No jardim, a ansiedade de Eugênio aumentava. Os gases se acumulavam em seu estômago. A temida aerofagia estava à espreita. De repente, um certo murmúrio chegou de dentro. O homem de terno verde-garrafa entrou esbaforido, dizendo para as cantoras:
- Mister Fairfax chegou! Mister Fairfax chegou!
- O trio passou a tocar "Good Save the Queen". Em ritmo de bossa nova. Fairfax era magro como um alfinete. Trajava um conjunto safári bege e passava o tempo todo com um lenço na nuca, enxugando o suor. Entrou no salão, acompanhado de grande comitiva.
Eugênio pensava no que fazer a respeito do contrato, quando viu a namorada de Plínio se aproximar. Em sua direção. Sem lugar melhor, jogou a pastinha por baixo da mesa do cisne de gelo.
- Plínio ficou tão alvoraçado com a chegada do inglês, que eu achei melhor dar uma volta aqui fora - disse Maria Isabel, puxando conversa. - Parece que ele é o convidado especial!
- Parece.
- Fizeram essa festa toda pra ele?
- Não.
- Por quê, então?
- Aniversário.
- Quem faz anos?
- Eu.
- O Plínio não me disse nada!... Parabéns!
Disse isso e chamou o garçom. Pegou os copos e entregou um a Eugênio.- Você se importa de brindar com água mineral? É que eu não bebo refrigerante - revelou Maria Isabel.
Eugênio olhou, apavorado, a água em seu copo. Era água mineral. Com gás.
- Agora... Feliz aniversário!
Levantaram os copos para a saudação e beberam tudo. Em seguida, Maria Isabel se aproximou e deu um beijo no rosto do aniversariante. Eugênio sentiu os gases querendo subir.
- Agora você me dá licença - disse Maria Isabel. - Vou ver se o Plínio está mais tranquilo.
E se foi. Eugênio não pôde acompanhá-la nem com os olhos. Travava um luta inglória contra seus gases. Só depois de alguns minutos conseguiu murmurar, baixinho:
- Você é tão bonita...
Mas ela já estava bem longe.
No salão, as coisas não andavam nada bem para o lado do doutor Ignácio. Não encontrava um dos tais contratos - o mais importante. Tinha remexido todas as suas coisas: nada.
Seu sobrinho era um fracasso como intérprete; dizia yes ou no para tudo. Mister Fairfax começava a dar mostras de irritação. Gesticulava nervosamente. Doutor Ignácio não sabia mais o que fazer.
Foi aí que avistou Eugênio. O menino chegava do jardim. Andava muito devagar - passo a passo - e tinha uma expressão concentradíssima.
- Filho!
Eugênio estancou. Voltou os olhos na direção do pai, devagarinho. Doutor Ignácio acenava para que se aproximasse. O garoto obedeceu.
- Não pode andar mais rápido?
Eugênio não conseguiu responder. Os gases estavam em revolução dentro dele. Seu pai gesticulou para o inglês, indicando seu rebento.
- Comprimente o nosso convidado.
O garoto estava mudo. Sentia-se quase hipnotizado com as bolinhas que rebentavam na taça de champanhe de Mister Fairfax.
- Como é, filho? Não diz nada?
O inglês estava sério. O garoto tentou dizer "boa noite": abriu a boca e o que se ouviu foi uma espécie de rugido selvagem ecoando das profundezas; começou baixinho, quase imperceptível; depois veio crescendo, crescendo...
- Rrrrrrrrrroooaaaaaarrrrrgh!
Estava feito. Eugênio tinha arrotado. "A aerofagia venceu a batalha final", pensou.
Um silêncio tumular caiu sobre sala. Todos os convidados fixaram os olhos no filho do doutor Ignácio. Uma longa pausa se fez. Ouvia-se apenas, vindo do jardim: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..."
De repente, um cheiro de queimado penetrou no salão. Alguns convidados chegaram a perguntar: "Minha nossa, que foi que esse moleque andou comendo?" O homem de paletó verde-garrafa entrou, gritando:
- Fogo! Fogo no jardim!
Houve um alvoroço. Todos correram na direção do jardim. Só Fairfax ficou. Bebeu o resto do champanhe em sua taça. Levantou-se. E saiu, calmamente, pela porta da rua.
Eugênio chegou a tempo de ver o fogaréu. Uma fagulha tinha caído dentro do ponche. A labareda atingida o toldo. Os garçons tentavam inutilmente controlar o incêndio.
O cisne de gelo ia se dissolvendo entre as chamas: o longo pescoço foi encolhendo.
- Meu cisne... - choramingava o homem de paletó verde-garrafa de um lado.
- O ...rrrroooaarrgh... contrato... - murmurava o Eugênio do outro lado, arrotando mais uma vez.
O fogo consumia tudo. Inclusive a pastinha de Edmundo onde estava o contrato que o doutor Ignácio tanto procurava. Eugênio percebeu que arranjara uma grande encrenca com seu pai.
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Office-boy em Apuros
HumorAguentar a constante perseguição de Plínio, supervisor dos boys do escritório, não é fácil! Mas isso é o de menos para quem, como o office-boy Ed Onda, se vê apaixonado por Maria Paula, que ele pensa ser Maria Isabel - Namorada de Plínio e paixão se...