~ Um ~

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( Livro dedicado á Letícia Maia )

O vento agitava meus cabelos castanhos, ainda estava segurando aquela faca com o pessimismo de que algo daria errado somente pela simples menção da palavra "lobisomem"
- O que eu faço agora? - perguntei mais irritada para Beatriz que continuava entretida em descobrir uma forma de enganar o Lobisomem.
- Fique de boca fechada e pare de atrair a atenção dos pássaros, você ainda não estudou sobre os Zogs? - sua voz era puro desdém.
- Na verdade não, não tenho culpa em ter sido colocada no estágio errado.
Ela não respondeu, continuou montando a armadilha durante longos minutos. Enfim o vento havia cessado, mas pelo ritmo que o céu escurecia o mesmo ameaçava soltar uma grossa chuva.
Enquanto as gotas de água caiam sem pressa meu medo só aumentava.
Eu não costumava ter tanto medo do escuro como agora, mas nesse escuro podia ter certeza de que havia algo mais, algo que ameaçava atacar a qualquer momento.
- Está pronto, venha - Beatriz me puxou para atrás onde outrora o sangue do Lobisomem estava fresco.
- O que fazemos agora? - minha voz saiu rouca.
Ela me lançou um olhar como se dissesse "ficamos caladas" e retornou seu olhar a sua possível armadilha.
Ouvi o som de patas batendo fortemente no chão.
Pude ver um sorriso escapando do rosto de Beatriz.
- Fique aqui - ela me arrastou ao centro de uma corda formada por folhas de árvores, voltou a se esconder atrás da árvore e posicionou seu arco e flecha em minha direção.
- Você ficou louca?! Vai me matar?
- Calada! Confie em mim - apesar da situação sua voz era confiante.
- Não sei se você percebeu, mas eu não confio em você - fechei os olhos tentando obedece-lá, mas a chance de Beatriz atirar em mim me atormentava.
As fortes patadas cessaram quase imediatamente, aconteceu tudo muito rápido.
Abri os olhos rapidamente a tempo de ver uma pelugem cinzenta pulando sobre meu corpo e uma flecha acertando a cabeça do animal.
Ele caiu ao meu lado com a flecha atravessada em seu pescoço, o lobisomem.
Minha respiração ficou ofegante, considerei ficar deitada ali mesmo já que não acreditava naquilo, mas eu não conseguiria ficar observando aqueles olhos negros por muito mais tempo.
Até então não havia visto que uma corda havia sido lançada pela armadilha e que as pernas do animal estavam presas.
O sino tocou novamente e a confirmação logo pode ser ouvida:
- Senhorita Campbell e Senhorita Carter derrotaram o lobisomem.
- Obrigada - lancei um olhar a Beatriz que o desfez ao sair da floresta assim que as portas se abriram.
Bufei.

O jantar logo foi servido, era estranho não estar perto dos meus amigos dos estágios 1 e 2.
Mas pelo menos poderia contar com Analuh.
- Olá! - sentei ao lado dela na mesa mais próxima a janela escassa de luminosidade.
- Belly! Como foi o treino?
- Chato, Beatriz me odeia! - revirei os olhos.
- Você sabe como a sanguinária é, logo vocês se entendem, é novidade para ela você aqui no estágio 3.
- E para mim também - resmunguei.
Há poucos dias descobri que o apelido de Beatriz na escola era sanguinária Carter.
Quando ela ficava com raiva seus olhos se tornavam vermelhos, se me recordo bem fora porque ela ficou extremamente assustada quando viu um demônio em sua primeira caça, ele a marcou com os olhos sanguinários.
- Novidades? - tentei desviar o assunto anterior.
- Tenho - os olhos de Luh se tornaram brilhantes o que destacava o azul intenso no mesmo - Albert me emprestou uma caneta quando disse pra ele que tinha esquecido na aula de caça experiente.
- Caneta? - tentei não rir de sua expressão por algo tão simples.
- Eu sei! Não é emocionante?
- Sim, muito - dei um sorriso fraco.
- Tá legal, o que houve? - ela assumiu uma expressão confusa e jogou seus cabelos cacheados e negros para frente.
- Nada - a imitei para irrita-lá jogando meus cabelos castanhos para frente também.
Analuh franziu a testa.
Ela realmente conseguia fazer com que eu falasse!
- Tudo bem, é que eu estou muito confusa com toda essa situação.
Eu era nova na escola Wychwood, até que recebi um documento transferidor, havia me colocado no estágio 3 e eu nunca soube porque.
- Você vai se acostumar - Analuh tentou me consolar.
- Como querem que eu consiga caçar se não aprendi o básico que é conhecer os seres?
Analuh suspirou, odeio quando ela faz isso, parece que ela sente pena de mim e não preciso disso.
- Você já tentou pedir transferência para a diretora? - ela perguntou arqueando uma sobrancelha.
- Você sabe que sim, ela disse que não controla as transferências e que se eu quiser fazer o estágio 1 eu preciso mandar uma carta pra secretaria - suspiro.
- Então vamos fazer - Luh assumiu uma expressão de incrédula.
Pausei meu olhar assim que as portas do refeitório voltaram a se abrir, Tyler havia entrado.
Seus cabelos castanhos estavam perfeitamente jogados para o lado em um estilo rebelde, seus olhos verdes brilhavam.
Ele virou sua cabeça para minha direção e seu olhar segurou o meu até que Luh o desfez.
Ela, percebendo minha distração, estalou os dedos acima de meu nariz.
- O que ele faz aqui? - Luh o observou.
- Não sei - admiti e o segui com o olhar.
Tyler era da minha turma também, ele é novato no estágio 1, como eu era.
- Você acha que a carta vai funcionar? - voltei ao assunto anterior.
- Talvez, May é legal.
- Só não gosto do fato de não ficarmos mais juntas - suspirei.
Os estágios eram divididos, os estágios 1 e 2 comiam no refeitório dos novatos, enquanto os estágios 3 até o 6 comiam no salão dos caçadores.
A divisão era mais rígida no quesito de dormitório, os companheiros de dormitório só podiam ser do mesmo estágio.
Eu era companheira de quarto de Beatriz, mas era como se eu fosse uma fantasma para ela.
- Qual a próxima aula? - Luh perguntou após um período de silêncio.
- Introdução em caça - bufei, Analuh também.
- No intervalo fazemos a carta tudo bem?
- Ok - levantei da mesa e fui em direção á sala 236 com Analuh a meu encalço.
Só poderia torcer para que eu pudesse começar novamente.

{ Beings Hunters - livro 1 }Onde histórias criam vida. Descubra agora