III

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Saphira Point of View

Os preparativos para a cerimónia eram minuciosamente organizados sob a rígida vistoria da senhora minha mãe. Eu estava nervosa. Finalmente serei apresentada perante a corte amariana como uma mulher completa. Uma nova fase da minha vida aguarda-me e eu espero que os deuses abençoem este dia e todos os que se seguirão depois.

Servos entravam e saiam dos meus aposentos numa correria alucinante. As minhas aias estavam especialmente aperaltadas ambas em vestidos feitos de um linho fino cuidadosamente tecido. Os penteados de Naevia e Melita, embora semelhantes, indicavam claramente que elas serviam à menina que naquela mesma tarde se tornaria mulher oficialmente. Já as minhas damas de companhia, apesar de pertencerem a famílias nobres, dispunham de vestidos igualmente simples e elegantes cujas cores brancas simbolizavam a virtude de quem serviam e a sua própria pureza também. A única coisa que as diferenciava das aias, eram as finíssimas tiaras de ouro cravadas com pequenos diamantes em volta das suas testas.

Não me foi permitido que saísse dos meus aposentos temporários. Ninguém para além das minhas servas e damas de companhia poderia ver-me nos dias precedentes à cerimónia. Assim sendo, fui enviada com antecedência para o templo. Uma banheira teve que ser trazida e a minha pele foi esfregada como jamais havia sido, deixando-me ligeiramente marcada e vermelha.

Com o auxílio das minhas damas de companhia, que eu tanto estimava como amigas, visto o vestido simplório designado para a cerimónia. Naevia penteava os meus cabelos de modo a deixar os cachos rebeldes o mais natural possível. Eu seria apresentada com os cabelos livres de quaisquer penteados e grampos, desprovida de adornos desnecessários aos olhos dos deuses. E assim seria recebida por eles; descalça, sem ouros ou pratas, sem pinturas e outros embelezamentos quaisquer que não me tivessem sido dados à nascença. Os deuses receberiam uma nova serva, humilde, fiel e à mercê da sua vontade.

O meu rosto também foi coberto por um véu de renda branca, deixando apenas os meus olhos de fora. Por fim, estava pronta para ir de encontro ao destino que me era reservado.

Se eu dissesse que não estou nervosa estaria a mentir descaradamente. O meu estômago anda às voltas e cambalhotas e eu sentia que a qualquer momento podia tombar, ali mesmo, no meio do chão de mármore. Um forte aperto segurava o meu coração, mas por hoje eu decidi ignorar os meus maus agouros e acreditar que tudo sairia como os deuses bem planearam.

— Porque te afliges tanto, minha amiga? — Gwen, umas das minhas amigas e dama de companhia questiona quando somos avisadas de que teríamos que sair em breve.

— Nada demais. Só o nervosismo a atrapalhar-me os pensamentos. Sabes bem como sou ansiosa. — sorrio levemente, mesmo debaixo do véu.

— Hoje não só é o último dia do teu rito de passagem como também é um dia muito especial para ti. E eu não podia estar mais feliz! Mal consigo acreditar que já és uma mulher. — Charlotte diz quando segura em ambas as minhas mãos transmitindo o conforto que eu tanto precisava e nem sabia. — Sinto que ainda ontem roubávamos os doces de Bragnae e corríamos pelos jardins da rainha causando pânico aos jardineiros. — Suspira a morena com a voz melódica coberta de saudade.

— São bons momentos que levarei sempre comigo. Quer dizer, apesar de me tornar oficialmente uma mulher hoje, eu não deixo de ser a mesma Saphira de sempre. — refugiu-me no forte abraço das três. — Apenas carregarei mais responsabilidades e obrigações, como bem sabem. Mas nada mudará. Por isso parem de falar como se algo fosse mudar, pelos deuses! Aliás, no ano passado, Charlotte também teve a sua cerimónia de maioridade e absolutamente nada mudou. — afirmo. — Durante toda a vida sempre nos mantivemos unidas e assim permaneceremos.

Lost in a War ☛H.S. [a reescrever]Onde histórias criam vida. Descubra agora