Edith

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24 anos, natural do Rio de Janeiro, desquitada, acordou com uma trovoada, " ali pelas nove e dez".
Pulou da cama. Enquanto se vestia, segundo afirmou, se perguntou: " Porque sera que a mamae nao me chamou as oito e meia". Deduziu que dona Madalena talvez estivesse especialmente atacada aquele dia, preocupada em acalentar preocupaçoes o que era bem do seu feitio. Nao lhe passou na cabeça que tivesse acontecido algo mais grave do que isso. Pôs-se a conferir no pensamento a ordem das coisas. Dia da semana: Segunda.
Obrigaçoes daquela segunda: terminar a carta que estava escrevendo para Marcelo há meses, tentando explicar por que queria terminar o namoro. "De hoje nao passa", prometeu a sim mesma. "E se eu deixasse para a semanda que vem?", a "outra" propros. Desde criança se sentia assim, como se existissem duas Ediths: "ela" e a "outra". A questao era que nem ela nem a outra eram dotadas de um pingo de autoconfiança; Viviam alternando seus papeis, a ponto de Edith nao saber mais se ela era "ela" , se ela era "a outra", ou se ela era as duas. "Depois penso nisso", resolveu, sem saber se a resoluçao era da outra ou dela propria.
Saiu do quarto.
Antes de entrar no banheiro, entreouviu um trecho da cançao que a empregada entoava todas as manhas: Uma melodia aflita, acompanhada por palavras de um dialeto que misturava portugues, guarani e ingles de musica romantica.

A comédia dos anjosOnde histórias criam vida. Descubra agora