Capítulo 1- Infância.

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Nós morávamos em uma casa no campo, tínhamos uma vida feliz.

Papai trabalhava em uma pequena fábrica da cidade e mamãe fazia pequenos consertos em roupas das vizinhas.

Nossa casa não era a melhor do bairro, mas também não era a pior, e eu era grata por isso.
Morávamos todos juntos, papai, mamãe, eu e Levy, meu irmãozinho.

Íamos a missa todo domingo, para agradecer a Deus por nossa vida simples, mas feliz. Papai sempre foi um homem de muita fé e sempre me ensinou que o segredo para a vida eterna, era ter fé no Altíssimo. Eu acreditava nisso, e rezava todos os dias antes de dormir.

Aos finais de semana, ou quando estávamos de férias, íamos para ao rancho da família. Lá era meu lugar preferido, lugar onde vivi muitas aventuras com meu melhor amigo, Enzo.
Ele morava com sua família em um sítio próximo ao rancho, e tinha a mesma idade que eu.

Em uma certa vez, quando tinhamos onze anos, decidimos ir até a grande árvore fazer um piquenique.

Foi o melhor dia da minha vida, estávamos vestidos muito bem, parecia que íamos ao shopping, porém, iríamos apenas passar a tarde comendo lanches em baixo de uma magnifica árvore.

Estendemos a toalha e abrimos nossas cestas, dava para perceber que nossas mães haviam caprichado.

- Leiry, agora que estamos aqui, tenho que te dar uma coisa.- disse meu amigo, com a boca cheia de bolo.

- O quê ?

Ele mandou eu fechar os olhos e foi o que eu fiz, esperei um momento e logo pude sentir borboletas na barriga, Enzo não tinha um presente material, mas os melhor que eu já ganhei, um beijo.

Fiquei totalmente com vergonha, não sabia se fugia, ou se retribuía o beijo.
Só sei que quando ele terminou eu o abracei, não sei o porque, mas só sei queria estar em seus braços para sempre.

- Desculpe...- disse Enzo com as bochechas rosadas- E.. eu não queria fazer isso.

- Tudo bem, acho que eu gostei.

Passamos o resto da tarde com vergonha, comendo, trocando olhares e risadinhas.

Quando estava anoitencendo, Enzo me levou até em casa, sorrindo em cada vez que eu o olhava.

- Antes de você entrar, quero que me prometa uma coisa- Enzo proferiu

- O que você quiser.... Eu acho.

- Promete que vai ser sempre minha amiga, que vai estar sempre do meu lado e que vai sempre se sentir segura comigo?

- Ah, amigo, claro que prometo. Você é meu melhor amigo e sempre vai estar perto de mim.

- Então, me de seu dedinho.- ele disse isso erguendo seu dedo mindinho, fiz o mesmo.

- Agora temos uma promessa.

Ele meu deu outro beijo, mas dessa vez ele não ficou, saiu correndo em direção a sua casa.

Esse foi um dos momentos mais especias da minha vida.

Estava tudo ocorrendo bem, papai trabalhava, mamãe cuidava de Levy e eu tinha uma ótima vida.

Mas, como nada pode ser perfeito para sempre, nossa vida mudou drasticamente. Papai foi transferido para a Capital e tinha que nos levar junto.
No começo, ele rejeitou, porém, seus chefes disseram que se ele não aceitasse a proposta, perderia o emprego.

- Queridos, se vocês não quiserem ir, é só avisar, papai pode conseguir outro emprego.- papai disse no jantar.

- Querido, tudo bem, nós entendemos, será doloroso, mas vai passar.

- É papa, vai tcher legal na casa nova.

Eu não queria ir, mas não podia magoar meu pai, então apenas fiquei calada.

Os dias se passaram e nós estávamos fazendo as mudanças. Antes de irmos, passaríamos no rancho para se despedir do pessoal.

Olhei pela última vez ao meu quarto, aquela tinta desbotando, aquelas marcas na parede, tudo tinha um significado para mim, até mesmo as marcas dos arranhões da Lolly na parede.

Uma lágrima escorreu do meu olho esquerdo, sentiria muito a falta desse lugar.

Peguei minhas malas e desci as escadas, resolvi não olhar para trás, não queria sofrer.
Todos lá embaixo choravam, até mesmo papai.

Resolvemos ser rápidos, tiramos uma foto na faxada da casa e fomos para o rancho.

Enzo, seria duro me despedir dele, passei 12 anos da minha vida com aquele menino... Nós rimos juntos, choramos juntos, passamos vergonhas juntos e ,agora, vamos nos despedir juntos.

Queria nunca mais sair daquele carro, não podia suportar a cara do meu anjo quando eu fosse embora.

Para a despida, fizemos um piquenique no riacho, foram papai, mamãe, Levy, Enzo e sua família.

- Tenho que te entregar uma coisa. - disse Enzo a mim.

- Pode falar, amigo- Nunca o chamei de amor, com medo da resposta..

- Isso será prova da nossa amizade- proferiu, me entregando um colar.- Enquanto você estiver com ele, eu estarei com você.

Tentei conter as lágrimas, mas não consegui, peguei com cuidado o presente de meu amigo.

- É lindo, Enzo... Faz as honras?

Segurei meu cabelo ao lado e deixei meu moreno colocar meu colar.

- Desculpe por ter comprado algo simples, custou toda minha mesada.

- Você já é meu presente, por mim, eu te levava junto.

- Com você, eu ia até o infinito- dizendo isso, Enzo pegou meus cabelos e encostou sua testa na minha, sua respiração era calma e tranquilizante, queria poder ficar ali para sempre.

Então as borboletas na barriga voltaram, e eu sentia que ele era meu, e eu era dele.
A sensação era tão boa, que eu me esqueci que estávamos indo embora, só lembrava do quanto eu o amava.
Antes mesmo de terminamos, ouvi minha mãe nos chamando, apressados, levantamos e fomos na direção dela, como se nada tivesse acontecido. Maldita hora para minha mãe me chamar.

Ela iria sair, me deixando cuidando do pequeno Levy.
Fomos até o lago, Levy estava sem bóias, então tivemos que nos revezar para cuidar do pequeno.

Tudo estava tranquilo, Enzo foi buscar as toalhas e eu estava brincando de patinho com meu irmão... Como ele tinha apenas cinco anos, não podia deixa-lo a sós.

- Tata, ensina eu a nadar?- disse meu bebê

- Ah, você ainda é pequeno.. Pode se machucar.

- Tudo bem, sou forte que nem um herói. Vai, vai, me ensina.

- Ta bom, mais só uma vez.

Fomos para um lugar um pouco mais raso para começar a aula.

- Olha, você tem que bater os pés e as mãos, vindo na minha direção. OK?

- Okay.

E foi o que eu fiz, Levy fez o exercício certinho, então resolvi ir um pouco mais no fundo.

- Agora você vem mais rápido, príncipe da tata.

Me arrependo disso.

Me distraí com a chegada de vacas na borda do rio, deixando meu irmão longe.
A correnteza estava forte e ele foi levado o fundo.

Foram os piores minutos da minha vida.

Eu nadei atrás dele, mas quanto mais eu tentava, mais longe ele ficava.
Meu pequeno gritava e afundava, ele tentou bater os pés, mas foi tarde demais.

Ainda me lembro dos gritos dele, tentei de tudo, mas eu só sabia chorar ao ver o corpo do meu irmão afundando.

Enzo chegou em seguida e viu toda a cena, ele gritou ajuda, e meus pais chegaram correndo.
Deu para ver nos olhos de cada um que eles já sabiam o que tinha acontecido.

Papai jogou o celular longe e pulou na água..

O mundo girou ao meu redor, e eu só lembrava de sair do rio arrastada pela minha mãe.

Por que eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora