Mais uma noite

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Ceci

23 de julho de 2008, eu estava em meu quarto abraçada com uma das bonecas em uma noite de domingo. Minha vó estava na igreja, e eu a esperava pra jantar. Seu namorado estava na sala, como de costume tomando uma cerveja e assistindo televisão. Fechei os olhos pra dormir mas despertei como quase que num pulo quando vi a maçaneta girar.

Ele entrou na ponta dos pés e eu me levantei no susto. Disse-me sussurrando que me amava, mas eu não entendi. Ele não era meu pai. Pegou em meus dois braços e me jogou na cama, e minha cabeça doeu forte com o impacto.
-Fique quietinha, Ceci.
-O que o senhor quer?
-Você.
Olhou-me de uma forma que não pude compreender. Não sei se pelo medo ou por não enxergar um palmo a frente de mim, minha garganta travou e eu não fiz um som sequer. Nenhum pedido de socorro enquanto ele tirava minha camisola e colocava a mão no meu sexo. Eu tinha apenas 9 anos e só sentia dor e medo. Olhei para a janela em direção a igreja e fechei os olhos pedindo à papai do céu que aquilo terminasse logo. E assim foi. Foram os 10 minutos mais agonizantes da minha vida, e só o que saía de mim era sangue, e lágrimas mudas dos meus olhinhos. Minhas mãos tremiam, e ele falou baixinho:
-Amanhã eu volto, minha linda. Não conte pra sua vó.
E saiu, deixando-me sozinha em meio ao sangue e desespero.
Acordei soando e meus olhos estavam em meio à uma tempestade. Olhei para o relógio, eram 03:07 da manhã de quarta feira. 7 anos depois e eu sonhava com aquela noite (e as outras que ocorreram depois) todos os dias. Já era rotina. Peguei o remédio tarja preta da prateleira e tomei com um copo d'água perguntando a mim mesma quando era que aquilo ia passar. Afinal, mais tarde ia matar aula pra me encontrar com o Victor e um amigo dele que esqueci o nome. Ele me disse que ia levar um beck pra eu experimentar e sair da "bad". Quem sabe, né?


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