Galaxe

Primeiros Erros

Já não bastasse as cinco horas diárias que eu era obrigada a passar na escola, ainda teria Educação Física no turno contrário. Ótimo. Acordar cedo já era horrível, acordar cedo pra ter aula de Educação Física era o fim. Mas era recém a primeira aula e eu com certeza iria, pelo menos pra ver se teria um professor que valesse a pena tal esforço.

Depois de desligar o despertador pela quarta vez, me arrastei até o banheiro e tomei um banho, coloquei o uniforme, peguei meus fones de ouvido e sai a caminho da escola.

Apesar do dia estar amanhecendo, o clima era agradável para caminhadas no mês de Abril. O tempo de três musicas e eu estava na escola. Segui direto pra quadra, notei logo que minha turma estava lá, porém havia muitas outras pessoas também.

O professor chegou, se apresentou e deu os avisos. As aulas de Educação Física eram com turmas mistas, o que explicava o excesso de alunos na quadra. Formamos um círculo e ele começou a chamada, a cada nome ele queria uma mini apresentação, nome, idade, de que escola veio e um alongamento para que todos acompanhassem. Eu seguia os alongamentos, embora nem ouvisse as apresentações.

Na primeira pausa, fui caminhando até o bebedor tomar água, não via a hora de abrirem as portas pra mim poder ir para casa. Recém tinha começado e eu não via a hora de terminar. Pelo menos era só uma vez por semana.

– Belas pernas. - Um menino alto e magro fala e apesar dele me avaliar de cima a baixo cheguei a pensar que fosse só um comentário inocente.

Quando sai do bebedor fui em direção ao grupo das meninas da minha turma que estava falando das aulas que teríamos mais tarde. Fiquei observando o garoto bonito que havia comentado das minhas pernas. Não demorou pra minha colega perceber e vir pra cima de mim, com comentários de "ele não é o seu tipo". Ela provavelmente estava certa.

Voltei pra aula e fiz os exercícios que o professor estava pedindo, graças aos meus fones de ouvido a aula não estava tão ruim. Depois ele liberou o último período e eu vi que os guris já tinham tomado conta da quadra pra jogar bola. Fui pra sala de jogos, conversar e ficar no celular. Lá dentro tinham poucas pessoas, então vi logo de cara a minha colega conversando com o menino bonito, não demorou pra eles me verem também, então dei meia volta e sentei nos bancos perto da quadra. Evitando pensar no que eles poderiam estar conversando.

– Fugindo de alguém? - Aquele cara de novo, pergunta sentando do meu lado.

– Eu deveria? - Ele ri da minha pergunta.

– Talvez, não vai me dizer o teu nome? - Ele esperou uma resposta.

– Não. - Ele ergueu as sobrancelhas e eu segurei a risada.

– Espera, tu é nova na escola né? - Ele riu e eu fiquei sem graça. O que ele tava pensando?

– Entrei esse ano, por quê? - Respondi sem pensar.

– Nunca ouviu falar de mim? - Ele parecia estar se divertindo e ao mesmo tempo um pouco desconfiado.

– Eu deveria? - Eu ergui as sobrancelhas e ele riu.

– Vem comigo. - Ele já estava me puxando pelo braço, sem esperar minha resposta. Eu deveria? Estava dividida, não deveria ir porque era cometer os mesmos erros novamente e eu certamente não queria isso, mas minha curiosidade já estava com trilhões de perguntas pra ele.

Ele me levou pras mesinhas do fundo da escola, sentou do meu lado e ao contrario do que eu esperava quem fazia as perguntas era ele mesmo. E eu não me sentia incomodada em responder.

– Qual turma tu tá?

– Naquela que deveria estar na quadra fazendo Educação Física. E tu? - Ele riu e não parecia se sentir culpado.

– Ficar sentada, mexendo no celular não é fazer aula. - Ele rebateu

– Pelo menos eu ganho presença. - Me defendi.

– Já tem presença, não tem com o que se preocupar.

– Certo, e o que estamos fazendo aqui? - Eu estava nervosa, mas feliz de não estar mais na quadra.

– Estou conhecendo a menina que me falaram que não faz meu tipo. - Ri do fato de ter ouvido o mesmo sobre ele antes, não acredito que ela tinha feito isso.

– Era o que vocês estavam conversando lá dentro? - Acho que minha decepção ficou visível.  

– Sim, posso não saber seu nome, mas já ouvi algumas coisas sobre ti. - Ele juntou as mãos e se jogou pra trás, como se fosse grandes informações.

– O que ela falou? - Por que eu queria saber? O certo não deveria perguntar pra ela? Tarde demais.

– Bom, eu fui perguntar teu nome porque te vi com ela antes. Mas ela não me disse. - Ele riu. - Pensando bem, será que não é aqueles nomes loucos tipo Juvenalda, Aricléia ou Edinalva.

– O que ela falou? - Eu estava rindo dos nomes, mas precisava saber.

– Ela falou pra não perder meu tempo, que eu não era seu tipo. - Ele riu e eu esperei ele continuar. Mas ele ficou parado me olhando.

– Só isso? Eu não sou seu tipo? - Insisti, depois notei que podia estar sendo chata.

– Não só isso, eu perguntei por que e ela me falou que tu era do tipo estudiosa, que não curte sair de casa e eu não lembro mais, porque decidi perguntar eu mesmo. - Ele deu de ombros.

– Gaby. Me chama de Gaby. 

– Só isso? Nunca demorei tanto pra saber o nome de alguém. - Ele parecia decepcionado.

Notei os alunos caminhando longe e algumas pessoas chegando nas mesinhas, era recreio. Perdi totalmente a hora.

– Preciso ir, minha colega vai me procurar pra ir com ela pra casa e vai estar emburrada de tarde se não me encontrar. - Falo me levantando e me limpando enquanto espero por ele.

– Espera aí, fica. - Ele pegou meu pulso. - Eu te deixo em casa mais tarde se tu quiser, sério.

Mas que belo dia ein? Já começo fazendo cagada e não paro mais. Me sentei de novo. Alguns erros são divertidos demais para serem cometidos só uma vez.

– Vai ficar? - Ele parecia surpreso.

– É só hoje, não tem mais o que fazer mesmo. - Dei de ombros e ele sorriu.

Nós passamos o resto da manhã inteira lá mesmo, e pro almoço pedimos um xis no bar e voltamos. Estava completamente divertido. Mas quando estava a caminho de casa me lembrei que esqueci de perguntar o nome dele.

Notas finais do capítulo

Então, tentei escrever mais porque o primeiro capítulo foi pequeno e tentei detalhar mais, pra não ficar só no dialogo como me pediram também. Espero que gostem. E sim, eu realmente achei que fosse um comentário inocente (depois de conhecer ele, descubro que não tem nada de inocente sobre as coisas que ele fala).