Primeiro Capítulo

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Ames, Iowa, EUA

Ainda me lembro daqueles olhos vermelhos e o rosto molhado de lágrimas escorrendo sobre a pele marcada por sardas. O gosto da despedida estava no ar, e, apesar de tudo, eu não estava pronto para partir. Eu, que lhe prometera mil juras de amor eterno. Um garoto de 16 anos não entende o que é o amor, mas eu soube no momento em que a vi em prantos. Ela era o amor.

Sair de Iowa na primeira oportunidade foi difícil, mas, confesso, era algo que eu desejava há muito tempo. Com a imaturidade de quem sonha alto e quer ser plenamente realizado, não percebi que essa realização jamais seria completa. Deixei o amor da minha vida para trás, acreditando que seria apenas uma fase. Todos me diziam que paixões adolescentes não duram, e eu acreditei.

Agora, nove anos depois, sem vê-la, sem sentir o toque daqueles cabelos castanhos que caíam timidamente sobre seus olhos, me pego perguntando aos céus: o que aconteceu com Grace? Será que ela sente o mesmo que eu? Será que me culpa por ter partido?

Desembarquei no aeroporto de Ames, respirando fundo, como se fosse apenas mais um turista visitando uma cidade esquecida. Tudo aqui parece transformado. Na Flórida, havia o mar vasto e a vista deslumbrante; aqui, pequenos lagos. É tudo tão recente e, ao mesmo tempo, tão antigo para mim. Senti como se estivesse numa montanha-russa direto para o túnel do tempo. E, mais uma vez, tudo que me veio à mente foram os olhos de Grace. Aqueles olhos profundos, os cabelos ondulados caindo sobre os ombros... Ela era simplesmente linda.

Voltar a Iowa, agora a trabalho, foi uma desilusão. Passei anos me escondendo na Flórida, acreditando que tudo que vivi aqui um dia seria apagado. Mas, ao pisar neste lugar, encontrei o Steve de 16 anos novamente, com sonhos não realizados e o coração dividido.

Katherine interrompe meus pensamentos:

– Por que está tão quieto? – ela pergunta, desconfiada, com um olhar que quase atravessa minha alma.

Suspiro, passando a mão pela nuca:

– Só um pouco cansado, vamos continuar observando a paisagem.

Ela, claramente insatisfeita com minha resposta, insiste:

– Está confuso. O que está acontecendo?

Eu começo a balbuciar uma resposta:

– N-nada... – Mas as palavras não vêm. Era impossível explicar tudo o que estava sentindo naquele momento. Eu estava impaciente demais para estar triste, e triste demais para conseguir explicar. Era como estar em dois lugares ao mesmo tempo, sem saber como lidar com nenhum dos dois.

Katherine percebe minha hesitação e tenta mudar de assunto:

– Enviei currículos para algumas escolas aqui em Ames. Segunda-feira começam as entrevistas – disse, com um sorriso cheio de empolgação.

– Que bom, você foi rápida – respondo, forçando um sorriso. Ela não percebeu a inquietude em minha voz. Para ela, tudo parecia estar acontecendo rápido demais, mas para mim, era como se o tempo estivesse se arrastando.

Então, ela menciona algo que me deixou ainda mais desconfortável:

– Talvez devêssemos dar o próximo passo – disse, hesitante.

Eu, fingindo não entender, tento desviar:

– Está tudo acontecendo muito rápido, Kath... Vamos digerir essa bagunça primeiro.

Ela suspira, forçando um sorriso, e continua caminhando em silêncio. Senti-me aliviado por ela não ter insistido. Não era sarcasmo; simplesmente não consigo me ver casado com ela. Embora tudo pareça bem entre nós, algo em mim me impede de imaginar um futuro assim.

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⏰ Last updated: Sep 05 ⏰

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