Viver ou sobreviver?

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Sopa.
A ala hospitalar estava cheirando a sopa. Lembrei-me dos dias em que vovó costumava fazer sopa e nós ficávamos em frente à TV assistindo a um filme legal ou simplesmente conversando, todos deitados num colchão na sala, debaixo das cobertas. Era divertido.
Passei para ver a mãe de Alison. Ela estava de olhos abertos, mas nem se mexia. O máximo era mexer a boca e, de acordo com Amélia, dizia Alison, e que teria "falhado com ela" e coisas do tipo.
Emma passava e cumprimentava todos que estavam acordados. William e eu fazíamos o mesmo, mas Diana não. Ela estava de cara fechada e não olhava ninguém nos olhos.
-Nem pergunte- comentou Emma com William.
Amélia estava caminhando no corredor e passou para ver a filha. Disse que já tinha algumas pessoas "reservadas" para nós.
-Alguém sabe que horas são?- perguntou Diana, como se quisesse que o tempo passasse.
Olhei no celular.
-São cinco horas. Por quê?
-Estou com fome.
-O jantar já vai ser servido. Calma- disse William
-O que é que ela tem? Estava tão bem!- sussurrei para Emma.
-Você conhece a Diana! Nem pergunte, só ignore! Olha, Aika deve estar sozinha, vamos lá com ela, coitada!
Convidamos William para descer. Diana preferiu ficar no terceiro andar e tomar um banho.
Entramos no elevador, William segurando a porta para um senhor de cadeira de rodas entrar no andar.
William era a pessoa mais simpática do universo. O completo oposto de uma Diana em seus dias ruins.
-Will, eu nunca conversei direito com você. Emma já deve saber tudo sobre sua vida, do jeito que ela é!
Ele riu.
-A minha vida não é tão interessante. Sabe, eu realmente não sei o que te dizer, sério! Sempre achei que essa viajem seria a melhor da minha vida. Você sabe. Washington é um ótimo lugar. E meu pai estava tendo uma proposta de um cargo na empresa dele aqui. Por isso viajamos. Pra conhecer a cidade melhor. Sempre foi um sonho meu morar aqui.
-Mas você não tem amigos em Illinois?
-Quase. Todos os meus amigos estavam se mudando, para vários lugares no mundo inteiro. Eu iria ficar sozinho. É isso. A melhor viajem da minha vida foi a pior. É o que tenho a dizer- ele riu.
-É, mas você não acordou rodeado de cadáveres né?- brinquei
-Ah, Sarah, isso só você!- ele riu. Seu sorriso era lindo. Não é a toa que Emma não tira os olhos dele.
As portas se abriram, e fomos para as quadras, onde Aika brincava com uma bola, que era jogada por...
Bonnie.
E companhia.
Um milhão de crianças brincava com Aika. Ela se divertia. Bonnie estava sentada, ao lado de Aika, olhando as crianças com ar de superioridade, acho eu que por ser a dona da cachorra.
Outro que também estava lá era Chris. Ele olhava as crianças. Quando nos viu, veio e me deu um abraço. O engraçado era que ele estava de regata, e nenhuma criança se assustava com o braço mecânico.
-Então, já decidiram onde vão ajudar?
-Nós três vamos para ala hospitalar- respondeu Will.
-Ah! Isso é legal! Coitados daqueles que ficaram para limpar os banheiros!- ele riu.
-Então, as crianças ainda estão se divertindo ou eu posso falar com o animal?- brincou Emma.
-Claro! Vai lá!
Emma juntou-se a elas. Ela poderia facilmente se misturar entre as crianças, se não fosse o cabelo colorido.
-Então você virou babá?- perguntou Will, irônico.
Chris riu.
-Na verdade, estava só cuidando dos pequenos. Tenho que sair logo.
-Onde vai?
-Procurar perdidos. Hoje mesmo, de manhã, Cabo Vincent encontrou um casal e a mulher está grávida, acredita? Estamos preocupados com ela, está já de sete meses. Enfim, hoje vamos para o sul, onde eu te encontrei.
O'Hara apareceu na quadra. Estava, realmente, com um uniforme de exército e carregada de balas. Tinha também três armas: uma na mão, outra nas costas e uma pistola na perna.
-Vamos Chris- ela chamou, com a voz firme.
-Preciso ir me arrumar! Até depois!
-Boa sorte!- disse- Pra você também O'Hara!
Ela agradeceu com um aceno, mas eu pude ver ela sussurrando "Nós não precisamos de sorte, garota".
Depois deles saírem, eu e Will começamos a brincar com as crianças.
Peguei Bonnie no colo e comecei a fazer cócegas nela.
-Para Sarah!- ela implorava, no meio do riso.
Aika estava se divertindo no meio das crianças.
E elas se divertiam.
Adolescentes, crianças, pessoas. Nunca mudam.
Não importa o que aconteça.

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