Lâminas

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- Eu te amo. _sua voz pareceu tocar meu coração quando ela disse que me amava. O meu coração vibrou e balançou como se ela tocasse com o seu polegar o meu peito e perfurasse todo aquele sentimento podre, ruim.Eu não soube responder e então fiquei quieto, apenas a olhei nos olhos e a beijei. Foi a minha assinatura para ser infeliz.
Foram dias longos, dias que pareciam não querer acabar. Dias com ela eram lindos, guardada em meus braços com o meu carinho lá, para fazer companhia. Ela sentava-se na minha frente e eu apreciei aquele momento, seu cheiro, sua presença. Coloquei um ponto final na minha história triste e abri um novo livro, mas com o mesmo título. Eu a tive pra mim durante pouco tempo, o tempo que me fez feliz foi aquele e não outro, não hoje e com certeza não será amanhã... nunca mais será. Ficará apenas guardado nas minhas lembranças como recordação da minha burrice que foi decidir ama-la , me entregar a ela. Dar a ela o direito de dizer que eu era dela... foi esse o meu erro.E logo, passou-se 2 meses, foi quando eu deitei minha cabeça no travesseiro e a abracei com o mesmo carinho de sempre, talvez ainda mais. Ela olhou para mim com desprezo e balançou a cabeça saindo da cama. Apenas fechei os olhos procurando o erro nas minhas lembranças e foi quando finalmente o encontrei... eu disse que a amava quantas vezes ela precisou ouvir para acreditar. Ficou mau acostumada com esse meu jeito carinhoso e super protetor mas eu não pude evitar, eu não sei se ela se apaixonou mas eu sei que durou muito tempo esse "nós dois", tempo que eu queria que nunca tivesse acabado.Parecia durar uma eternidade aqueles 5 minutos esperando ela voltar para mim com biquinho ameaçando chorar e desmoronar nos meus braços, chorando e depositando aquela segurança no meu pensamento... nas minhas palavras.Anoiteceu e ela continuou ali, não chorava mas continuava triste. Não saiu dos meus braços pois sabia que fora deles o mundo era perigoso, era muito selvagem e ela não aguentaria. Eu a guardei a noite enteira e, quando o sol estava saindo ela olhou para mim e deu um sorriso. Olhou para o relógio e depois para mim novamente e disse:
- Eu te amo. _sussurrou muito baixo, eu pude ouvir pelo silêncio ser absoluto, suas palavras se destacaram por ser uma coisa que eu adorava ouvir.- Eu também te amo... não é só isso que eu quero falar mas, não consigo pensar em mais nada amor. _olho para outro lado desviando os meus olhos dos dela e, foi quando eu encontrei uma mala de viagem feita no chão. - O que é aquilo?
Ela sorriu e foi se levantando tirando os meus braços dela e fugindo de mim. Caminhou até a janela e fechou as cortinas, foi até o guarda-roupa e fechou as portas, foi até o despertador e o desligou da tomada, foi até a televisão e também a desligou, foi até o meu celular e tirou a bateria, foi até o computador e o desligou. Então ela olhou para mim sorrindo e foi quando uma lágrima escapou dos seus lindos olhos castanhos, desceu pelo rosto e procurou chocar-se contra o chão.- Eu te amo.
Ela caminhou até a mala e puxou sua alça com a mão direita, foi até a porta com a mala na mão e olhou para mim. Sorriu, e cruzou a porta. Me levantei desesperado e corri até ela, agarrei seu braço e vi ela engolindo o choro, se esforçando para isso. Então eu toquei o seu rosto e impedi que aquela lágrima rolasse até o chão, a olhei nos olhos e disse:

- Você não pode viver assim. _ disse calmamente olhando-a nos olhos e com a voz rouca, tremida.- Poder eu posso... só não consigo. _Virou-se lentamente para o lado abandonando a mim e as minhas palavras para trás, caminhou a noite inteira beirando a praia naquele frio do longo e rigoroso inverno. Encontrou uma pedra rosa vindo do mar que chocou-se contra seu pé, ela sorriu e então disse bem baixinho.- Só não consigo aceitar que vou ter que viver assim sem você... na marra.

Fiquei meses guardado em casa, sem contato com nada e nem com ninguém. Ela sabia que eu ia fazer isso e me ajudou, contribuiu para que eu não a procurasse pois sabia que eu a convidaria a voltar para casa e ela iria aceitar. Procurei luz na janela e não encontrei, procurei distração na televisão e não encontrei, caminhei até o banheiro para vomitar sofrimento, não consegui. Ficou guardado dentro de mim. Desci até a cozinha e encontrei algumas lâminas...
Uma história incompleta... basta deduzir.

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