Capítulo 02 - Colega de quarto

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Diego sai praticamente me puxando todo o caminho, perco as contas de quantas vezes quase caio escada a baixo. Entretanto, nesse breve trajeto embaraçador posso ver o quanto que a faculdade é maravilhosa. Eu de fato fiz a escolha certa, não tenho dúvidas.

Descendo o primeiro lance de escadas damos de encontro a uma grande cantina que interliga as escadas dos outros corredores do prédio de artes. O lugar está realmente lotado, tudo que ouvimos são gritos eufóricos de pedidos, ou barulho de passos em conjunto. Só não ouvimos cadeiras sendo arrastadas porque elas são presas as mesas largas. É realmente muita gente e eu acho isso tudo nada mais do que mágico.

Eu nunca havia antes entrado em contato com tantas pessoas ao mesmo tempo num ambiente escolar, sempre estudei com professores particulares e tido poucos amigos, ainda mais por sempre acompanhar meu pai em viagens, isso tudo é muito novo para mim.

Quando vamos nos encaminhado para o segundo par de escadas que liga ao enorme pátio verde entre os três prédios que constituem a faculdade, quase caio pela milionésima vez.

- Caramba, você pode ao menos largar o meu braço um pouco? – soo um pouco grossa.

- É... Desculpe-me! Às vezes eu tenho atitudes desse tipo e nem percebo – parece chateado.

- Não, me desculpe, foi só que você estava realmente me machucando.

- É que eu estou muito empolgado para que você conheça meus amigos, eles vão adorar você. – Tudo bem, talvez ele não esteja tão chateado e eu um pouco a fim de conhecer esses amigos.

Continuo o seguindo. Passamos por diversos grupos de pessoas, de diversos estilos: roqueiros, hippies, líderes de torcidas, os nerd's... Era realmente dividido, com naqueles filmes, sabe?

Quando abro a boca para perguntar por seus amigos pela segunda vez, ele acena e aponta para duas garotas que estão sentadas em uma mesa que deveria ser usada para jogar xadrez. Ao vê-las o nervosismo toma conta de mim.

- Garotas – começa assim que nos aproximamos – essa aqui é Viviane, acabei de conhecê-la, ela estuda moda comigo e é italiana, como Gustavo – pergunto-me quem é Gustavo, mas resolvo não falar nada no momento. Ou Diego é capaz de me bater, caso o interrompa.

– Ela não é legal? – não, elas não me acham legal, sabe por quê? Por que você não me da a oportunidade de falar, nem a elas.

- Oi – resolvo interrompe-lo, com certo receio – prazer.

- Oi, eu sou Taísa, prazer - levanta e me da um beijo em ambas as bochechas, para isso eu preciso me abaixar um bocado.

Taísa se mostra simpática ao me cumprimentar, uma morena baixinha de cabelos curtos e estilo mais revoltado, com roupas pretas e anéis de caveira, porém não mais do que a outra garota que está sentada ao seu lado, ao qual não se da ao menos o trabalho de levantar o olhar em minha direção.

Essa garota que Diego havia comentado ser Stéfanne me chama atenção, ela parece misteriosa e definitivamente não me achou legal. Tem cabelos na cor roxa lindos, que chegam quase na altura da cintura, mas bem rebeldes, precisando urgentemente de uma hidratação. Deve ter olhos claros também, mas não da pra reparar já que permanece com a cabeça abaixada e uma longa mecha de cabelo cai sobre o rosto pálido.

Como imaginado, não chega a se apresentar e quando não corresponde o meu aperto de mão encaro Diego com um olhar de socorro.

- Steff, essa é Viviane, ela é nova aqui na cidade também, porém não conhece ninguém ainda, se mostre simpática e a cumprimente.

- Oi – ela levanta a cabeça colocando o cabelo para o lado, e sim, ela tem olhos claros – bem, eu fiquei de ir à cantina agora, se não se importam, até a próxima – curta e grossa, penso.

- Antes que você pergunte, ela é assim, só se torna pior na TPM – sorri, ele realmente deve estar acostumado com toda essa antipatia. Esse garoto é maluquinho.

O resto do horário livre segue tranquilo com a nossa conversa, a garota de nome Stéfanne não voltou, o que é melhor, pois me sinto mais à vontade e começo a me acostumar as loucuras de Diego.

Aproveito esse tempo para saber um pouco mais deles, Taísa, a menor, namora um amigo do grupo, mas que não veio hoje por uns problemas pessoais, o que a faz choramingar de saudade em vários momentos.

Fico sabendo que tem outro garoto no ciclo, o tal Gustavo, que também deve ser da Itália, pela comparação. Os três garotos incluindo o namorado de Taísa que descobri cursar cinema, dividem uma casa à beira da praia, um presente da mãe de Diego para ele assim que conseguiu a bolsa na faculdade.

- Deve ser muito legal! – falo entusiasmada sobre eles morarem em uma casa à beira da praia. E sozinhos.

- Em alguns momentos, na maioria das vezes ninguém quer cozinhar ou limpar nada, geralmente as garotas vão lá dar uma força - da uma piscada - quer dizer, isso há alguns meses desde que se mudaram para Santa Mônica, estou aqui desde o ano novo – agora sim ele parece uma pessoa normal falando.

Continuamos falando entusiasmados sobre nossas novas vidas, mas também as nossas novas responsabilidades e as mudanças, tudo ainda parece um pouco assustador.

Ouço comentários sobre todos os seus amigos quando por curiosidade resolvo perguntar:

- E quando eu vou conhecer os garotos? – agora fico empolgada para conhecer o resto da "turma".

- Acredito que amanhã você conheça eles, pelo menos Mateus - Taísa responde, sabendo que seu namorado virá.

Antes de conseguirmos falar mais alguma coisa Diego percebe que estamos atrasados para a próxima aula e nos encaminhamos as pressas para as escadas, dessa vez indo a um pequeno auditório no corredor vizinho.

Ele é espaçoso, mas da a impressão de ser menor por ter as paredes pintadas de uma vermelho forte. Parece ter lugar para mais ou menos 25 pessoas, obviamente o número de pessoas que tem na minha sala. No centro do circulo formado pelas cadeiras uma mulher jovem de cabelos castanhos e pele alva, nossa professora de construção e união de peças, começa a primeira aula com uma breve introdução sobre o quê e como trabalharemos no período.

***

A tarde passa voando (mesmo ainda não tendo colocado a mão na massa), tanto que me espanto ao fim da aula com o mesmo desfecho do tempo da manhã.

Apesar de ter vivido no mundo da moda desde criança, percebo agora que estou no caminho certo.

Ao descer as escadas no fim da aula me despeço de Diego que não vai para as alas dos dormitórios e sim para a sua casa, o que me deixa com um pouco de inveja, confesso.

Encaminho-me para o estacionamento pegando a minha enorme mala que havia deixado no porta-malas do meu carro e sigo para onde ficam os dormitórios. Não havia ido mais cedo me acomodar por estar atrasada para a primeira aula e por ter gasto todo o meu tempo vago em conversa. Pois é, mal de ser geminiana.

Depois de alguns minutos subindo escadas com uma mala que devia pesar mais de 20 quilos avisto uma porta com o número 412 preso a ela.

Olho a minha ficha e confirmo, quarto 412, ótimo! Finalmente vou poder tomar um banho, deitar em uma cama e relaxar. Não vejo nenhum papel pendurado na fechadura, o que indica que a minha colega de quarto já se acomodou e retirou o gancho que ficaria ali.

Paro na porta e respiro fundo contando até dez, ajeito a bolsa sobre o ombro e apoio a mala de rodinhas sobre o tapete.

Quando me sinto pronta abro a porta pronta para encontrar a pessoa que dividiria um cubículo comigo por seis meses, e... Não pode ser!

- Eu entrei no quarto certo? – pergunto rezando para receber um não como resposta.


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