Tentar é um começo

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Era hora do almoço, ainda não tinha comido nada (a menos que a meia garrafa de vodka tenha contado como refeição). O Ethan ainda não tinha voltado às aulas, e pelo que presumi, duvidava que ele tivesse entrado na escola entretanto. A minha mente divagava pela manhã atribulada, pelas conversas da Hollie durante as aulas. Era impossível não me prender a uma conversa com ela. A Hollie era a rapariga com quem eu mais me sentia à vontade para falar. Eu adorava a Megan, mas elas eram duas amizades totalmente distintas para mim. A Megan agia como uma mãe comigo, embora fosse pouco provável mantermos uma conversa séria sem uma ou outra mandar uma piada para aliviar a tensão. A Megan tinha um instinto protetor que revelava falta de proteção, e uma gargalhada abafada que preenchia qualquer espaço, e o seu lado maternal era marcante, embora a sua postura conseguisse ser fria quando ela bem entendia. Se havia pessoa com quem eu me entendia era a Megan. O passado dela tornou-a uma rapariga verdadeiramente sensível, mas com uma postura invejável. Quem olhava para ela, apostava numa Megan ambiciosa e aluada. Não estariam de todo errados, no entanto, podia afirmar com toda a certeza que ela seria a rapariga mais atenta a todo o pormenor que a rodeava, nada lhe escapava, e a sua ambição e paixão pela escrita foi o que a salvou. O seu passado envolvia um cenário violento, mascarado de drogas e uma mente perdida. Não a julgava, de facto, não me sentia na pele de julgar ninguém. Já a Hollie era a minha verdadeira definição de asilo. A Hollie era o meu abrigo desde que a nossa amizade teve início, isto porque a minha primeira interação com ela foi ligeiramente negativa. A Hollie aspirava mundos e fundos, a sua Poesia prendia qualquer um que tivesse o previlégio de a ler. Ela era o poema mais negro e belo que eu alguma vez tivera lido.

Ambas eram os meus pilares, eu pouco ou nada o sabia demonstrar, mas valorizava mais a nossa amizade do que qualquer uma que já tivera.


Sentámos-nos num dos cafés em frente da escola para almoçar, o relógio marcava as 12h30, ainda era relativamente cedo, a maioria dos estudantes só ia almoçar por volta da uma da tarde, o que nos dava espaço suficiente para almoçar e conversar por meia hora.

"Perdeste a primeira aula de novo Luna, não achas que está na altura de levantares o rabo da cama a horas?" Hollie disse, enquanto a Megan ria, colada ao telemóvel.

"Não, não acho" Levei a minha sandes à boca após retorquir. Só aí me apercebera da fome que tinha, já não comia nada desde o dia anterior, e o meu estômago decidiu fazer-se notar com uma sinfonia agridoce.

"Olha, o James não almoça também?" Encarei a Megan, controlando o riso, revirando o olhar enquanto ela formava uma tentativa de resposta à minha retórica

"Ai Megan foda-se, larga o telemóvel" Hollie disse, elevando demasiado o tom de voz

"Fala baixo, eu oiço bem, quer dizer, nem por isso, mas podes falar baixo"

Rimos em sintonia, a verdade era que a Megan tinha um problema de audição derivado de um quisto no cérebro, o que fez com que ela desenvolve-se um problema auditivo.

Megan pousou o telemóvel na mesa e encarou-me em silêncio. Olhava para ela confusa, os seus olhos verdes fixavam cada movimento meu, enquanto eu fingia não notar e conversava com a Hollie. Que estaria ela a pensar? Qual era a razão daquele suspense todo?

"Come, Luna" Disse, autoritária

"Estou a comer, se bem sei" Revirei os olhos e contorci os lábios



Avistei a Ashley a entrar na porta do café, e fiz-lhe sinal para se juntar a nós. Ela sorria gradualmente
à medida que se aproximava , puxou uma das cadeiras da mesa vazia da frente e juntou-se a nós.

"Ainda não acabaram?" Inquiriu

"Nós já, mas a Luna para comer uma sandes é preciso uma grua" Megan retorquiu, ironicamente

Tentaremos não nos esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora