Quarenta e cinco

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  Não me arrumo demais nem faço nada em termos de beleza além do que faria normalmente hoje para ir às Olimpíadas. Também estou com pouca disposição para perdoar o Bernardo de primeira.

Apesar da saudade dele doer, só de imaginar Clara Melo e ele juntos minha vontade é de socar alguém. Então espero que seja tudo de fato um mal entendido. Caso contrário, talvez eu não me segure e faça mesmo com Bernardo o que Bruna sugeriu.

Com a carona de Rafa, chego no colégio faltando meia hora para o horário marcado. Acabo ficando à espera sozinha no pátio, já que meu irmão disse que não iria aguentar mais um dia de olimpíadas escolares e fugiu descaradamente para a praia.

Posso ouvir a gritaria no ginásio daqui e isso explica o porque de estarem tão poucas pessoas no pátio. Enfraquecida pela preguiça resolvo esperar sentada por Bernardo. Devo admitir que estou um pouco nervosa.

Por mais que tenha sido ontem, tudo o que aconteceu parece ter nos distanciado séculos. Ainda assim meu coração bate acelerado quando ouço passos no pátio.

È ele? Hã. Não, só Bruna. Ela está com uma cara péssima. Será que não dormiu direito à noite?

-Ainda bem que te achei, Cléo.

-Nossa, que foi? Alguém morreu?

-Não. Mas foi quase. Quero dizer...

Ela dá uma pausa.

-Bru, você está me assustando.

Minha amiga parece sem jeito, algo que só acontece quando o cometa Harley passa na Terra, e isso me faz perceber que o caso é sério.

-Nós fizemos uma cagada. Tipo, muito, muito grande.

-Você está falando do Bernardo?- pergunto me levantando.

Ela faz que não com a cabeça.

-Clara.

-O que tem a Caramelo?- estranho cruzando os braços.

-Lembra da pegadinha da purpurina?

-Sim. E daí?

-Então, a Clara passou a sombra. Mas ela começou a coçar o olho e foi ficando vermelho e vermelho. Depois de um tempo parecia que ele tinha virado uma bola de sangue. Ela foi pra enfermaria pra tentar limpar, mas a enfermaria a encaminhou direto pro médico dizendo que era urgente. Que ela poderia até perder a vista.

Se antes eu estava sentada por pura preguiça, agora desabo no banco da escola. Meu Deus, o que foi que eu fiz?!

-E o que aconteceu depois?-pergunto com a voz falha.

-Não sei muito bem. Quero dizer, eu não vi nada. Só li no grupo da bandeira. Foi uma comoção por lá. E olha que pro povo da escola a Clara não fede e nem cheira, hein. Mas todo mundo ficou preocupado porque pareceu ser sério.

Rapidamente saco meu celular e procuro por mais informações no grupo. Nada.

No exato momento em que decido perguntar a Bru se alguma das Caramelo veio hoje Amanda passa pelo pátio em direção ao ginásio.

Levanto-me correndo e minha abordagem espalhafatosa a assusta. Parece até que está com medo que eu bata nela.

Vou direto ao assunto antes que a garota entenda errado e saia correndo.

-A Clara está bem. Já saiu do hospital?

È uma pergunta inofensiva, mas Amanda assume uma postura defensiva e fecha a cara.

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