Capítulo VI

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(Música: The child in us, Sygn.)


Ao atravessar a porta de entrada daquela casa mágica, Beatriz sentiu-se deslocada. O som dos sinos de vento não combinava com uma de suas mais prementes necessidades naquele momento. Virando-se na direção de Tarmon, ela disse, bastante ressabiada:

— Se você não se importa, eu... preciso tomar um banho...

Ele olhou para ela com uma expressão curiosa e riu.

— Claro. Pode subir, seu quarto a espera. O banheiro idem. — Virando um pouco a cabeça e rindo abertamente, ele continuou: — A boca de Luxor é um local seguro, mas eu entendo o seu problema, Beatriz. Aliás, entendo e posso até mesmo sentir...

Ela pensou em dar uma resposta à altura, mas desistiu. Seria uma bobagem! Até porque ele dizia a verdade, ela também podia sentir em si mesma o resultado do seu passeio inicial ao chegar novamente a Santkmiin.

Sem dizer mais nada, ela rapidamente subiu as escadas e encontrou-se de novo no quarto que ele dizia ser dela e que mais que nunca lhe pareceu um refúgio seguro e confortável. Logo depois, ao sentir a água caindo sobre seu corpo, não pôde impedir-se de respirar longamente. Era impressionante e até mesmo um pouco assustador o quanto ela se sentia bem, completamente satisfeita e até mesmo feliz naquele lugar. Qual seria o significado de tudo aquilo?

Ao descer algum tempo depois e descobrir que ele havia preparado, ou mandado preparar, um banquete ainda mais régio do que os anteriores, ela sentiu-se ligeiramente culpada por antecipação. Algo em seu íntimo lhe dizia que aquela nova visita lhe traria surpresas desconcertantes.

Porém, a fome começava a incomodá-la um pouco e ela logo encontrou um meio de não pensar em nada. Começou a servir-se, enquanto ele a observava com ar divertido.

— Acho que exagerei — ela disse algum tempo depois, acabando de engolir mais um pedaço de pão com mel, completamente deliciada e espantada consigo mesma. Ao comer, quase se esquecera do motivo que a levara de novo até ali. — Obrigada, Tarmon, mais uma vez.

Sentado diante dela, ele a observava, completamente encantado e imaginando como seria bom ter Beatriz ao seu lado por toda a eternidade. Juntos, eles poderiam fazer muitas coisas valiosas.

— Não me agradeça. Você merece tudo isso e fico contente que aprecie de verdade o que temos aqui.

Santkmiin é muito especial — ela disse.

— É verdade. — Ele sorriu de repente e inclinou um pouco a cabeça. — Você tem visitas, Beatriz.

— Visitas, eu? Como assim? — De repente, ela pensou entender o que ele dizia e sorriu. — É Bailarina? E Cometa?

— Vamos até lá — ele respondeu, levantando-se e exibindo um ar de satisfação.

Imediatamente ela se ergueu e dirigiu-se à sala, debruçando-se na janela. Lá fora realmente estavam Bailarina e Cometa, relinchando levemente, como que a cumprimentá-la. Sem pensar duas vezes, Beatriz abriu a porta, atravessou a varanda e lançou-se ao pescoço de Bailarina, sentindo-se como que de volta ao lar e reencontrando uma grande amiga.

— Bailarina, que saudade de você! — Ela ria, como se tivesse recebido o melhor dos presentes.

A égua abaixou a cabeça para receber o afago, relinchando com suavidade. Parecia compreender tudo. Ao seu lado, Cometa se movia com cuidado, também ele querendo ser cumprimentado. Beatriz percebeu e era como se os três falassem a mesma língua. Ela estendeu a mão e o acariciou com gentileza. Ele balançou a cabeça, concordando.

Prometidos - Para a vida e para a morte (livro 3 - parte 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora