Introdução

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Primeiro vem a chuva, depois o arco íris. Essa é a ordem. Se acostume com isso.

Capitulo #1

Observo no relógio ao canto da tela no computador. Já são 4h e 35 da manhã, preciso dormir urgentemente. Desde que recebi o e-mail da faculdade não consigo ter paz. O medo de fracassar e frustrar meus pais me faz sentir um frio na barriga. O e-mail dizia:

"Prezado Sr, Henrique Albuquerque  Alves

A Universidade de Ciências Biológica [UniCB] tem o prazer de informar que o senhor está na lista de espera para a turma A; período diurno do curso de Medicina com especialização na área de Cirurgias em geral.
Se houver alguma desistência por parte de algum dos aceitos enviaremos outro e-mail para aqueles que forem selecionados para a segunda chamada. Serão 12 vagas disponibilizadas.

Atenciosamente,
José Oliveira.
Diretor Geral"

Sim, eu não passei de primeira. Meu pai me falou horrores, me fez sentir como se fosse um nada na vida. E se não conseguisse passar na segunda chamada seria mesmo. Acabaria vendendo miçanga na praia.
Meu sonho sempre foi fazer medicina. Desde pequeno estudo pra isso, me dedico. Não saio de casa para poder ler esses livros enormes sobre anatomia que meu pai compra. Sei que esse é um dos cursos mais difíceis de se entrar e de se formar mas eu faria de tudo para não desapontar meu pai.

Já se passaram dez minutos desde que eu abri o e-mail pela décima quinta vez. Decidi entrar em alguma rede social para relaxar um pouco. Dormir é a única coisa que eu realmente queria fazer, mas nas circunstâncias atuais eu nunca conseguiria. Ficaria remexendo e revirando horas e horas na cama.
O problema de se entrar nas redes sociais essa hora da madrugada é que não tem ninguém. Você se sente abandonado em uma ilha vazia.

Ao entrar observo o post de um garoto no grupo de medicina. Ele colocou um printscreen do mesmo e-mail que recebi. Na legenda ele escreveu

"Alguém mais recebeu esse e-mail? Quem recebeu deixe um like pra gente ter noção de quantas pessoas estão concorrendo à segunda chamada".
Hora que desço a imagem, vejo 523 curtidas e o desespero vem. Estou concorrendo com mais de 500 pessoas por uma lista em que só 12 pessoas se classificarão. Se eu não ia conseguir dormir antes, imaginem agora!

Para passar o tempo começo a jogar um jogo on-line e meu cérebro apaga sozinho. Desabo ali mesmo na escrivaninha em cima do teclado.

Acordo com minha mãe me chamando, já é de manhã.
- Henrique? Rique acorda! Vem filho, vem deitar na cama.
Ela pega no meu braço e me guia até a cama. Tira meus sapatos e me cobre com o edredom.
- Machuca muito te ver assim meu filho. Você vai conseguir realizar esse sonho, eu sei que vai.

Ela sai do quarto após me dar um beijo na testa e volto a dormir.

Acordo com um barulho. Escuto alguém bater na porta.
- Garoto! Levanta dessa cama e vem tomar café. Você tem muito serviço pra fazer hoje.

Era meu pai. Realmente eu tenho. Já estamos nas semanas finais de Janeiro. Hoje recebo o e-mail com os nomes da lista da segunda chamada. Se o meu estiver lá estou  perdido. Preciso comprar materiais, viajar até São Paulo para fazer a matricula na faculdade, ir atrás de um lugar para morar. São tantas coisas que já fico tonto só de pensar. Ainda são 11h e 40 da manhã. O e-mail chega ao meio dia. Ainda faltam vinte minutos para saber se meu futuro está garantido ou não. Meu pai não foi para a empresa pela manhã. A gente mora em uma cidade bem pequena. Tão pequena que meu pai tem que ir trabalhar em outra cidade próxima que é bem maior. Nessa cidade fica todo o centro comercial que a gente tem acesso. Lá ficam as escolas particulares, empresas, clínicas privatizadas e todos esses serviços que a cidade pequena não oferece. Aqui só existem duas escolas: uma pro ensino fundamental e outra pro ensino médio e ambas são da prefeitura e com um péssimo sistema de ensino.
Desde pequeno estudei nesta outra cidade próxima na melhor escola particular. Não que eu queira, mas meu pai sempre investiu na minha educação. Ele sonha com o dia em que eu me torne um famoso cirurgião.
São Paulo fica a uns 600km da onde eu moro. São umas oito horas de viagem. Se eu precisar ir para lá pousarei no apartamento da minha irmã que se mudou a uns dois anos pra lá. Ela também foi para a faculdade lá mas não a mesma que eu. Ela fez Direito e hoje trabalha como promotora. Não gosto de ficar no apartamento dela. Desde que Clara se casou e começou a trabalhar ela e o marido não param em casa um minuto. E ainda se aproveitam de mim para fazer os afazeres domésticos. Mas dessa vez precisarei ficar, é muito importante a matrícula e se não for feita até a data o aluno perde a vaga.
Aliás, já são 12h e 10 e nem me dei conta. Corro para o quarto, ligo o computador e abro o e-mail. A notificação na caixa de entrada acelera meu coração. Abro; é a hora de ler os 12 nomes. Os 12 vitoriosos

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