Sete

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-Ametista!

Dei um pulo e abri os olhos, assustada pelo grito. Demorei pelo menos um minuto para conseguir me situar - eu havia cochilado. De novo. Uma hora ou outra acabaria caída no chão, levada por um sono profundo.

Angelina bufou.

-Por que está dormindo acordada? -continuou. Porque passei a noite toda escrevendo um livro sobre você, pensei com ironia, desejando poder falar isso. Mas, claro, me segurei.

-Dormi mal. -menti e bocejei preguiçosamente. -Estou com sono.

-Vê se fica atenta e quieta, se não a Moura vai te furar. -adverteu, segundos antes da ponta da agulha atingir minha pele. Grunhi levemente e Mendes riu. -Eu disse... -baixou o olhar para o iPhone, digitando nele com uma rapidez impressionante. Fixei os olhos no teto, tentando não adormecer de novo.

Era dificil manter as palpebras abertas, quando tudo que elas queriam era se render.

Fiquei a noite toda escrevendo meu livro, quase sem pausas para descansar. Com a briga de horas antes, a inspiração me possuiu como uma pomba gira - só me rendi e fui deitar seis da manhã, caindo de tão cansada. Fui acordada aos chacoalhões por Luana apenas duas horas depois. Ao que parece, nossa querida amiga noiva tinha um maldito fogo no cú que não a deixava parar um minuto sequer.

Precisava fazer nossos vestidos hoje? Aquela desgraçada, por acaso, era movida a pilhas? Estava começando a duvidar que fosse humana de verdade. Nem triste ela parecia!

O que me levava a pensar no que as gêmeas haviam dito. Que segredo era aquele e como ele envolvia Ian?

Céus, eu sentia como se minha cabeça fosse tostar a qualquer segundo. Mesmo com o benefício do atraso, concedido pela mudança de madrinhas, eu precisava ir rápido. Logo Craig estaria me cobrando novamente, mais impaciente e rabugento do que nunca.

Só havia uma opção: precisava encontrar Dandara de novo e arrancar a verdade dela.

A medição durou uma longa, tediosa e sonolenta hora. Quando saímos do ateliê da costureira, um novo plano preenchia minha mente.

-Será que eu poderia ver o Brendon hoje? -perguntei forçadamente dócil para Angelina.

-De novo? -fez cara azeda, nada satisfeita.

-O que posso falar? Acho que estou apaixonada. -dei de ombros de forma casual. Seus olhos se estreitaram.

-Preciso avaliar esse rapaz, então. Diga-me o nome do restaurante em que ele trabalha que eu vou lá. -engoli em seco. Caralho. Que tipo de interesse na minha vida era aquele?

Acho que está tarde demais para tal atenção, Mendes.

-Você não vai humilhá-lo, não é? -cruzei os braços, fingindo desconfiança. Por dentro, tremia de medo.

Luana nos encarava silenciosamente, provavelmente arquitetando desculpas para me auxiliar.

-Por que está dizendo isso? Até parece que sou uma megera. -a loira fez drama, porém sorriu de forma diabólica no final. Acho que até ela mesma deveria estar rindo de sua frase.

Megera era seu nome do meio.

-Te conheço, Angel. Você detesta "misturar as classes". -fiz aspas com as mãos, citando suas estúpidas palavras elitistas. Angelina sempre achou que levava o rei na barriga, desde criança; humilhar pessoas mais pobres era seu hobby preferido.

-Só acho que pessoas como nós não podem namorar qualquer um. -se defendeu, entrando no carro. -Mas, como a vida é sua, não vou me meter. Você que escolhe quem beija, afinal de contas.

Como Perder Um Homem Em Dez DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora