Fools pt. II

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But everything is shattering and it's my mistake.
Only fools fall for you.
Only fools.

Era minha culpa. Tudo aquilo. Se eu não tivesse beijado Harry o pai dele não teria o tirado a força de mim, outra vez. 

Se eu tivesse esperado para ver Harry um outro dia e tivesse ido com mais calma, se eu não tivesse escolhido estragar a vida dele, quem sabe ele estivesse mais feliz. Eu vi o tanto que ele estava confuso quando chegou aqui. Eu não o dei tempo para processar todas as coisas que ele tinha que processar. 

Eu nem ao menos perguntei como tinha sido para ele estar de volta. 

Assim que ele foi embora, eu segui pela sala de estar, entrando na varanda e vendo a figura cabisbaixa de Harry entrar no carro com o pai, que parece furioso. Eu suspiro enquanto vejo um avião cortar o horizonte da vizinhança azul.

Naquela noite, Harry não me respondeu, não me atendeu, muito menos me ligou.

Eu era um tolo.

***

Eu acordo atordoado, com o cabelo bagunçado, a boca seca e os olhos grudentos. Talvez eu tenha chorado até dormir. Talvez eu esteja desesperado para ver Harry hoje e talvez eu enfrente todo o meu medo e insegurança e vá até sua casa para ter certeza de que está bem (e talvez sinta saudades de mim). Tenho quase certeza que sonhei com ele esse noite. Mas parece tudo tão borrado na minha mente.

Ando descalço até a varanda, o choque do chão gelado contra meu pé quente me causa arrepios similares aos de quando Harry me beijava na noite passada. Eu ainda sentia as mãos dele em mim. 

"Por favor" eu pedi baixinho ao céu, meu olhar cruzando as casinhas nas montanhas. "não tirem ele de mim de novo, por favor. Eu não ia conseguir continuar." Engulo seco enquanto sinto as lágrimas subirem ao meu rosto mais uma vez.

Meus pais não costumam acordar cedo no domingo. E eu não queria que eles me vissem daquela maneira. Eu sabia que eles me perguntariam sobre Harry, e eu sabia que eles sabiam que eu não queria falar sobre ele. 

Eu nunca contei a nenhum dos dois. Sobre eu ser como eu sou. Sobre eu gostar de quem eu gosto e não ser normal, mas eu sei que eles sabem. E eu sei que eles não ligam, eles ainda me amam. 

No dia que Harry foi embora pela primeira vez, e ainda éramos crianças... Eles já sabiam, naquela época. Eu me lembro que subi correndo pro meu quarto, batendo a porta e me escondendo debaixo da cabana de lençol como eu fazia com Harry. Mas eu estava sozinho daquela vez. E das muitas vezes depois que eu fazia aquilo de novo, jurando a mim mesmo que eu não o esqueceria até que ele voltasse para mim. 

E eu cumpri o juramento. Mesmo que eu não o fosse esquecer nunca.

Me lembro que meus pais conversaram por muito tempo sozinhos na cozinha. Meu pai estava meio alterado, por conta da briga, mas ele foi muito sensato comigo. Eles entraram no meu quarto, puxando o lençol. Eles me abraçaram e limparam minhas lágrimas, dizendo que estava tudo bem e que eles me amavam e que eu podia contar qualquer coisa a eles. 

Desde então eu sei que eles sabem. 

Eu tomo um banho demorado, lavando todas as minhas mágoas e sentindo a esperança de um dia novo crescer dentro de mim. Engulo um café da manhã rápido e saio. 

Eu dou algumas voltas pela praça, e lembro de Harry. Caminho sobre a areia quente da praia, ainda que com o vento morno da manhã, e lembro de Harry. Vou até o cais, e lembro de Harry. Eu não conseguiria fugir do que ele estava causando em mim. Eu precisava vê-lo. Eu precisava vê-lo agora.

Em todos aqueles anos, todas as vezes em que eu passara na frente da casa de Harry, ele não estava lá. Pelo menos o fato de eles não venderem ou alugarem a casa me dava alguma segurança. Agora, pela primeira vez em tanto tempo, eu sei que ele estará lá; o que eu sinto dentro de mim em relação a isso é inexplicável. 

E ele está mesmo lá. Quando eu viro a esquina, vejo Harry e seu pai acabando de carregar a mudança para dentro de casa. Fico parado em alum canto do jardim de entrada esperando que Harry me veja. Quando ele aparece, seu rosto empalidece e ele passa a mão pelos cabelos compridos, caminhando preocupado até mim.

"O que você está fazendo aqui?!" Ele pergunta. A voz grossa ainda me arrepia. "Você ficou louco, Lou?! Se meu pai te ver aqui, ele mata nós dois!" Ele vai me empurrando para fora. "Você precisa ir embora. Agora!"

"Harry, não faz isso!" eu levando as mãos, tentando impedí-lo de me levar para fora. "Para com isso! Ninguém vai matar ninguém vai matar ninguém. Harry, para!" Mas ele simplesmente parece não me escutar, ainda mais quando percebe a presença de seu pai cada vez mais perto.

"Eu sinto muito, Louis. Eu não posso mais te ver." Ele funga. Ele parece incomodado em dizer tudo aquilo. Por que ele não para? "Só... só fica longe de mim, okay?"

Algo dentro de mim morre quando ele diz aquilo, olhando no fundo dos meus olhos. E eu fico parado emudecido enquanto observo o Sr. Styles pegando o filho pelo ombro perguntando se eu o estava incomodando

"Não, hm..." ele olha para o pai. "Ele já está de saída, hm... está tudo bem."

"Ótimo." Diz o homem. "Vamos nos preparar pro churrasco, tem uma filha de uma amiga minha que mal pode esperar para ver o quanto você cresceu. Vamos ver se você se lembra dela."

"Claro, hm..." Harry diz, ainda olhando para mim. "Eu mal posso esperar." 

É nesse momento que ele para de olhar para mim.

É nesse momento que ele se vira, com o pai e caminha lentamente para dentro de casa.

Caminha com o pai.

Mais uma vez para longe de mim.



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