Olhei em volta, a bagunça se acumulava junto às roupas sujas jogadas em um canto, o cheiro de maconha e álcool eram presentes no ar.
-Michael? -Chamei pelo meu irmão entrando em seu quarto.
-O que você quer? -Perguntou sem nem ao menos me olhar, arrumava seu cabelo platinado em frente ao grande espelho na porta de seu closet.
-Você por acaso viu meus óculos? -Perguntei chutando as peças de roupa jogadas no chão.
-Por que eu saberia onde estão seus óculos Roberto?
-Não me chame assim -Cruzei os braços e o encarei.
-Não Luke, eu não sei ta, agora dá o fora daqui!
-Você não pode me expulsar daqui, a casa é minha e eu sou mais velho que você -Cantarolei e ele rolou os olhos.
-Ta, agora beija minha bunda -Me mostrou os dedos do meio e alcançou sua carteira no criado mudo -Eu vou sair -Disse antes de passar por mim e me dar um tapinha na bunda -Você devia fazer o mesmo ao invés de se isolar para estudar enquanto seu rabinho lindo esta ai mofando.
-Gordon! -O repreendi e ele deu de ombros.
-A propósito, seus óculos estão na sua cabeça, idiota -Falou por fim, saindo pela porta da sala.
Bufei tirando o óculos da minha cabeça e os colocando certo.
Voltei para o meu quarto, organizado e cheiroso, e me sentei de frente para a escrivaninha, coberta de papéis quais eu teria que estudar para a prova.
Eu faço medicina pediátrica e isso é o que eu sempre quis fazer, desde mais novo, quando eu e meu irmão tínhamos uma relação boa. Quando ele me pedia concelhos e carona para casa dos amigos.
Agora éramos apenas nós dois, meus pais faleceram em um acidente de carro, a quase cinco anos, quando tudo mudou. Michael passou a ter atitudes rebeldes e cometer alguns atos de vandalismo.
Passou a usar o sarcasmo como principal aliado e esqueceu que tinha a mim para o apoiar, eu deixei de ser "irmão que tenho como exemplo" e passei a ser o "irmão chato que quero distancia".
Eu ainda sinto saudades do garoto doce que deitava a cabeça no meu colo e me deixava acariciar seus cabelos, das tardes em qual sentávamos com violões no colo e cantávamos apenas porque gostávamos de ouvir a voz um do outro, das noites que ele batia em minha porta e pedia para dormir comigo porque teve um pesadelo ou porque a tempestade lá fora estava forte demais.
Mas agora tudo está diferente, ele não é mais aquele menininho inocente.
Me foquei em estudar para que não me saísse mal. Minha vida dependia dessas notas boas.
Foram horas a fio, imerso nas minhas anotações com uma letra estupidamente feia e desajeitada.
Meus olhos já estavam doendo e minha cabeça demorava a raciocinar, olhei para o relógio de relance que marcava quase duas horas da manhã.
Fechei os livros e ajeitei tudo, deixando tudo arrumado.
O banho que tomei logo em seguida foi demorado, e fez com que toda a tensão fosse embora.
Me sequei e vesti apenas um calção, indo até a cozinha afim de preparar um boa xícara de chá de camomila.
Com a xícara da bebida quente em mãos me sentei em minha cama e liguei a tv.
Deixei em um filme qualquer enquanto dava pequenos goles no chá que aquecia minha garganta.
Me assustei quando escutei a porta do meu quarto ser aberta brutalmente.