Aquela garota já estava me encarando a mais de quinze minutos e isso começava a me incomodar. Tentei ignorá-la e aproveitar a festa, afinal essa era a primeira festa universitária que eu participava – e espero que a última. Esse tipo de festa não é a qual eu estava acostumado na época do colegial, uma prova disso era essa garota que insistia em me encarar sem pudor algum.
Não vou negar que achei ela bonita, muito bonita, mas ela nem tentava disfarçar que estava me encarando, até Diogo, meu amigo, percebeu.
- Cara, aquela mina tá te encarando. Ela deve ser doida ou deve tá se perguntando como pode existir alguém tão feio assim. - Diogo deu um tapa no meu braço enquanto ria da própria piada.
- Vai se ferrar. - falei com um meio sorriso que escondia meu desconforto.
Eu sabia que era bonito e que chamava a atenção das garotas. Não estou sendo convencido nem nada, só não sou dado a falsa modéstia. No entanto, meu amigo Diogo era o que as mulheres nomeavam de deus grego, ele tinha um porte atlético (era de se esperar já que quando não estava suando na academia, estava suando no campo de futebol), cabelo castanho claro e olhos verdes. Então quando eu estava ao seu lado, ele chamava mais atenção e eu quase ficava invisível, por isso essa garota me encarar por tanto tempo estava me incomodando.
A garota não parava de me olhar. Quando me cansei desse joguinho dei as costas a ela e comecei a conversar com o Luiz, irmão do Diogo.
- Véi, aquela mina que tava te secando tá vindo pra cá. – Diogo falou sorrindo.
Meu corpo ficou tenso. Por que eu fiquei tão nervoso? Ela nem era tão bonita assim. Tá, talvez fosse, porém o comportamento dela quase não me deixava reparar na sua beleza.
- Oi, licença.
Virei em direção a voz, tive que abaixar um pouco a cabeça para fitá-la nos olhos. Reparei que seus olhos eram tão escuros que pareciam serem negros e havia algo neles que eu não conseguia me decidir se era encantador ou estranho. Pareciam dois buracos no meio daquele rosto moreno claro, dois buracos profundos que eu senti que poderia me perder se me deixasse cair neles.
- Oi. - forcei um sorriso.
- Gostei de você. Quero te beijar. - ela falou assim, como se não fosse nem um pouco fora do normal.
- O que? - perguntei rindo, achando que era uma brincadeira.
- Gostei de você. Quero te beijar. - ela repetiu pausadamente como se estivesse explicando algo muito complexo para uma criança.
Meu sorriso sumiu. Olhei para meus amigos do meu lado e Diogo encarava a garota com uma expressão de incredulidade quase patética, dava até para ver escrito na testa dele a frase: "Você é louca."
- Desculpe - olhei novamente para a garota, tentando organizar meus pensamentos. - Mas não é bem assim que as coisas funcionam.
- Por que não? - seus olhos negros eram puxados no canto e a expressão que ela fez ao me encarar os deixou mais puxados. - Estamos numa festa. Beijar outras pessoas é normal.
- Sim. Mas primeiro rola um papo...
- Não quero conversar com você, quero te bei-jar. - ela separou as sílabas da última palavra.
- Você é bonita, mas acho melhor não.
- Tudo bem. - ela deu de ombros e começou a se afastar.
Encarei suas costas enquanto ela abria caminho com facilidade no meio dos corpos dançando. Não sei o que deu em mim para ir atrás dela, talvez foi o modo como ela disse que queria me beijar do nada ou o modo como ela aceitou minha recusa sem protestar, não sei. Só sei que quando dei por mim eu já estava com a mão em seu ombro direito e a virava para ficarmos cara a cara.
- Espera, você aceitou de boa. Simples assim?
Ela sorriu lentamente, no começo meio tímido, depois de forma estonteante. Colocou uma mecha do cabelo vermelho cereja atrás da orelha pequena.
- A vida é simples. Não temos tempo a perder. Se você quer algo diga e se não quer diga também. Mas lembre-se que algumas coisas não depende só de você, então quando não conseguir o que quer, aceite. Por que precisamos complicar tudo?
Então ela foi embora, me deixando parado no meio da pista de dança, pensando no que ela disse. Fiquei tão mergulhado em meus pensamentos que nem percebi Diogo se aproximando de mim.
- Cara, aquela mina era doida... Mas era gostosa.
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Apenas Viva [Degustação]
Roman d'amourGabriel sempre teve tudo, no entanto ele sentia que faltava algo, e por mais que tentasse se convencer de que era apenas o tédio da rotina, aquela sensação incomodante não passava. Após entrar em uma das melhores faculdade da cidade, num curso que e...