Sirenes, o poder da sedução.

Capítulo Um - O Desbravador

CAPÍTULO UM

O Desbravador

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O reino de Scarpio era conhecido por entre os demais reinos — sul, leste e oeste — como sendo o de maior sucesso. O excêntrico rei Kayllon sabia exatamente como governar. Seus métodos eram, no entanto, um tanto brutais, usando de um eufemismo exagerado. O rei não media esforços para obter a glória e vencer suas batalhas. Seu ego alimentava-se de vitória. Usava de quaisquer meios para atingir os fins que desejava; até mesmo aqueles mais repudiados, como o assassinato de camponeses inocentes e o extermínio de criaturas amigáveis. Contudo, uma das decisões de Kayllon perante certas criaturas, não apenas foi apoiada pelos demais reis, como eles juntaram suas forças para derrotá-las... Aquelas que haviam deixado mulheres viúvas e crianças órfãs, mandando incontáveis homens para o precipício da morte, sem fim, sem esperança. Aquelas que destruíram sem remorso a vida de centenas de pessoas: As temidas Sirenes.

Railan, que conhecia o castelo de Kayllon como quem conhecia os Quatro Mares, empurrou levemente o grande portal de mogno, que era revestido por pequenas jóias, e adentrou solitário o amplo salão da coroa. Este demonstrava claramente a excentricidade do rei. Cercado por grandes e caros monumentos de cerâmica e cobre, o salão possuía cortinas em tom púrpura, que se arrastavam como caldas sobre o piso impedindo que a luminosidade entrasse pelas grandiosas janelas. Pinturas do próprio Kayllon, encomendadas aos mais famosos pintores dos Quatro Reinos, cercavam todo o local. Assim como pilares de ouro branco que sustentavam o teto cravejado por vitrais de batalhas vencidas pelo rei e, por fim, todos os detalhes desenhados em ouro sobre o chão de mármore azul, que coloria-se de forma a dar impressão de que quem andasse estaria pisando sobre as águas, tal qual o Rei Armédes havia feito na batalha contra o Sul. O desbravador reverenciou o velho homem de expressões fortes que se encontrava sentado folgadamente em seu grande trono de ouro maciço, localizado sobre um altar exatamente ao final do salão e moldado no formato de um majestoso navio. Avançou alguns passos em direção ao rei, mas manteve certa distância.

— Soube que precisava de meus serviços — Railan iniciou a conversa repuxando seus lábios finos em um sorriso animado.

— Pois soube certo, Railan, meu amigo — o rei abandonou a expressão séria que obtinha no momento em que o desbravador adentrou seu salão e levantou-se rapidamente avançando em direção a Railan, por fim, o abraçando.

Os dois tinham certa intimidade, inúmeras foram as vezes em que Kayllon recorrera a Railan para um serviço. Dessa vez, o trabalho que seria dado ao desbravador exigia dele toda sua coragem. O rei adiantou-se até uma pequena mesa de ouro branco, serviu em uma taça grande quantidade de vinho e entregou-a ao seu convidado, depois serviu para si e sentou-se novamente em seu trono.

— Então, Kayllon, o que deseja de mim? — perguntou enquanto dava um pequeno gole em seu vinho o saboreando.

— Desejo toda sua coragem, meu filho. A tarefa que estou prestes a lhe dar exigirá de você uma força que nunca lhe foi pedida antes.

Railan ergueu suas sobrancelhas negras e espessas fazendo-as tomarem a forma de um arco. A modificação de sua expressão deu-lhe um ar de preocupação. Sempre fora conhecido por sua coragem e habilidade em lidar com qualquer tipo de jornada. Nunca havia sido vencido, e não entendia o motivo das palavras do rei.

— Não estou lhe entendendo, meu rei. Quando falhei? Quando me faltou coragem? — ele indagou desconfortável.

— Nunca, meu caro, nunca. Mas esta tarefa é extremamente arriscada. Todos que tentaram, falharam. E só o chamei porque o caso tornou-se extremo. Confio em seus métodos e conheço sua habilidade. Quero lhe pedir para que não hesite em momento algum, preciso que sejas confiante quanto a tua tarefa. Preciso que não subestime o poder delas... — o rei fora interrompido bruscamente por Railan, que largara a elegância com a qual adentrara o salão.