Discutir-se-á os pressupostos metodológicos e epistemológicos da sociologia da religião de Weber enfocando as abordagens relativas à questão da ordem social e suas mudanças.
Weber se interessa pelo aspecto cognitivo das religiões. Weber associa a objetividade do conhecimento a uma ordenação da realidade segundo categorias subjetivas, as quais representam, segundo ele, o pressuposto do nosso conhecimento. Sociologia entendida como ciência compreensiva, que por interpretação, mas sem artifício de estilo, procura analisar o sentido visado por um ou mais de um sujeito em função do comportamento de outrem e, conseqüentemente, pretende esclarecer o sentido de toda a atividade social. Neste sentido, Weber toma as religiões como respostas racionais a indagações referentes aos problemas do sofrimento e do destino, quaisquer que sejam os termos em que esses se colocam. Assim, estando a racionalização do mundo inscrita no mais profundo da civilização, o sociólogo deve explicar as origens e os caracteres de um mundo que se modernizou ao se laicizar e se desembaraçou de seus mistérios, entregando-se às miragens da razão. Portanto, sua sociologia da religião está referida a uma teoria da mudança social que se traduz no estudo de processos de racionalização na história.
Para Weber, a racionalidade prática é inerentemente problemática e insuficiente. Em seu contato com o mundo, ela confronta incertezas - experiências de sofrimento e infortúnios - cuja solução requer ações e cognições que necessariamente transcendam a faticidade da vida cotidiana. Tais soluções tendem, contudo, ser parciais e insatisfatórias, deixando sem sentido alguns aspectos da existência, ou seja, suas teodicéias tornam-se irracionais. O desenvolvimento das religiões como criadores de imagens racionais de mundo, deriva-se da própria lógica da teodicéia, requerendo solução interna para suas inconsistências, criando, assim, uma compulsão natural para aquisição de versões mais racionais de suas idéias.
Max Weber acredita que a sociologia da religião deve ser buscada nas implicações de sua definição como instância de racionalização teórica - o domínio crescente da realidade através de conceitos cada vez mais precisos e abstratos que ultrapassam os desvios da rotina diária e dotam os eventos da vida cotidiana de significado coerente -; substantiva - elaboração de um postulado de valor, isto é, de agrupamentos inteiros de princípios que variam em compreensibilidade, consistência interna e conteúdo -; e formal - voltada para solução de problemas de rotina através de regras abstratas e universalmente aplicadas. Onde a racionalização (teórica) de valores implica a destruição dos valores descontínuos de práticas rituais isoladas, de cerimônias desconexas e de um "pantheon" de deuses demandando sacrifícios e lealdade, e a montagem destes valores dentro de visões de mundo cada vez mais compreensivas e unificadas; a racionalização substantiva se torna mais apta a operar com um padrão ético. Neste sentido, a religião implica constelações de valores que constituem visões de mundo racionalmente consistentes através das quais os indivíduos podem orientar sua ação em todas as esferas da vida.
Para Weber, a religião, longe de estar referida à continuidade da racionalidade prática (Marx), enquanto racionalidade teórica e substantiva introduz de forma consistente um conteúdo ético que, tem o potencial para romper, efetivamente, os modos de vida e atitudes tradicionais.
Nesta perspectiva, ação não pode ser, para Weber, entendida simplesmente como um ajustamento de realidades dadas, sejam rotinas diárias ou estatutos burocráticos, como manifesto nas racionalidades prática e forma, nem um status residual pode ser atribuído às pautas da ação humana que fogem da rotina e do comportamento adaptativo.
Weber faz uma objeção clara ao materialismo de Marx que reside na premissa de que a racionalidade prática é inerentemente insuficiente e, portanto, incapaz, por si mesma, de introduzir regras.