7. (Gustavo)

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Termina o show. E a aglomeração de pessoas batam palmas e gritam o nome da garota. Ela agradece e sai do palco, descendo as escadas, o que foi uma atitude mal pensada porque as pessoas estão desesperada pedindo autógrafos e tirando fotos . Uma multidão a cerca, estou perto do palco e me dirijo ao bar, tento passar entre as pessoas, mas algumas delas me empurram, quando percebo estou no meio de toda aquela multidão desvio para o lado para tentar sair, mas esbarro em alguém, e a pessoa tropeça no meu pé. Peço desculpas e sigo até o bar. Que sufoco.

Chego ao bar, e os clientes reclamam do calor que está ali para um homem careca e barrigudo, aparentemente dono do local. Sento-me e peço uma bebida, olho para trás e vejo que a garota desapareceu, deve ter ido para o camarim. Sinto o gosto de álcool entrar pela minha garganta. Acho que exagerei na dose. Mais uma vez..
Já são 23:00h e as pessoas começam a sair, algumas, que são poucas, estão no bar. Nesse momento as lembranças dos meus pais me consomem por completo,  sinto falta dos conselhos irreparáveis do meu pai, o abraço reconfortante da minha mãe. Agora eles são apenas memórias. Luto para tentar esquecer, e principalmente quem causou o acidente deles, ainda não sei quem foi. Mas luto para acha-lo. A polícia pode até desistir do caso, mas eu não.
E nesses devaneios constantes de dor e perda, adormeço em cima do balcão do bar.

- Ei! Acorda! -ouço uma voz e levanto a cabeça para ver quem é. E percebo que é a garota do show. No momento em que levanto da cadeira tropeço e caio no chão. Merda. Desastre é meu sobrenome.
Minha cabeça gira. Estou zonzo. Efeito da bebida.
A garota do show me olha fixamente e diz:
- Só pode ser brincadeira. Perdeu alguma coisa no chão? -que garota arrogante.
- Sim, estou procurando sua educação, mas está difícil viu? -digo, respondendo sua pergunta sarcástica.
Ela dá uma risada irônica e da de ombros.

Ela vai para trás do balcão do bar, e atende outras pessoas que estão ali.
Levanto do chão, e me sento.
Para provocar-la peço mais uma bebida.
- Ei! Garota do show! Mais uma dose por favor!
Ela para e vem até o lugar que estou é me entrega uma bebida, e vira os olhos.
Mesmo com poucos pessoas ali, a música ainda continua tocando.
Saio do bar em direção a pista de dança, nem ligo se estão me olhando, só quero sentir a música.. Esquecer do passado, que insisti em atormentar-me.
Caminho para o bar e peço mais uma bebida.

A garota do show me olha de soslaio e vira os olhos. Ela com raiva é mais linda ainda.
- Você já está quase caindo de tão bêbado.
- E você se importa? -provoco.
- Não, mas não quero depois ter problemas pra tirar você daqui..
- Vou embora só se você dançar comigo,.. -digo sem pensar.
Ela me olha surpresa, como se não esperasse isso.
- De jeito nenhum! Não vou dançar com você. E você precisa ir, porque já vou fechar o bar.
- Então vou ter que arrumar problemas pra você .. Desculpa garota do show, mas daqui não saio.

Nem sei o que estou fazendo ou o que estou prestes a fazer, mas quero essa garota a partir do momento em que a vi. Ou será o álcool falando por mim?

Olho no relógio e já são 1:00h da madrugada. Ela ainda continua no bar,  atendendo outra pessoas. Quando o penúltimo cliente sai ela caminha em minha direção. Estou em uma mesa, ela caminhando, com suas curvas perfeitas, seus olhos verdes brilhantes, seu cabelo castanho  agora quase ruivos, ela parece ser um enigma, uma incógnita.. Um mistério que quero desvendar.

- Se você não sair agora, irei ser obrigada a chamar o segurança.
Levanto para encara-lá.
- Não fiz nada de errado garota do show, um convite para uma dança não faz mal..
- Mas eu quero fechar o bar e você nem me conhece e pare de me chamar de garota do show. -diz furiosa.
- Uma dança comigo e vou embora.. Garota do show.
Ela se cala e bate o pé no chão, como se não tivesse escolha.
- Você não desiste.
- Nunca desisto.
Ela fica me olhando por um segundo como se estivesse me analisando.
- Tudo bem, vamos, não tenho o dia todo, mas depois disso você vai embora.

Ela me puxa pelo braço e caminhamos em direção a pista de dança, não tem ninguém. Só eu e a garota do show.
Ela dança virando olhos, forçada.
- Só aceitei dançar com você pra eu poder fechar o bar, e também porque você não parece ser daqui.. Nunca te vi antes.
- Eu moro não muito longe daqui. Estava passando de moto quando avistei esse lugar que nunca te visto antes.-digo.
Ela me olha surpresa.
- Você nunca veio aqui? Esse bar está famoso, pegue uma revista ou jornal e verá as várias manchetes publicadas.
- Mais um motivo pra eu vir aqui..
- E qual é o primeiro?
- Você, garota do show..
Falo sem pensar, com certeza o álcool está falando por mim.
Ela solta uma gargalhada irônica, e viajo na dimensão do seu sorriso..
- Não se engane, é só uma dança..
- Nunca é só uma dança.
Ela para de dançar e caminha até a saída.
- Pronto. Agora você pode ir. Viu? Era só uma dança.
Ela diz em tom de sarcasmo. E sorrir.
- Tudo bem! Você ganhou! Estou indo cuja garota do show não sei o nome.
Sei que não vai fazer diferença pra você mas eu me chamo Gustavo Ferraz.-Digo com uma mão para trás e outra na barriga, como aqueles caras que agradecem no palco. Muito idiota, eu sei.
- Gustavo.. É, não vai fazer diferença mesmo. E não vai fazer diferença você saber meu nome também porque não vou mais te ver. Então, pode ir.
Ela diz. Tão arrogante e linda.
- Eu vou, mas lembre-se garota do show: "Nunca é só uma dança."
Digo caminhando para fora. Olho para trás e ela sorri, e fecha a porta.
Subo na moto, e estou em péssimas condições para dirigir e chamo um táxi com o desejo de nunca esquecer essa noite.

Fico pensando, posso ter a mulher que eu quiser aos meus pés, o que não falta.
Mas ela é diferente de todas as outras.
Opa! O que é isso? É só uma garota cara! E estou bêbado.

Sol e LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora