Falling Apart

28K 1.7K 169
                                    

Ainda sem pensar direito, assim que o meu cérebro voltou a ter oxigênio, me afastei dele e bati em seu rosto.

— Você é doido?

Ele não ousou responder. Me levantei do sofá, peguei minhas coisas e fui embora. A gente morava muito próxima uma da outra então cheguei em casa em um minuto. Para dar noção a distância, eu conseguia ver sua sacada da minha janela.

∞∞

Na manhã seguinte, acordei com quase zero forças para me levantar, mas o cantarolado triste da minha mãe enquanto varria meu quarto me despertou.

— Bom dia, mãe. — Falo, o que faz ela abrir um sorriso.

— Oi, amor. Chegou tarde ontem. Com o Christian a noite toda?

— Não... — Simulo tirar meu próprio fôlego com o travesseiro, e ela percebeu que eu e o Christian era um assunto que eu preferia evitar. — Estava na casa da Susana.

Ela assentiu e se sentou na beira da minha cama.

— Mari, eu queria conversar com você sobre uma coisa...

Eu me sentei na cama para ouvir o que ela tinha a dizer, que então continuou:

— É sobre a sua vó. Ela está muito doente, filha. O seu tio acha que esses podem ser os últimos dias de vida dela.

A vovó sempre foi meu abrigo. Ela é tudo que me lembra o papai. Então antes mesmo de perceber, meus olhos já estavam cheios de lágrimas.

— O que ela tem? — Juntei forças para perguntar.

— Está sendo difícil reverter a anemia dela dessa vez. Ela já está bem velhinha então os médicos falaram que seria bom que todo mundo a apoiasse nesse momento difícil.

Meu pai faleceu de uma anemia falciforme que lutou por muitos meses. E hoje o mesmo motivo está levando a mãe dele embora. Eu tinha só 13 anos quando aconteceu.

— Nós achamos que seria bom para você visitá-los. E como seu tio está preocupado com o estado dela, você poderia aproveitar que amanhã é sexta e passar o fim de semana. Por causa do trabalho eu não posso ir, e não acho saudável para o Antônio, você se importa?

Fiz que não com a cabeça, e mamãe me envolveu num abraço apertado.

Depois de alguns minutos, tive de levantar-me para acordar Antônio para a escola.

— Acorde. Não quero chegar atrasada.

— Eu não quero ir, Mari. — Murmurou enrolado no lençol.

— Por que não?

— Porque estou dormindo!

Mas depois de muita bajulação, consegui fazer com que ele saísse da cama.

Mais tarde na rua, Lucas saía da casa de Susana no exato momento que nós, e infelizmente, ele viu isso como oportunidade de nos barrar.

— Oi. — Disse.

— Oi, — Respondi. — Como é que tá? — Falei, tentando soar tranquila.

— Bem, só vim te pedir desculpas por ontem, era para ser só uma brincadeira. — Falou, com as mãos no bolso.

Antônio analisava a situação com curiosidade.

— O que aconteceu? — Retrucou ele, curioso.

— Nada, irmãozinho. Só mais uma brincadeira de mal gosto e muito estúpida. — Ao dizer isso, segui em frente deixando Lucas para trás.

Depois da aula, e de deixar Antônio em casa, decido me sentar no meio fio da calçada afim de tentar digerir a história da vovó. Antônio só tinha 4 anos quando perdemos o papai. Esperto o suficiente para notar que alguma coisa estava faltando dentro de casa, no início ele chorou muito porque sentia sua falta, mas antes mesmo do aniversário de sua morte, ele já havia arrumado maneiras de suprir o vazio que o papai fizera. O invejei muito por isso durante muito tempo, invejei a sua memória fraca de bebê que o fez esquecer toda essa dor. Já eu sofri demais. A única coisa que me fez melhorar pelo menos um pouquinho de tudo que eu estava passando, foi a Susana, as nossas tardes juntas, a amizade que toda pré-adolescente precisa, eu não ficava muito tempo em casa e isso me ajudou a esquecer. Mas se a vovó se for, não acredito que alguém será capaz de me servir de remédio novamente.

Senti uma presença se aproximando e logo se sentando do meu lado no chão.

— Você está chorando? — Lucas perguntou.

Limpei as lágrimas com rapidez. Essa era uma fraqueza que eu não gostava de demonstrar.

— Está tudo bem. — Respondi com frieza.

— O que aconteceu? Você ficou ofendida com o beijo?

Eu soltei uma risada irônica. Lá vamos nós de novo com o universitário achando que é o centro do universo.

— Vai precisar de muito mais que um beijo para me deixar ofendida!

— É melhor não me dar ideias. — Eu sorri batendo nele com os ombros. — A Susana sentiu sua falta de manhã.

— O que têm entre vocês dois?

— A gente é amigo tem uns dois anos, desde que ela começou a faculdade, eu já fazia lá, acabou que a gente se deu bem.

— Eu reparei que ela não gostou muito quando a gente se conheceu. — Comentei, colocando meu cabelo para trás.

— É, mas aconteceu. E quer saber? Finalmente. Ela sempre me fala muito de você. — Lucas se levantou, deu uma piscadela e retornou a dizer: — Preciso ir.

Infelizmente, porque eu queria muito saber o que ela achava de tão interessante em mim para compartilhar com alguém. 

O melhor amigo da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora