Que humano pode imaginar que, ao caminhar por uma floresta, daria de cara com uma parede invisivel? - Nao que eu tenha perdido meu tempo imaginando o porquê de um humano de Mystic Falls estar andando sozinho no meio do mato. Mas isso aconteceu a Eddie Stuart. Um fato aparentemente isolado. E enquanto ele saia andando, olhando para tras e passando a mão no rosto, ficava imaginando o que rt que havia de tão estranho em algo assim. Saibam que ainda vamos ouvir falar desse rapaz novamente.
Claro que vocês sabem que ele nao bateu de frente com o ar. Havia realmente algo oculto ali. Feitiço muito poderoso, antigo, ninguem sabia realmente de que tipo era. Mas ele guardava a casa da velha Ordem dos Magos. Humanos nao podiam vê-la, sem serem convidados. Uma vez convidados, porém, tinham acesso livre. Seres sobrenaturais podiam vê-la, tocá-la. Jamais invadi-la, de forma alguma, tão pouco podiam ser convidados a entrar. Mas bruxos? Bruxos sao sempre bem vindos.
Ela foi formada assim, para proteçao de seus moradores. Com tantos escravos da lua e da noite na cidade, anos antes, ja nao era seguro para os bruxos. Os Bennet, aliados a mais algumas linhagens de poder e influencia da epoca, afugentaram-se na floresta, formadas as pouquissimas alianças com alguns seres e entao tornaram aquele segredo sua maior proteção, passando de geraçao em geraçao.
Naquela noite, do outro lado das velhas portas de madeira, o jovem Josh Bennet brincava com seu cão. Jace não passava de um filhotinho, e como todo bebê, se agitava e se distraia com qualquer novidade. A garota, Carolina, ou somente Lina, cujos antepassados, os Awada, eram fortes aliados dos Bennet, fazia bico e empurrava o cão para longe do gato Nills, que reclamava por ser incomodado. Josh e Lina se implicavam dia após dia, era seu passa tempo favorito. Os dois, jovens demais e ainda iniciantes na bruxaria, estavam ha poucas semanas na casa. Ali, sozinhos, sem a presença dos bruxos mais experientes, acabariam fazendo uma besteira naquela noite.
Quando digo bruxos experientes, quero dizer Matt e Alberic Bennet, primos distantes, mesma linhagem poderosa. Não acredito em destino, mas talvez algo realmente conspirava para que tudo acontecesse exatamente como aconteceu naquela noite. Pois exatamente naquele dia, um pouco mais cedo, Matt e Alberic saíram para caçar um vampiro.
-Como voce pode ter tanta certeza de que esse cordão é do vampiro?- Matt, meio desconfiado, tentou pegar o objeto das maos de Alberic. Este fingiu nem ouvir, juntando os ingredientes para o feitiço e largando o cordao no chão.
-Como se fosse realmente comum nessa cidade que humanos usem lapis lazulli no pescoço. Sabe o que a pedra faz pra eles- Alberic pegou o cordao de volta da mão do primo e se levantou- Vamos nos concentrar no feitiço.
Os dois sempre competiam. Um sempre queria estar um passo a frente do outro, e isso às vezes atrapalhava seu desempenho. Mas quando iniciaram o feitiço de localização, esqueceram todas as disputas e fizeram o que faziam de melhor: magia, do tipo antiga e poderosa, que so uma combinaçao Bennet podia fazer, e em um simples piscar de olhos, eles tinham um alvo e um local para ir.
-Estacas? - Alberic questionou, apontando para o arsenal no porta-malas do carro- Balas de madeira para imobilizar? Se cortassemos sua cabeça, já era. Certo?
-Afinal, somos bruxos ou os irmãos Winchester?- Matt revirou os olhos, entediado, e abriu a porta da frente do carro- Ja tenho tudo planejado na cabeça.
-Só quis ser pratico- Alberic reclamou, mas seguiu o primo e abriu a porta do lado do motorista- Ando meio fraco, sabe. Já faz um tempo que estou sem praticar muito.
-O plano é tao simples que nao tem erro, Albie- Matt explicou, bem quando o motor do carro roncou e Alberic acelerou- Eu o imobilizo com o feitiço por alguns segundos e voce enfia um pedaço de pau no coraçao do demônio. Voltamos para casa a tempo do jantar.
-Ah, parece perfeito- Alberic acelerou pela estrada de terra lamacenta e desviou de algumas pedras maiores e arvores antes de entrar na trilha que levava à cidade- Mas o que faremos se ele estiver com algum humano? Ou se forem mais de um?
-Se fosse um bando inteiro, saberíamos- Matt explicou; quanto ao humano, ele nao sabia o que dizer. Não tinha certeza se valia a pena arriscar uma vida para evitar a perda de varias outras.
Os dois seguiram em silencio enquanto Alberic guiava o carro pela periferia da cidade ate que as casas começaram a ficar tao afastadas umas das outras que pareciam abandonadas. Eles estacionaram a duas quadras do local onde poderia ser o ninho do vampiro, um casebre na periferia, totalmente isolado da cidade. Alberic desceu por ultimo e Matt lhe jogou a estaca, que o bruxo rapidamente prendeu na cintura. Assim, os dois seguiram discretamente pela rua escura ate encontrarem o lugar certo.
-Espera- Alberic disse em sussurro, quase sem sair som algum por seus labios e deslizou para poder olhar pela janela.
Havia uma luz acesa e duas formas do outro lado.
-Dois vampiros?- ele questionou de forma retórica, encarando Matt ao seu lado.
-Ou um humano?- retrucou o outro e os dois olharam pela janela.
Quase impossivel saber sem entrar la dentro. Mas se fossem mesmo dois vampiros, os dois sozinhos nao poderiam derrubar. E se fosse um humano, eles nao gostariam de arriscar. Com sorte, um deles estava preso la dentro enquanto o sol nao desaparecesse por completo. A má noticia é que faltavam poucos minitos para o por do sol.
-Certo, mudança de plano- Matt sussurrou e voltou alguns passos. Era muito importante que nao falassem muito alto, pois a audiçao dos vampiros é muito aguçada- Vamos selar a casa.
-Feitiço de selamento?- Alberic quase berrou, mas seu instinto mais primitivo o impediu de gritar- Qual a parte do "nao estou suficientemente forte" você nao compreendeu? Podemos morrer. Ou desmaiar e ser mortos por coisas como aquelas.
-É o unico jeito. Eles vao ficar presos.
-De que adianta? Se for um humano la dentro, e selarmos a casa, ele ja era.
-Se o vampiro sair, ja era pra muitos outros humanos.
-Os fins justificam os meios? - Alberic ergueu uma sobrancelha para ele, Matt nao parecia estar brincando- To fora. Nao vou fazer isso. Nao sem ter certeza.
Alberic começou a se aproximar da janela. Matt não teve tempo de perguntar o que ele estava fazendo, pois se ele falasse qualquer coisa, seriam descobertos. Alberic estava colado na janela e observava os dois seres. Ambos proximos e emanavam a mesma energia, ele quase podia sentir. Conversavam entre si: o vampiro que caçavam e uma mulher, tambem vampira. Nenhum vestigio de humano.
Alberic voltou e parou ao lado do primo.
-Vamos selar a casa.
-Certeza que consegue?- Matt desviou os olhos para a casa e para o primo diversas vezes- Não vai estragar tudo, vai?
-Voce é forte, conseguiria ate sozinho- Alberic sacudiu os ombros em indiferença e pegou algumas velas dentro do carro para preparar o feitiço.
Fizeram tudo em uma velocidade absurda e com o maximo de cautela que puderam, torcendo para que os vampiros ficassem onde estavam. Deram as mãos e começaram a pronunciar as palavras antigas que já haviam decorado.
Matt ficou mais fraco, pois acabou cedendo mais energia para realizar o feitiço enquanto o primo era apenas um objeto vivo de canalizaçao de poder. Caiu no chão quase imediatamente após terminar e, fraco demais para se levantar, apontou para a casa.
-Queima- foi so o que ele pode dizer.
Alberic nao estava tao fraco e compreendeu o que o primo queria dizer. O fogo os mata. E pelo tamanho da confusao que se iniciava la dentro e pela potencia dos berros, eles ja sabiam que estavam presos.
Alberic foi ate o carro e pegou o barriu de gasolina extra, indo em direção a casa e espalhando o liquido. Porem, ele nao possuia fosforos.
-Alberic, afinal voce é um bruxo Bennet ou nao?- Matt se levantou devagar, se apoiando em uma arvore- Usa o feitiço, rapaz. O feitiço!
Parecia obvio. Por que não?
Alberic riu de si mesmo. Ergueu as maos e berrou, fazendo uma linha estreita de fogo circular a casa, ganhando força ao inflamar a gasolina, e dominando todo o casebre. Alberic deu o maximo de si aumentando a intensidade das chamas. Seu nariz sangrava e ele nao parou ate ter a certeza de que o fogo nao poderia mais ser domado. Toda a casa sumia no incêndio e a fumaça preta tomava conta do céu. Logo os bombeiros chegariam. Precisavam sair dali depressa. Foi quando Alberic desmaiou.
***
Distante dali, voltando a oculta casa na floresta, dois bruxos inocentes e inexperientes brigavam pela liberdade de seus pets. O gato Nills, cansado de ser atormentado, saltou pela janela e desapareceu pela floresta. Era a unica forma de se livrar das patadas e cutucoes de Jace. Seus donos tambem tinham suas diferenças. Josh andava para cima e para baixo com um grimório, deixando Lina sempre curiosa demais. Mas ele nao deixava que ninguem tocasse. Cansada de tentar e de discutir, Lina resolveu ir se deitar um pouco, mas antes que alcançasse o primeiro degrau da escada, algum som estranho chamou sua atençao, vindo do porão.
-Ouviu isso, Josh?- ela chamou, mas o rapaz sequer se moveu de onde estava- Josh!
-Aqui diz que eu posso projetar minha imagem nos sonhos de alguem- ele olhou para ela e apontou para o grimório.
Lina suspirou e seus dedos se fecharam no corrimão da escada, pensando em subir, mas o som outra vez a chamou, uma voz suave, porem imperativa.
"Venha"
Era como se fosse um feitiço, puxando Lina para mais perto. Como se fosse um imã. A garota abriu a portinha que dava para o porao e iluminou a escada com a luz do celular antes de começar a descer. Atras de si, Josh ja havia fechado o grimorio. Nao tinha graça, ele nao entendia metade dos feitiços. A inquietaçao da garota o fazia inquieto tambem, e ele atravessou a sala para segui-la.
-Onde é que voce está indo?- ele chamou, mas ela nao respondeu.
Ao fim da escada, havia um monte de entulhos normais de porão e uma porta. Lina esticou a mao para tocar a maçaneta e Josh deu risada.
-Ja tentei abrir. Esta trancada.
Lina girou a maçaneta assim mesmo e a porta cedeu facilmente, revelando uma saleta ainda mais limpa, sem poeira ou moveis, nem mesmo entulho. A unica coisa que havia no recinto era um assombroso caixão, pousado bem no meio do ambiente. Em cima da madeira, pousava um pedaço de papel. A garota sequer olhou para tras. Entrou na saleta e a porta se fechou atras de si com um baque.
-Josh!- ela berrou, percebendo tarde demais onde estava, como se acordasse de um sonho- Abre a porta. Nao tem graça. -Nao fechei a porta- Josh tentou abri-la algumas vezes, entao se afastou.
"Venha" -a voz dizia, mais alta agora. Lina se afastou da porta e forçou a tampa do caixão tentando abri-lo, sem obter sucesso.
-Eu vou ligar para o Matt- Josh gritou, sem nem imaginar que ela nao ouvia e subiu as escadas correndo.
O pequeno Jace, como se tudo percebesse, ficou sentado de frente para a porta. De vez em quando, latia.
Lina leu o pedaço de papel e nao entendeu metade das palavras. A unica coisa escrita no seu idioma fluente era "abra".
Abra.
Era um feitiço. Ela nao fazia ideia de como sabia disso, so sabia. As palavras fluiam tão bem, que ela parecia ter nascido sabendo pronunciá-las. Com as mãos diante do caixão, repetia cada uma delas sem parar, sem parar... Um ciclo que poderia ter durado alguns segundos ou algumas horas, ela ja nao sabia. Sangue ja escorria de suas narinas. Foi entao que ela ouviu um clique e as travas da tampa de madeira cederam com a pressao que ela fazia.
A garota empurrou a tampa para tras e gritou ao ver o corpo la dentro. Suas maos cobriam sua boca e ela o observou. Era um rapaz, poderia ter sido bonito quando vivo. Tinha um rosto quadrado, cabelos escuros caindo nos olhos e feiçoes tranquilas. Elegante tambem, usava um terno que parecia caríssimo, embora meio detonado pelo tempo. Em seu peito, havia um punhal cravado, aparentemente o objeto do assassinato.
Lina achou desrespeitoso com o morto o fato de deixarem o punhal ali. Esticou a mao para segura-lo e sentiu uma energia tao forte que teve medo. Mas já nao foi capaz de soltar. Puxou para cima o objeto e o pousou no caixão antes de se afastar.
-Lina?- ela ouviu as vozes do outro lado e correu ate a porta- Você esta bem ai?
-Matt- ela respondeu com outro grito, forçando a maçaneta mesmo sabendo que era inutil- Eu estou presa com um morto, é melhor me tirarem logo daqui.
Matt tentou chutar a porta, derruba-la. Mas nada parecia funcionar e nao funcionaria mesmo, a porta fora lacrada com um feitiço. Matt ainda estava cansado da caçada. Alberic estava desmaiado no sofá. Entao Matt catou Josh pela camiseta e o colocou diante da porta.
-Preciso canalizar sua energia- ele disse ao garoto- E voce precisa repetir as palavras comigo. Vamos tirá-la de lá.
Sem questionar, Josh colaborou. Apesar de implicar com a garota, estava preocupado. E tambem curioso para ver o que havia la dentro.
-Depressa- Lina implorou, ficando mais assustada ainda.
O ambiente do lado de dentro ficava mais frio e assombroso. A energia que emanava do corpo nao poderia ser de um morto, e Lina tinha quase certeza de que ele estava ficando mais corado, cada vez com mais cara de vivo e menos parecido com um morto.
Josh e Matt pronunciaram o feitiço de quebra de selo exatamente 3 vezes antes que a porta se abrisse. Matt se apoiou na escada e se sentou no ultimo degrau, enquanto Josh entrava na saleta e Lina saia correndo dela. O garoto se aproximou do caixão e o "morto" abriu os olhos.
-SANTO MERLIN!- o bruxo voltou alguns passos e saiu da saleta do porão.
O homem se levantou do caixão devagar e caminhou ate o grupo. Ambos confusos e com uma mistura de medo e fascinio, encaravam o homem, que lhes encarava de volta e sorria.
-Quem é você?- Josh foi o unico a se expressar, enquanto os outros apenas olhavam.
-Obrigado, meus amigos, por me libertarem- ele inclinou levemente a cabeça na direçao de Lina- Terão a eterna gratidao de Elijah Mikaelson- o homem continuou e subiu as escadas enquanto falava- E eterna não é apenas uma figura de linguagem para um vampiro original.
Como um vulto, o rapaz desapareceu. Lina e Josh sequer compreendiam o que estava acontecendo. Mas Matt ja possuia conhecimento o suficiente para saber que da ultima vez que um original de Esther Mikaelson esteve em Mystic Falls, muito sangue inocente foi derramado.
E parece que a historia esta para se repetir.
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FMF- Família Mystic Falls-RPG
De Todo"Se perca em um mundo desconhecido, cheio de mistérios, magias e perigos. Uma pacata cidade que esconde em suas avenidas histórias inimagináveis. Onde a morte que outrora era a única certeza da vida, se torna tão duvidosa quanto os pensamentos disti...