas da manhã.
Me levanto da cama e vou até meu armário. Pego um pijama qualquer e me tranco no banheiro. Tomo um banho demorado e quente, não vou mentir que fiquei enrolado e deixando a água bater em minhas costas. Desligo o chuveiro. Me seco e me troco.
Desço as escadas lentamente, sem fazer nenhum barulho, e vou até a cozinha, abro a geladeira e tiro uma jarra de suco e no armário ao lado pego um copo. Fecho lentamente as portas.
- Ainda acordado Filho?
Viro-me e encaro. Minha mãe.
Ela não tem culpa se o meu pai é assim. Seu olhar cansado me encarava.
- Bem... quis beber algo, mais pode deixar Mãe...já vou para cama.
Viro para a pia e fico de costas para ela, não consigo ficar muito tempo olhando em seus olhos. Coloco o suco no copo, e bebo de uma vez só.
Ainda a sinto me encarando.
Viro-me e a noto atrás de mim, a única ação dela foi me abraçar.
- Eu te amo filho... mais agora vai dormir - Ela me afasta de seu abraço e acaricia o meu rosto - Um longo dia você tem pela frente...- Ela dá um beijo estalado em minha bochecha, e vai andando até a porta, antes de ir ela para, mas uma vez seu olhar cansado cai sobre mim, com um sorriso.
- Boa noite mãe.
(***)
Acordo com a luz do sol adentrando pela janela, que por sinal, esqueci-me de fechar as cortinas. Puxo as cobertas até o meu queixo e viro para o lado oposto da janela, e fecho os olhos.
No máximo cinco minutos depois o despertador começou a tocar, agora sim eu era obrigado a levantar. Saí me arrastando até o meu banheiro e me tranquei lá, tomei um bom banho e escovei os dentes. Saí do banheiro de toalha e fui até o meu armário, peguei a primeira roupa que eu vi, volta ao "internato" nunca é das melhores. Ah, bem... vocês devem estar se perguntando. O que você faz num internato? Não tem pais e blá blá? É o seguinte, tenho pais, porém... nem tão presentes, e como o futuro meio que se tornou o passado, eles também inventaram coisas, e uma dessas foi um internato, não necessariamente para pessoas especificas, mais sim para qualquer uma.
Desci as escadas, e fui até a cozinha, peguei a mesma jarra da noite passada e enchi outro copo. Eu estava voltando para a sala quando me deparo com:
Meus pais conversando com um desconhecido.
Fingi tossir, e todos olharam para mim. Posso dizer que fiquei um tanto desconfortável com isso.
- Bom dia filho - Minha mãe se levantou e parou ao meu lado, segurando meus ombros - Esse é Jordan Makenzie... bem, seu "guarda-costas", já que seu pai insiste em chamar assim.
Posso dizer que eu estava literalmente encarando o cara, ele era muito estranho, muito mesmo.
Ele não era tão alto, usava boné e roupas um tanto largas, me lembrava até o David da época que queria tentar ser descolado, ainda lembro como ele sofreu bullying.
Eu me aproximei um pouco e estendi a mão, e ele levantou a cabeça. Usava um óculos... enorme, e tinha a barba por fazer. Ótimo pais, basicamente um Zé ninguém para cuidar de mim? To bem feito na vida.
- Prazer... sou o Taylor, mais isso você já deve saber...- Para que ser gente boa? Quando ele ver nas encrencas que eu me meto vai pedir demissão rapidinho, só tenho que aguardar.
- M-Makenzie... Jordan Makenzie...
Isso ainda é efeito da puberdade? Ou a voz da pessoa é estranha mesma? To vendo que é minha vez de sofrer bullying.
- Bem filho... o Jordan, conseguiu uma vaga no Robert Walpole, no mesmo que você...- Minha mãe dizia calmamente, e em nenhum momento saiu do meu lado.
- Sendo assim, você não vai aprontar mais nada. Ponto final.
- Bom dia para o Senhor também... - o encarei, meu deus...como eu estou para arrumar encrenca - "papai".
- Bom... olha a hora, meu deus - Minha disse encarando o celular - vamos indo, precisa de carona Filho?
- Não... eu vou andando mesmo...
Ela me puxou para um abraço, e logo após me deu um beijo.
- Nós vemos logo filho... você vai ver. Já levaram suas coisas, até mais Jordan... cuide do meu garoto.
Ela pegou a chaves, a bolsa e saiu, deixando a porta aberta para meu pai que saiu logo depois, sem dizer nada.
Eu estava encarando a porta, quando Jordan tossiu. Virei-me para ele e mostrei meu melhor sorriso falso que podia.
- Pode ir agora... eles não vão ficar sabendo...- Dei uma piscadinha para ele, e voltei na cozinha. Fui até a fruteira e peguei uma maça, voltei para a sala e peguei uma última bolsa, estava saindo quando o notei vindo atrás de mim.
- Pode ter certeza Senhor Caniff, eu vou te acompanhar... - Eu comecei a rir, talvez porque ele tentou soar sério, mais a voz estranha entregou tudo, só sai andando comendo minha maça.
Não falei nada no caminho inteiro, primeiramente porque estava um tanto frio, e o vento gelado batia no meu rosto e segundo... porque eu não queria mesmo. Ele tentou puxar assunto, mais eu cortava ou fingia não ouvir.

The BodyguardOnde histórias criam vida. Descubra agora