Eu tinha todos os dias a certeza de que sim, havia um inferno na terra.
Quando eu me inscrevi foi apenas para cumprir uma lei de que aos 18 anos todo rapaz tem que ter treinamento militar. Eu sempre fui franzino, então, achei mesmo que seria dispensado.
Porém, isso não aconteceu. Foi bem na época do 11 de Setembro. Fui mandando para o Iraque.
Eu me sentia perdido. Muitos jovens como eu foram jogados no meio do fogo com o mínimo de treinamento para nos manter vivos até que uma nova remessa de soldados mais especializados chegassem.
Tudo estava confuso. Eu dava sorte de ser bom com a mira, mas, muitos dos meus "irmãos de armas" não tinham a mesma sorte. Enterramos muitos e outros nem ao menos pudemos fazer isso. Eles ficaram pelo caminho e conosco ficou o remorso.
Os anos foram passando. Rápido demais para o meu gosto. Logo eu era o mais novo major do comando beta do Exército Americano em solo iraquiano. Eu tinha 22 anos e já tinha a responsabilidade de um comando nas minhas costas. Tinha que cuidar de tudo com todo cuidado. Era responsável pelas estratégias. Traduzindo... Se um dos meus morresse eu era automaticamente responsabilizado. Afinal fui eu quem o coloquei naquela linha de batalha.
Eu vi muita coisa ali. Tanto de patriotismo como de traição. Muitos homens tentavam barganhar não porque queriam ser considerados traidores, mas, porque eles não queriam morrer. O problema é que eles sempre morriam.
Eu levei dois tiros. Fiquei mal por quase quatro meses, mas, acabei voltando. Não tinha minha dispensa já que sobrevivi e ainda mais saudável do que já estive.
Neste ano, aos 24 anos, cheguei a patente de Capitão. Algo que jamais viram e que adoraram. Então, fiquei comandando as tropas em solo iraquiano.
Eu ligava para meus pais e meus irmãos sempre que eu podia. Fiquei orgulhoso quando Emmett, que tinha 16 anos na época em que entrei no exército, disse que ia se casar. Alice, a pequena fadinha estava namorando mesmo tendo apenas 17 anos. Ao menos era alguém que eu conhecia.
Cheguei aos meus 28 anos e foi então que fui dispensado. Agora eu tinha uma perna manca e não servia para as missões.
Cheguei em casa e meus pais me receberam com todo amor. Meus irmãos queriam estar o tempo todo comigo.
Mas, eu não era mais o mesmo.
Eu queria me manter afastado.
Primeiro: Eu não conseguia dormir. Sempre que fechava meus olhos via as mesmas imagens angustiantes.
Segundo: Eu havia perdido o jeito social. Não queria conversar e nem via necessidade.
Terceiro: Eu preferia ficar sozinho. Passei dez anos da minha vida tendo que estar 24 horas por dia com pessoas ao meu lado.
Meus pais ficavam agoniados. Eles queriam apenas comemorar com todos a minha volta para casa, mas, eu não me via na obrigação de ver ou falar com ninguém.
E foi pensando nisso que eu comprei uma casa perto das montanhas. Meus pais e Alice foram totalmente contra. Mas, Emmett me apoiou e procurou uma casa para mim. Era um chalé na montanha.
Me mudei sem nem pensar. Emmett cuidava das compras para casa e pagar as contas.
Eu ficava lendo, assistindo TV e tentando dormir. Eu até conseguia dormir um pouco, mas, sempre acordava aos berros. Era sempre a mesma imagem. A refém que resgatamos morrendo na minha frente quando fomos apanhados de surpresa bem perto da base americana no Iraque.
Ela estava grávida. Primeiro cortaram sua barriga de forma grosseira matando a criança e depois atiraram na cabeça dela. O sangue esguichou sobre mim.
Eles me encapuzaram e depois de uma hora de carro me jogaram de qualquer jeito no chão.
Eu tinha uma perna seriamente machucada e não sabia onde estava. Andei por horas mesmo com dor e quase pulando do que andando. Cheguei a um povoado e um senhor me ajudou.
No hospital militar eu passei por uma cirurgia. Depois da alta fui dispensado. Para muitos isso seria uma afronta, para mim foi um extremo alívio.
-Mano a mamãe quer saber onde você está. -Emmett falou entrando em casa.
-Você disse?
-Não. Falei pra ela que você precisa de tempo. E se um psicólogo. Mas, você não me ouve.
-E no que isso mudaria? Emmett o que eu vi... Não adianta!
-Você não sabe! Nunca falou com um profissional. Olha, eu tenho uma indicação. Ela...
-Não. Eu prometo que vou pensar no caso.
-Ok. Ao menos isso. Paguei todas as contas e as compras estão na cozinha. Tenho que ir. Amanhã a Rosie vai fazer a ultrassonografia. Vamos saber se é menino ou menina.
-Me liga pra dizer, ok?
-Claro! -Ele me abraçou e saiu.
Passei a manhã cozinhando. Eu sempre fui bom nisso e agora o que eu mais tinha era tempo.
Estava olhando pela janela quando a vi. Ela corria desesperada. Dois homens atrás dela.
Sai de casa com minha arma e eles recuaram.
A menina caiu.
-SAIAM DA MINHA PROPRIEDADE! -Gritei e ela ergueu a cabeça para me olhar.
A ajudei ainda apontando a arma para eles. Os dois correram dali.
-Obrigada! -Ela chorava.
Joguei meu casaco sobre ela e a ajudei a entrar em casa.
A sentei no sofá e joguei uma manta sobre ela.
-O que aconteceu? -Perguntei.
-Eles... É complicado. Eu tinha 10 anos quando papai e mamãe morreram. James e Félix, meus irmãos adotivos, disseram que iriam cuidar de mim. E... Ontem eles disseram que eu já tinha 17. Que já estava em tempo de servir de mulher pra eles. Eu fugi. Corri até não aguentar mais e... Parei aqui.
Eles iriam abusar dela.
-Você tem que ir a polícia.
-Não adianta. O delegado sempre me quis também. Desculpe... Não quero incomodar.
-Não me incomoda. Qual seu nome?
-Isabella Swan. Mas, todos me chamam de Bella. E o seu?
-Edward Cullen.
-Eu... Vi algo sobre você na TV.
-Sei que sim. Bem, eu tenho algumas roupas da minha irmã aqui. Não sei porque meu irmão trouxe, mas, tenho pra mim que vão lhe servir. Pode tomar um banho e comer alguma coisa. Bella, eu vou ajudar você!
-Obrigada!
A deixei no quarto de hóspedes e fui para cozinha terminar o almoço.
Ela apareceu com um vestido de Alixe. Ok, ela era apenas uma menina, mas, sem dúvida, jamais vi alguém mais linda.
Bella e eu comemos num silêncio confortável. Depois disso ela insistiu em ajudar a lavar a louça.
-Tem certeza de que não tem problema eu ficar aqui, Edward? -Ela perguntou.
-Certeza absoluta. Agora, acho melhor você dormir.
Ela deitou no sofá mesmo e em pouco tempo adormeceu.
Tudo estava em silêncio...
E por algum motivo tudo estava em paz.
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My Healing
FanfictionEdward era um soldado com marcas profundas deixadas pela guerra. Uma delas era o fato dele não conseguir dormir. Cada vez que fechava os olhos ele via e quase sentia na pele os horrores das batalhas. Até que ela aparece... E tudo em sua vida muda.