Paradise

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Se havia um local que Zoe não gostava, era a sala em que estava sentada agora.

Eram tantas cadeiras vazias, com a exceção de uma ou duas. Podia ver o céu escuro pelas grandes janelas, ouvir os grilos cantando lá fora, e ela não sentia vontade alguma de dormir mesmo que estivesse com sono. Ainda não entendia tudo o que estava acontecendo. Por que a mamãe estava tão preocupada? Por que ela ainda não podia ver o pai dela?

Já tinha passado tanto tempo. Não era para ser só um machucado? Zoe achou que papai podia ter cortado alguma parte do corpo, como quando ela machucou a sola do pé e ganhou uma cicatriz. Mas tinha sido tão rápido, ela lembrava bem, a enfermeira fez sarar o machucado e deu a ela um pirulito no final.

Assistiu a mamãe conversar com uma mulher gordinha que usava o avental parecido com os de dois homens que saíam e entravam de uma porta para a outra toda hora. Depois Rose sentou ao lado dela e a puxou para o seu colo. Zoe tentou dormir porque gostava dos braços da mãe, e do cheiro do cabelo dela, mas Zoe queria ver Scorpius.

– Mamãe – sussurrou Zoe, brincando com o chaveiro de Rose. Era uma bolinha transparente que mudava de cor toda vez que você a apertava.

– Hum? – ela perguntou baixinho também.

– Por que a mulher tinha sangue no avental dela?

– Ela está cuidando do seu pai – contou Rose. – Foi um machucado muito, muito feio.

– Que nem quando eu machuquei meu pé?

– Não – disse Rose olhando em seus olhos.

– Foi pior? – os olhos assustados da filha deixaram Rose sem saber o que dizer.

– Dorme um pouco, coisinha. Nós vamos ficar aqui por algum tempo.

– Você me chamou de coisinha – cochichou a menina como se Rose não tivesse notado, e não tinha mesmo, até aquele momento. – Que nem o papai.

– Chamei, né? – Beijou o rosto dela, distraída.

Zoe fez mais algumas perguntas, mas Rose não as respondia com muitas palavras. Decidiu ficar quietinha no lugar, embora precisasse muito falar e perguntar um monte de coisas. Alguns minutos depois a mamãe não aguentou e piscou os olhos. Quando Zoe puxou o casaco dela, chamando sua atenção, ela não acordou. E Zoe estava com muita sede.

Olhou ao redor. E avistou o que precisava. Uma máquina de doces e sucos! Até se lembrou de quando passeava com a mãe em Nova York. Em um lugar assustador e chato, aquela foi a coisa que mais aliviou ela de suas inúmeras dúvidas e o medo. Andou sozinha até lá, tirando as moedas que colecionava na bolsinha tiracolo.

Procurou pela água, mas estava difícil entender os números. Não eram dólares e fazia pouco tempo que morava em Londres para se acostumar com as moedinhas de lá.

– Moço – ela chamou o homem que estava em pé verificando a outra máquina. – Quantas moedas eu coloco aqui?

Ele tinha cabelos brancos e um olhar meio assustador quando a encarou. Zoe estava quase se arrependendo de ter feito qualquer pergunta a ele, mas ele perguntou com uma voz profunda e arrastada:

– O que você quer?

– Água.

– Mostra as moedas que tem.

Ela abriu as mãos e mostrou. Quando ele ficou muito perto, Zoe parou de respirar porque o cheiro da roupa dele era bem forte. Lembrou também de quando o pai dela fumava, ficava com um cheiro parecido.

– Hum. Essas não vão dar certo.

– Por quê?

– Tente três dessa daqui. – O moço tirou do bolso dele as moedas e entregou a elas.

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