Capítulo I

296 22 3
                                    

       

          Deslocando-se de suas respectivas árvores, as flores caíam sobre o chão e, enfeitavam as ruas com suas cores e formas.

A Noite já havia caído. Pessoas voltavam de seus trabalhos, estudos, passando apressadamente pela passarela que as flores e folhas caídas, lhes davam.

Abrindo a bolsa, retirou de lá o seu celular e surpreendeu-se com a quantidade demasiada de ligações.

Sakura suspirou e rolou os olhos. Parando perto de uma barraquinha, comprou um espetinho de peixe, pagou e prosseguiu.

Clicou no botão verde, o qual indicava ligação, e encostou o aparelho na orelha. De forma brusca puxou o ar para seus pulmões quando, a ligação fora atendida.

— Finalmente a princesa se prestou a agraciar o sapo, certo? A que devo a honra de poder, ao menos, ouvir tua bela voz? — Cuspia as palavras com ironia, rolava os olhos e apressava os pés. Não o deixando falar, deu continuidade à fala — Escute-me com atenção, Sasuke. O fato de você ser de uma família poderosa e carregar consigo a coroa da família Uchiha, não lhe dá o direito de fazer comigo o que quiser. Disse-lhe antes e torno a repetir.

— Hm. Eu posso falar ou ainda tens mais fogo para cuspir em minha face?

Engoliu seco. Seu tom de voz estava mais baixo do que o normal e, seus modos mais calmos do que o habitual. Sakura o estranhou e logo pensou no que poderia ter acontecido.

— Onde estás? - Não hesitante, perguntou.

— Sabes bem.

Encerrando a ligação, guardou o celular na bolsa e tratou de engolir sua comida. Sua bota de salto alto não favoreceria sua corrida até o seu amado, sendo assim, pediu para que um taxista a levasse.

Durante o caminho, seu coração batia de forma acelerada. Amaldiçoou-se por ter sido rude quando sequer perguntou-lhe seus motivos. O vazão que havia dado para que a raiva a fizesse ser grosseira, deixou-lhe ao ouvir o som baixo e chiado de sua voz.

Levando a mão ao peito, mentalmente se desculpou por tê-lo feito. Seus lábios inferiores eram mordidos em tamanha agonia. Seus pés se balançavam para cima e para baixo, demonstrando ansiedade.

O veículo estacionou frente ao local e, concentrada em apenas entrar e tocar-lhe a face pálida, esqueceu-se de pagar a quem devia.

— Ei, moça! São quarenta Ienes! — O homem gritou, roubando-lhe a atenção.

— Ah, certo, perdão. — Retirou o dinheiro da bolsa e estendeu-lhe, para que o pegasse. As maçãs de seu rosto ganharam um tom avermelhado, revelando pudor. — Perdoe-me. Obrigada.

Sem demora, voltou-se às escadas e tendo-as subido, adentrou ao local indo diretamente para a recepção.

O hospital geral de Tóquio.

As enfermeiras, recepcionistas e alguns médicos a conheciam. Destarte, agilizavam as coisas para que a mesma entrasse. Talvez fosse por influência do sobrenome do namorado.

Uma das mulheres vestida de branco a acompanhou até o quarto. Ambas em silêncio.

— Obrigada, Kotohime.

Agradecendo então, balançou a cabeça para cima e para baixo, segurou a maçaneta e a girou.

Seus olhos puderam ver a pálidez presente no rosto de seu amado. Presenciou a cena da qual Sasuke, olhando para Itachi e seus pais, pedira para que os deixassem a sós.

Suas pernas tremeram em temor das coisas más que lhe sobreviera.

Por instantes, encarou-o de maneira penetrante. Odiava vê-lo sobre um leito de hospital, odiava vê-lo daquela maneira tristonha que, por mais que ele se recusasse a admitir, ela via e sentia.

Aproximando-se do Uchiha, que permanecera imóvel, sentou-se silenciosamente perto de sua cama. Tocando-lhe a mão, massageou-lhe, ergueu-lhe e beijou-lhe em afeto.

— O que passas contigo, querido?

— O que me assola há quase cinco anos.

Calou-se perante aquela resposta. Sentia-se presa num vendaval eterno quando a doença que o consumia atacava. Permaneceu em silêncio durante alguns minutos, deslizando seus finos dedos em seu rosto.

Tomou fôlego e tornou a falar:

— Diga-me algo... Ainda sente dor?

— Um pouco.

— Converse comigo... Faça-me saber das tuas coisas. — Encarecidamente, com os olhos fixos no rosto ereto de Sasuke, pediu.

— Eu vou morrer em breve. Meu corpo não mais suporta tanto e essa coisa está em fase terminal.

Encarecidamente lhe pedira para que lhe fizesse saber de sua angústia, e friamente recebera a resposta. Sasuke sabia que esse dia chegaria, entretanto, não sabia que seria antes que as flores de seu jardim murchassem.

— Eu não vou permitir que...

Interrompendo-lhe, falou o mais alto que conseguia — Pode ser a qualquer momento, Então não solte a minha mão.

Tendo conhecimento da dor de seu namorado, sentiu seu corpo enrijecer. Um nó se formou em sua garganta e um som de trovão ecoou pelo céu. Não poderia mostrar-se tão abatida perante aquele que a fazia feliz, aquele era o pedido de Sasuke para com ela.

Sentou-se ao seu lado na cama, envolveu o pescoço dele com seu braço e o afagou.

— Pede-me o que queres, e eu o farei.

Com dificuldade falou, com a voz trêmula pediu-lhe. Sasuke fechou os olhos por instantes, imaginando algo em sua cabeça. Algo que seria tão imenso quanto o universo, desejo que ele desenhava com os dedos enquanto observava as estrelas adornarem o céu.

— Você sabe o significado de imensidão? — Indagou-lhe, ainda de olhos fechados. — Notando que não obtivera respostas, prosseguiu — Algo grandioso.

— Eu não tenho certeza se sei ou não. — Afirmou.

Ouvindo a doce voz de sua amada agraciar os seus ouvidos com aquela afirmação, teve noção de que ela não havia entendido sua pergunta. Sentira uma forte pontada no pulmão, entretanto, conteve-se quieto para que Sakura não soubesse de sua dor. Sakura fechou os olhos para que pudesse, não somente ouvir, mas sentir suas palavras.

Esperando alguns segundos para que pudesse falar sem demonstrar aflição. Logo seu corpo se desfaleceria e seus olhos fechariam para sempre, e seu intrínseco ser se tornaria finitamente intocável, e o procurariam, e o não o achariam.

— Pois bem sabes que meu fim está próximo e que meu corpo se deitará no chão. Permita-me contemplar sua beleza, como de uma noiva que vem pronta para o seu noivo.

Seus olhos se abriram de imediato. Aquelas palavras soaram como um sino forte que desperta os que dormem. Com o canto de seus lábios levemente repuxados para os lados, sentiu gotas salgadas derraparem de seus olhos verdes.

Tamanha era a magnitude daquelas palavras. Seus braços logo o apertaram com um pouco mais de força e, colando seu rosto em seu ouvido, corroborou:

— Eu prometo, meu noivo.

ImensidãoOnde histórias criam vida. Descubra agora