O jantar foi mais que agradável. Deram boas risadas e conversaram sobre diversos assuntos; Menos sobre Steven, eles sabiam que esse era um assunto proibido.
No fim da noite, Robert e Valentina a deixaram em casa. Sua mãe se despediu em meio a lágrimas, era sempre assim nas despedidas.
— É hora de perdoar minha linda princesa, volte para casa. - Sussurrou Valentina em seu ouvido.
— Estou em casa mãe. - Elis a abraçou forte sentindo um aperto no coração. — Eu te amo muito! – Disse com os olhos marejados.
— Também te amo princesinha! Elis não conteve as lágrimas. Por mais que ela não gostasse que sua mãe lhe chamasse assim, era muito bom se sentir amada, ter alguém que a amava incondicionalmente, que não a fazia sofrer. Ela não sabia por que, mas essa despedida estava diferente das outras. Era certo que elas sempre choravam nas despedidas, mas esse aperto no coração, essa angústia não estava lá das outras vezes. Robert lhe deu um abraço apertado e reforçou o que sua mãe acabara de falar:
— Abra seu coração minha querida e você verá que toda essa dor, essa mágoa vão sumir. Ela ficou imóvel olhando para ele sem nada falar. Sua garganta estava fechada, uma dor insuportável no peito. Era sempre assim quando ela se permitia pensar nele, lembrar tudo que ele fez. Eles esperaram Elis entrar no prédio e foram embora. Entrando no elevador começou a pensar no que sua mãe e Robert tinham lhe falado. "Será que eles estão certos?" "Será que eu devo perdoar?". Lembrou aquela maldita noite a dez anos atrás. Elis estava louca pra chegar em casa, não via a hora de ver Steven de novo. Ninguém sabia que ela estava voltando naquele fim de semana, pois, com as avaliações finais do seu curso, ela não era esperada tão cedo. Mas a saudade era tanta que ela deu um jeito de ir visitar sua família. Sua mãe e Robert não estariam em casa, mas só ficou sabendo disso quando já estava com tudo preparado para ir pra casa. Esse pensamento a animou, afinal ela e Steven teriam a casa só pra eles por todo final de semana. Chegando em casa, pagou o taxi e assim que entrou, percebeu o vazio, estava tudo muito silencioso.
Subiu para o seu quarto para deixar sua mala. A vontade era sair imediatamente à procura de Steven, mas se obrigou a tomar um banho antes.
Quando estava terminado de se vestir ouviu vozes no corredor. Parou por alguns instantes até reconhecer a voz de Steven, mas para sua surpresa ele não estava sozinho, Ivy estava com ele. Tudo bem que eram amigos e frequentavam a casa um do outro, "Mas o que ela estava fazendo ali tão tarde?" – Pensou.
O que ela ouviu a seguir partiu tanto o seu coração, que ela sabia que nunca mais teria concerto. A dor que eles estavam lhe causando era tão grande, tão forte, que ela se sentiu sufocar.
***
O bip do elevador avisando-a que chegara ao seu andar lhe tirou do transe e ela afastou os pensamentos que teimavam em lhe atormentar. Entrou depressa no apartamento, pois não queria pensar em nada, não queria pensar nele.
Abriu um vinho, foi para o quarto e ligou o som. Música e vinho sempre a ajudava a relaxar e desviar o pensamento de coisas que ela não gostava de lembrar. Colocou uma camiseta folgada, e começou a tirar maquiagem, quando já estava terminando, seu telefone tocou e ela atendeu sorrindo. Anatoli sempre ligava esse horário; eles conversaram mais de uma hora. Quando terminou a ligação ela se sentiu bem melhor e foi trabalhar no projeto que estava desenvolvendo. Mas não estava funcionando, os algarítimos estavam dançando na tela do computador. Depois de uma hora e duas garrafas de vinho, ela percebeu que tinha bebido demais. Resolveu então desligar o computador e ir pra cama.
No momento em que ela colocou a cabeça no travesseiro, tudo voltou com força total. Tudo que se passou naquela fatídica noite estava voltando para assombrar e machucar seu coração já tão ferido, tão despedaçado. Ela ainda ouvia claramente Ivy e Steven conversando nitidamente em sua cabeça.
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Elis ficou escutando quando eles passaram em frente à porta do seu quarto.
— Steven você tem que decidir o que você quer, com quem você quer ficar. Você não pode ficar me enrolando dessa maneira - Falou Ivy com sua voz irritante. O engraçado é que até aquele momento, Elis não achava a voz dela tão feia.
— Você sabe que Elis não é mulher pra você. Ela é praticamente uma criança. – insistiu.
Elis estava em estado de choque. Como alguém que considerava sua melhor amiga, falava dela daquela forma?
Assim que eles entraram no quarto de Steven ela saiu do próprio quarto silenciosamente e foi atrás deles. A intenção era surpreende-los, mas assim que ela chegou perto da porta, que eles nem se deram o trabalho de fechar, ela percebeu que a conversa dos dois ainda não havia terminado.
— Steven eu te amo, e quero ficar com você sem ter que me esconder de ninguém. – Insistiu Ivy.
— Você não pensa no que Elis vai sentir quando souber sobre nós dois? – Ele respondeu.
— E o que eu sinto, alguém se importa? - Disse já alterando a voz.
— Ivy é complicado... Eu não posso simplesmente terminar com a Elis como se ela não significasse nada na minha vida. – Insistia com a voz angustiada. — Ela significa muito pra mim. Entre nós é que não era pra ter acontecido. Eu me sinto sujo por ter feito isso com ela, mas agora e tarde pra voltar atrás. Vou assumir as consequências de tudo que tudo isso resultou.
— Mas você não a ama! – Ivy falou chorando
Apesar do enorme desespero que Elis sentia naquele momento, vendo o seu mundo desabar, notou que Ivy também estava ficando desesperada. E quando ela pensou que não poderia ficar pior, Steven começou a falar baixinho:
_ Eu não sei o que sinto. Está tudo confuso na minha cabeça e no meu coração. Eu sei que ela nunca vai nos perdoar pelo que fizemos. Esse filho não era pra ter acontecido agora, não dessa forma.
— Eu não quero o perdão dela. Eu só quero você meu amor... Só você e o nosso filho importam pra mim. – Ela gritou se jogando sobre Steven e beijando seu pescoço.
Um filho? Meu Deus, Ivy esta grávida? Elis ouvia tudo com a mão na boca, sufocando a ânsia de vômito que ela sentia no momento. Seus olhos e seus ouvidos custaram a crer na cena bizarra que se desenrolava diante de si. Mas se obrigou a sufocar todos os gritos que queria dar naquele momento. Ela sabia que estava sendo masoquista em ficar ali ouvindo os dois destruírem suas ilusões de amor e carinho. Lágrimas rolavam pelo seu rosto nublando sua visão. Chorava pelo amor perdido, pela amizade que ela achou que fosse verdadeira, por tudo que ela e Steven viveram e que agora ela entendia que não passava de uma mentira.
— Vamos parar de falar da Elis, vem cá deixa eu te beijar. - Falou Ivy, segurando Steven pela nuca beijando a boca dele. As carícias foram ficando mais ousadas e eles terminaram nus na cama.
Elis não conseguia sair do lugar. Suas pernas não obedeciam ao comando do seu cérebro que pedia que ela saísse dali para não ver o que ela sabia que ia acontecer. Viu e ouviu tudo. Seus gemidos, seus corpos enroscados, conectados, as palavras que eles falavam. Não sabia se tinha passado minutos ou horas. Ela despertou do transe quando escutou Steven perguntando se Ivy queria comer alguma coisa.
Elis voltou silenciosamente para seu quarto. Fechou a porta, apagou a luz e se jogou na cama, sufocando seu choro desesperado no travesseiro.
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Coração Ferido
RomanceSINOPSE: Steven e Elis são irmãos de criação eles se gostam desde que se viram pela primeira vez, pelo menos ela pensou que Steven gostasse dela, mas em seu aniversário de 18 anos ele faz algo que quebrou o seu coração. Ir embora sem olh...