prologue

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Alô, alô. Então, como prometido, voltei hoje para deixar o prólogo. Realmente espero que gostem! All the love, x.


   O silêncio chegava a ser incomodo no Departamento Judiciário de Michigan, em Detroit. O prédio sempre cheio e barulhento ao fim do expediente, hoje se encontrava praticamente vazio. Não que fosse preferível o som irritante das gavetas sendo fechadas com força ou das pessoas que não digitavam, mas atacavam os teclados. Apenas seria mais agradável se houvesse um motivo importante para todos terem largado o trabalho mais cedo – além da preguiça característica deles.

   Durante a manhã, correu um boato pela avenida próxima ao prédio que dizia que todos os estabelecimentos, inclusive o departamento, deveriam ser fechados antes das oito da noite devido à violência extrema do bairro; dito até que alguns vândalos iriam invadir os lugares que permanecessem abertos após o horário. E, mesmo assim, lá se encontrava Liam, com o relógio quase marcando dez horas da noite, trancando as gavetas de sua sala, se preparando para voltar para casa e, principalmente, são e salvo. Era claro que o que havia sido espalhado durante a manhã não passava de um boato.

   — Liam! Não desligue o ar condicionado! – Roger, um dos únicos funcionários que o apoiara em permanecer no local, reclamara quando o aparelho apitou.

   Só faltava nevar dentro da sala principal do prédio e, mesmo assim, eles pediam para deixá-lo ligado. Era incrível.

 — Aqui está pegando fogo! – uma das moças da limpeza entrou correndo na sala, dramatizando, e então o homem soube que realmente era necessário deixar o ar condicionado ligado.

   — Nunca vi vocês tão calorentos – revirou seus olhos, apertando qualquer botão do controle.

   Pra quê tantos botões nessa droga?

   — Não é nesse sentido! O prédio realmente está pegando fogo! – a mulher passou por Liam, começando a digitar a senha da porta para destrancá-la.

   De imediato, ambos os homens tiveram problemas para entender o que estava acontecendo, mas quando um pedaço de madeira chamuscando caiu sobre a mesa de Roger e seu grito ecoou pela sala, entenderam que não era brincadeira. O prédio realmente estava em chamas.

   — Quem está lá em cima? – o mesmo indagou, exaltado, correndo em direção as escadas que pareciam possuir mais degraus do que o normal.

   O desespero começava a tomar conta de si e, mesmo que ainda não sentisse todo o calor que eles sentiam, a movimentação fizera seu corpo aquecer o suficiente para abrir os primeiros botões da camisa.

   — As três novatas da administração estão lá em cima. Agora, tem como destrancar isso? Eu realmente não quero virar churrasco – ela gritou enquanto digitava qualquer sequência de números na tela.

   — 130100 – a mesma pôde ouvir perfeitamente cada número, ainda que Liam corresse pelas escadas.

   O homem sentia a adrenalina correr por suas veias enquanto suas passadas se tornavam cada vez mais largas e velozes, e sabia que era mais uma de suas ditas anomalias. Numa situação daquelas, o mesmo se esforçaria para não demonstrar as coisas não tão comuns que conseguia fazer, mas fora inevitável. A ansiedade e preocupação se espalhavam por seu cérebro e tudo o que podia fazer era acelerar seus passos numa velocidade que nem todos conseguiriam alcançar.

   A ardência entre seus dedos começou a perturbar seus pensamentos enquanto analisava o buraco que havia no chão. Até mesmo podia ouvir os gritos estridentes ecoando próximo à si e, num ato impulsivo, liberou o material com textura pegajosa da ponta dos seus dedos e se jogou sobre o buraco, preso àquela teia. Logo fora capaz de segurar-se à borda quente na extremidade do outro lado do caminho, não hesitando em correr até a sala.

   Passou a analisar as saídas que haviam ao redor da sala de reuniões, já que seria bem difícil voltar para a saída principal usando as escadas, visto que em poucos minutos ela estaria a ponto de despencar. Junto com o estrondo da abertura da porta, houve um barulho vindo do andar debaixo. O lugar ia desabar. Liam começava a respirar com dificuldade e a fumaça atrapalhava sua visão. Ainda assim, não encontrou dificuldades em abrir a porta, logo sentindo o abalroar de corpos se jogando contra si, o fazendo desequilibrar por um momento.

   — Aguentem firme – num pleno malabarismo, agarrou uma delas com o braço esquerdo, jogando-a sobre o ombro. O fez o mesmo com a outra, tendo os dois ombros ocupados. A última segurou firme em sua cintura, o fazendo desacelerar suas passadas pelo peso que carregava consigo.

   Esperava que as três mulheres não saíssem conscientes o suficiente para afirmar o que haviam visto ali, pois o homem não estava medindo esforços para esconder o que era capaz de fazer – principalmente ao descer as escadas da saída de emergência, apenas para ouvir uma voz grossa gritar por ajuda ainda no andar de cima. Numa situação dessas, há sempre duas opções: ir embora ou voltar e ajudar. A mais viável é a primeira, é claro, mas não a correta.

   Ao entreabrir a porta, deixou as meninas do lado de fora, afastadas do prédio, ouvindo a polícia chegando. Ainda demoraria uns minutos, mas sua habilidade sempre o ajudava, não que fosse sempre de ajuda, a ouvir e sentir – mesmo a distância. Numa corrida diretamente para dentro do prédio, esta que o fazia ouvir a costura da camisa se desfazendo  enquanto cobria seu nariz com a camiseta, tentava alcançar o andar em menos da metade do tempo que gastaria correndo normalmente. Podia avistar um homem vindo em sua direção, quase alcançando a escada, quando parte do telhado despencou entre seus corpos.

   — Eu não vou conseguir sair!

   Liam não fizera questão de responder naquele momento; apenas empurrou o entulho e esticou sua mão para que ele agarrasse. Ao puxá-lo, como se fosse uma coisa bem fácil, pôde ver a surpresa estampada no rosto à sua frente por não ter dificuldade alguma ao empurrar algo tão pesado.

   — Você... Você é como eles! – o ouviu dizer enquanto corriam em direção as moças.

   — O que você está dizendo? Igual a quem?

   — Eu sabia! – ele parecia estar em um transe — Eles precisam de você.

   Porém, ou o cara havia inalado muita fumaça ou ele realmente estava em choque.

   Houve um pulo assustado de ambas as partes ao ouvirem mais um estrondo do prédio caindo aos poucos. O som das sirenes se tornava cada vez mais alto, mas tudo o que Liam pensava era em sair do lugar e arrastar o louco que estava ao seu lado junto, sabendo que ele tinha visto o jeito que lidava com a força, velocidade e talvez até com o estranho material que escapava por seus dedos.

   — É bom que você não conte a ninguém o que viu lá dentro – o tom rude dito enquanto olhava no fundo de seus olhos parecera surtir efeito por um segundo.

   — Eu não vou contar. Você não é o único com esse dom, rapaz. Precisamos nos enc...

   Ele foi cortado pelo carro da polícia estacionando à sua frente. Tudo acabou tão rápido quanto havia começado. Ainda quando adentraram separados na viatura, pela janela, o jovem podia sentir o olhar sobre si, o observando com admiração. Liam precisou se espremer entre duas das mulheres que estavam presas, com ambas choramingando em seus ombros, mas nada daquilo prendia sua atenção. Nada poderia tirar seu foco de que agora sabia que não era o único. A única aberração, o único diferente. Mas a verdade é que ter medo do desconhecido era o mais comum, e tentar entender aquele homem não fazia parte de seus planos.

Claro, não foi a última vez que se encontraram.

Acredite, dali em diante, a história apenas se tornou mais estranha.

Darkside | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora