Fanfic Ui, Eu Sou Divergente

Capítulo 3

Acordei em um leito de hospital. Eu já estava me cansando da cor branca, já era a segunda vez que eu acordava em uma sala toda branca. Ao menos esta tinha janelas.

Uma enfermeira entrou pela porta e mexeu na bolsa de soro. Ela olhou na minha direção e viu que eu estava acordada.

-Bom dia, flor do dia.

-Bom dia - eu disse ao me sentar - por quanto tempo eu dormi?

-Algumas horas apenas, meu anjo. Você quebrou a tíbia, mas não foi nada muito grave. No máximo em 6 meses será como se nada houvesse acontecido.

"Como se nada houvesse acontecido". Ah sim, eu escorreguei na frente de um ônibus, como se nada houvesse acontecido.

***

Eu estava olhando pela janela, de costas para a entrada do quarto, quando bateram à porta. Eu olhei para trás e vi Tobias encostado no batente com um sorriso no rosto. Ele entrou e veio na minha direção, segurou minha cintura e me beijou. Um beijo intenso e delicado, desesperado e aliviado, o último e o primeiro. Aquilo me revigorou, me deixou mais forte. Nos afastamos poucos centímetros um do outro e sorrimos, não parávamos de sorrir. Tobias não parava de me beijar, beijos longos, curtos, nos lábios, na minha cabeça. 

Então eu senti uma dor intensa no meu pé e me lembrei porque eu estava naquele hospital. Eu me afastei uma pouco mais dele, tentando disfarçar minha careta de dor e olhei em seus olhos.

-Cadê a Celeste?

Aquilo parecia tê-lo atingido em cheio. Ele respirou fundo e olhou nos meu olhos.

-Na delegacia. Bem no momento em que ela te empurrou, Christina passou com o carro de patrulha e viu. Ah, a Christina é uma policial agora. Eu peguei você no colo e Christina colocou Celeste dentro do carro. Ela provavelmente não viu que era você. Ela me disse para levar 'a vítima' para o hospital mais próximo e lhe dizer depois qual era. Assim fiz.

Eu olhei para baixo quando ele falou da minha amiga. Como ela estaria? Contive meus pensamentos e voltei a encarar Tobias.

-E o que vai acontecer com ela?

-Provavelmente ela será presa. 

-Podemos ir até a delegacia.

-Eu não creio que suas condições sejam favoráveis...

-Eu não ligo, Tobias.

Peguei uma troca de roupa que havia no pé da minha cama e fui para o banheiro. Era uma calça cinza com uma camisa preta, o que me fez sentir como uma sem-facção. 

***

Quando chegamos à delegacia, Nita estava lá com as mãos em uma mesa gritando com quem estava do outro lado enquanto Christina observava tudo. Ela ergueu a cabeça e me viu, fez uma careta, depois uma cara de espanto e começou a andar para trás, apalpando os móveis mais próximos.

Ela tentava falar algo, mas apenas murmúrios saíam de sua boca. Seus olhos marejaram, ela deu um sorriso estranho e se aproximou, cautelosamente. Hesitante, ela me envolveu em seus braços, longa e calorosamente. 

-Tris?

-Sou eu - ambas estavam à beira das lágrimas.

-Mas... Mas como?

Nos afastamos um pouco, eu sequei uma lágrima do rosto dela e ela sorriu.

-É uma longa história - eu disse.

-Gente, será que vocês podem fazer isso depois? - era Nita - acho que temos um assunto importante para tratar, não? - eu e Christina nos separamos - Vamos lá pra fora.

Eu, Christina, Tobias e Nita estávamos reunidos nos pés da escadaria da delegacia, conversando. 

-Foi flagrante, mas o delegado disse que ela pode pagar fiança - disse Christina com um olhar abatido.

-Mas ela não trabalha, então ela não tem como pagar - Nita retrucou.

Todas nós olhamos para Tobias, que abaixou a cabeça e colocou as mãos nos bolsos.

-Gente, é uma situação delicada - ele disse olhando nos olhos de cada uma.

-Tobias, você viu o que ela fez! Você achou aquilo justo? - Nita estava evidentemente irritada.

-Nita, ela é minha namorada, eu não posso ficar contra ela!

Quando ele disse "minha namorada" meu estômago deu um nó. Ele me encarou com um olhar chateado, como se pedisse desculpas.

-Sabe o que eu quero? - Nita borbulhava ódio e rancor.

Silêncio.

-Eu quero vingança. Ou não me chamo Joanita.