Eu nunca quis dizer muita coisa. Eu não era de dizer muita coisa, nunca havia sido. Por isso, as palavras ficavam presas na minha garganta, paravam antes dos lábios e eu, mais uma vez, não conseguia nem ao menos te dizer o quanto estava bonita naquele vestido simples que usou na primavera.
Como sempre fiz, te acompanhei em silêncio. Diferente do que possa achar, ouvi cada palavra, escutei cada história, prestei atenção em cada intervalo que você fazia para respirar e corar, abaixando os olhos, imaginando que eu não estava dando importância. Compreensível.
− Continue.
Era isso que eu dizia quando sua voz não me atingia por mais de alguns minutos. Seu silêncio não me era confortável; muito pelo contrário, ele gritava em meus tímpanos que você não estava bem, que havia algo errado e isso me fazia agir.
As missões ao seu lado eram horríveis. Sim, horríveis. Eu te conhecia há tanto tempo, já tínhamos passado por tanta coisa que ficar sozinho com você, sabendo de seus sentimentos, era pedir demais para minha sanidade. Nunca passou pela sua cabeça que eu saía de madrugada para aliviar a tensão que seu corpo provocava em minhas veias? Nunca passou pela sua cabeça que quando eu te encarava era para poder captar um pouco mais do seu corpo? Não. Você era ingênua demais, ainda é. Mesmo com a guerra, mesmo com tudo que aconteceu, você é ingênua demais sobre si mesma.
Acha-se indesejável, não é? Sei que tenho minha culpa nisso. Você deve ter entendido cada rejeição minha como "não sou boa o suficiente". Eu sei que sim, ouvi sua conversa com Naruto certo dia. Contudo essa não é a verdade. Eu te rejeitei, te afastei, mas não coloque a culpa em seu corpo ou em sua aparência, meus motivos são muito mais profundos do que essa banalidade. Aliás, se deseja mesmo saber, gosto do tom da sua pele, do contraste com seus cabelos rosa, dos olhos verdes que chamam tanta atenção, de cada curva do seu corpo, cada ondular harmônico e sensual. E parece que não era só eu que gostava. Até mesmo hoje, parece que não sou o único a te olhar com mais desejo do que o recomendado pelos bons costumes.
Vi você saindo com alguns outros caras da vila, vi você sorrindo e corando para eles. Vi e não gostei. Mas sou um Uchiha. Depois do que fiz com Konoha, não posso simplesmente chegar na vila e te arrastar ou então começar uma briga com qualquer que seja o infeliz. Minha indiferença nunca foi por não sentir algo, foi por sentir demais e saber que isso me arruinaria. Você conhece a história do meu clã, sabe bem como somos passionais e perdemos a cabeça fácil com o que nos pertence mesmo que você ainda não me pertencesse. Tsc, detalhe irrelevante.
Achei, uma ou duas vezes, que te perderia para Gaara. Ele te enxergou como mulher antes que eu a visse dessa forma. Ele te quis como mulher durante a guerra. Ele só esperou a poeira baixar para se aproveitar de uma reunião dos kages em Konoha e se aproximar. Você aceitou todos os toques. Te odiei naquela noite. Te odiei tanto que nem mesmo Naruto com sua conversa de "Sakura ainda te ama" pode me fazer sentir melhor. Você gostou ao menos? Ele te fez se sentir bem? Ou você fechou os olhos e me imaginou como muitas vezes me peguei fazendo enquanto estava com outra mulher?
Não quis te olhar no dia seguinte. Aliás, fiz questão e me esconder durante o dia todo e me senti extremamente satisfeito quando você chorou achando que eu havia ido embora novamente. Sua dor me fez bem naquele dia por aplacar a minha.
Gaara felizmente voltou para Suna. Não sem antes te convidar, não é mesmo? Seus olhos verdes estavam opacos, seco de tanto chorar. Resolvi que era um bom momento para aparecer.
Ainda me lembro de como seus lábios tremeram sem que as palavras saíssem, de como você recuou achando que era uma ilusão e do quanto me xingou, revoltada. Gaara entendeu tudo naquele momento e se despediu formalmente. Agradeci. Não queria arrumar uma confusão logo com ele que tanto me odeia e apenas me tolera por Naruto.
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Passo a Passo
FanficSeu corpo tremeu, eu sentia seu coração acelerado batendo e, pela primeira vez, gostei de entrar no meu clã porque sabia que já não era o único pertencente a ele.