Mas isso é outra história...

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Campinas, 20 de setembro de 2015

Olá R,

Parece que esse mês esse posto ainda será seu. É a segunda carta em que você é meu destinatário. Ah sim, você quebrou meu coração. E acho que preciso de agradecer por isso. Pode parecer estranho, mas me acostumei tanto com o outro lado – desde os vinte e um anos não tinha o coração quebrado desse jeito – com algumas cicatrizes abertas, sempre. Mas nunca partido de verdade. Porque eu não deixava os caras com quem eu saia se aproximarem tão profundamente da verdadeira eu. Você conseguiu. Merece um prêmio por isso.

Tornei-me uma verdadeira vaca nesses últimos três anos. E eu não via problema nenhum em usá-los sem dó nem piedade por uma noite. Ah sim, saí com um por sete meses – mas nos encontrávamos duas vezes na semana no máximo – e eu era muito boa em partir os corações e não sentir um pingo de remorso por isso. Você me mudou. Então, obrigada mesmo. Eu acho.

Conversando com uma das minhas amigas mais próximas e que possui a personalidade igualzinha a minha ela me abriu os olhos para isso. Ela me entende mais do que ninguém nesse negócio de ser fechada ao extremo e o quanto eu sofro por isso. Agora tem a psicóloga, claro. Mas ela está comigo desde os meus quinze/dezesseis anos. Então ela me ajuda muito, desde sempre. E o que ela me disse foi para aproveitar esses sentimentos confusos e vulneráveis para conhecer pessoas novas e de certa forma tentar de esquecer. Mas que era importante aproveitar essa abertura que eu tinha me permitido antes de me fechar novamente na concha.

Nunca escondi nada sobre mim, literalmente um livro aberto. Então sabe que sou constantemente chamada para sair e que recuso na maioria das vezes, porque não estava aberta a novas propostas. Ainda não estou. Mas acho que percebeu que não fiquei um dia da semana em casa depois que você terminou comigo, porque a ideia de ficar em casa esperando a sua mensagem agora me assusta. Não quero voltar a ser antiga Roberta. Não tenho mais medo de ficar sozinha. Acostumei com a minha companhia e pode apostar que irei inventar um milhão de coisas para fazer e me manter ocupada só para não lembrar que você existe. Ainda estou tentando manter uma conversa com você, mas estou mais distante. E você também. Acho que vamos parar de nos falar em breve e não será por minha culpa, acho eu.

Você é um cara incrível, sério. E você realmente se encaixou na minha fantasia. Estar com você parecia tão certo. E eu estava realmente em paz comigo. Porque como disse as coisas foram acontecendo naturalmente. Eu não precisava fingir que um final de semana perfeito para mim atualmente é comida + filmes + companhia. Eu sempre gostei disso, mas os caras que eu saia não. Eu precisava ser a pessoa animada o tempo todo para sair e depois do último coração partido aprendi a ser baladeira. Tudo uma questão de costume. Me acostumei com a sua companhia, mesmo que de longe. E agora preciso me desacostumar com ela. Eu acho injusto, mas né. Acontece.

Espero sinceramente que você siga o seu coração e que encontre tudo o que procura. Te desejo toda a felicidade do mundo. Sempre vou amar você, porque antes de te amar como homem, te amei como amigo. E esse amor irá sempre prevalecer. Só espero que não se arrependa das suas decisões um dia.

Beijos.

Dia 20 — Quem quebrou seu coração;


Cartas para JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora