Mas por quê

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Fazia tempos que Ela não saia de casa. Tinha percebido que tanto tempo desempregada a tinha separado do Mundo real. Percebeu que a semanas não atravessava o portão de entrada e por isso começou a ficar preocupada. O grande choque, na verdade foi quando sua mãe comentou a grande mudança de tempo dos últimos dias e Carolina nem sabia se fazia sol ou chuva a dias. Precisava mudar. Sabia que estava difícil de arrumar um emprego, e aos poucos foi desistindo de procurar. Começou a se envolver intensamente com o Netflix e acreditava que seus dias ficavam mais alegres quando assistia aos seriados. Um dos últimos que começou a assistir foi Sense8, e se arrependeu logo, porque não fazia mais nada além de apertar o play.
Foi numa quinta-feira que Ela disse chega. Resolveu tomar um banho, colocar uma roupa e sair. Não sabia pra onde, só que tinha que respirar o ar de fora. Saiu andando pela rua, sem rumo, sem objetivos, apenas para espairecer. Foi quando deparou-se com um estabelecimento que não conhecia. Será que é novo? A resposta era sim. Ela tinha ficado tanto tempo sem sair que construíram um café novo perto de sua casa. Ficou chocada com si mesma e entrou no lugar. O café era todo decorado com cadeiras e mesas de madeira, com flores e cestas de pães. Parecia um café francês. Carolina achou o lugar muito aconchegante e decidiu sentar numa mesa perto da janela. No fundo, tocava uma música dos Beatles. Começou a pesquisar o cardápio, quando sentiu um cheiro de perfume muito atraente. Quando percebeu, era o garçom parado em frente a mesa a observando. Ela continuou encarando-o sem dizer nada, fato era, o tal garçom além de cheiroso era lindo. De repente, sua pergunta a trouxe de volta a realidade.
- Olá, já sabe o que vai querer? Perguntou o homem.
Carolina gaguejou por alguns instantes e só conseguiu dizer: -Café.
- Carioca ou expresso?
- Expresso. Respondeu rápido sem saber o que tinha falado. Odiava café expresso.
Alguns minutos depois, ele voltou com o café numa bandeja e colocou em sua frente.
- Você é prima da Alda? Perguntou o garçom.
- Oi? Carolina perguntou sem entender o por que do tal cheiroso estar puxando assunto.
- A Alda, conhece? Insistiu.
- Alda? Não... não conheço nenhuma Alda. Disse ao mesmo tempo em que pensava por que diabos não conhecia a tal Alda para ter assunto com o cara.
- Ah, perdão. Acho que te confundi com outra pessoa. Disse já saindo.
- Espera! Carolina disse rápido, sem saber porque e já se arrependendo.
O garçom de fato esperou. Ela tinha que dizer alguma coisa, mas não sabia o que.
- Acho que pensando bem, conheço uma Alda sim. Mas não sou prima dela. Sou amiga. Disse inventando cada palavra. Quanto mais mentia, melhor a história ficava.
- Nossa que coincidência! Eu sou amigo de infância da Alda, por isso que te reconheci de algum lugar, mas não sabia da onde...
- Que incrível. Disse Carolina igual uma pateta.
Os dois ficaram mais alguns minutos conversando. O café estava vazio e Ela aproveitou para puxar assunto com o garçom. Verdade era, Carolina estava carente e não era todo dia que encontrava uma pessoa interessante daquelas para conversar. Alias, nunca encontrou na vida. Não namorava à séculos e já preocupava seus familiares que já acreditavam que ela ficaria pra titia. Mas hoje sua sorte mudaria. Pelo menos era o que Ela pensava.
Seu nome era Matheus, estudava Propaganda e Marketing e trabalhava no café para ajudar a pagar as contas da faculdade. Tinha uma irmã e morava à uns 15 minutos dali. Carolina estava fascinada. Resolveu se arriscar, fazer algo que nunca tinha feito na vida. Chama-lo para sair. Matheus topou na hora, mas com um porém.
- Posso levar meu namorado?
Carolina congelou.
- Oi? Perguntou.
- Meu namorado. É que ele mora sozinho aqui e queria que te conhecesse também.
Ela não acreditou. Ele era gay! Claro, agora fazia sentido! Um homem daquele, bonito, cheiroso, só podia ser gay ou aparição! Carolina ficou sem graça, mas graças a boa educação que sua mãe tinha lhe dado, conseguiu disfarçar e respondeu com um sorriso torto:
- Claro, vou adorar.
Resolveu pagar a conta e voltar pra casa. Sentou no sofá, avistou o controle remoto, suspirou e disse:
- Mas por quê?

Ela CarolinaOnde histórias criam vida. Descubra agora