— Os morangos estão frescos, acabei de colhê-los — soou a melódica voz pelos corredores da casa.
Emilie adentrou a cozinha e logo o aroma doce e cítrico dos morangos invadiram suas narinas, como um convite repentino para uma dança. Mabel Grace estava parada com as mãos impostas na cintura, como se fosse dar uma bronca na garota que acabara de se jogar na bancada da pia.
— Estou de saída, mamãe — disse Emilie. A garota escolheu o maior morango da cesta e entre suspiros falou: — A senhora tem dedos de fada. Sempre me perguntei como consegue fazê-los crescer tão rápido — questionou.
Mabel abriu um largo sorriso desmanchando o olhar de censura.
Emilie observou a bela mulher diante de seus olhos. A mãe com quem pouco se parecia usava um avental preto estampado com pequenas margaridas; seu longo cabelo loiro formava um coque desgrenhado no alto da cabeça, as sardas douradas espalhadas iluminavam todo o seu rosto pálido.
— Desculpe-me, mas não ficarei para o jantar — disse Emilie, com demasiado cuidado. — Lembra da festa que eu te falei? Então, é hoje e não aceitarei não como resposta — disparou, em um fôlego só.
Mabel fuzilou a filha com os olhos.
— Mas hoje é a noite das garotas. Eu e você fazendo uma maratona de filmes — replicou.
— Exatamente por isso, mamãe.
— Sempre passamos o sábado juntas. Isso não é justo, Emy — disse Mabel, com a voz melancólica.
Emilie bufou.
— Não é justo comigo, mãe! Acho que pelo menos uma vez na vida eu tenha o direito de fazer algo sozinha em um sábado à noite.
— Você não entende...
— Não entendo mesmo, Mabel! — gritou Emilie, interrompendo a mãe.
— Eu exijo respeito, Emilie. Querendo ou não, ainda sou sua mãe.
Emilie revirou os olhos. Sabia que estava errada em gritar com a mãe, mas ás vezes era demasiado difícil fazê-la aceitar a realidade: Não sou mais uma criança, tenho meus direitos, pensou.
— Lembra o que combinamos? — indagou Mabel.
Emilie sorriu. Sabia exatamente o que significava aquela pergunta e respondeu de imediato:
— Não chegar depois da meia-noite, não ingerir bebida alcoólica e tampouco pegar carona com desconhecidos — recitou a garota, em um tom zombeteiro, como se fosse alguma piada ensaiada.
— Estou falando sério, Emilie — vociferou Mabel. — Ou você age de acordo com o combinado ou nada de festa — impôs.
Emilie engoliu em seco.
— Estamos entendidas?
— Sim, mãe. Eu só estava brincando — argumentou Emy, exibia um sorriso triunfante.
— E com quem a senhorita vai?
— O Gregg vem me buscar — respondeu.
— Eu não gosto desse rapaz...
A campainha tocou fazendo Mabel se perder em meio à frase.
Emilie foi de imediato atender e, ao abrir a porta, dera de cara com a figura imponente de Gregg.
— Por favor, me tira daqui — choramingou.
O garoto alto e de ombros largos sorriu ao pedido da namorada.
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Os Filhos Da Cidade Vol. 1: O Livro Dos Espelhos
FantasyPARA COMPRAR O LIVRO, ACESSE ESSE LINK: https://goo.gl/hhj5Mw Para Emilie Grace, o passado sempre fora como uma densa névoa. Mesmo assim nunca imaginara que pudesse haver algo assombroso por trás. Certa noite, um misterioso incêndio acaba causando...