- ENTÃO VAI SER ASSIM, LOGAN? -Sua voz permeada em dor e angústia atingiram meu tímpano como um soco.
E eu não faço o tipo de pessoa que sente dor com socos.
- Vai me deixar ir, sem fazer nada para evitar isso? - Continuou, o olhar ameaçando lágrimas torrenciais. - Não vai perguntar porquê, não vai vir ao meu encontro, pedir para que eu fique?
Abri minha boca para responder, mas minha garganta parecia não emitir som algum. Ela deu alguns passos para trás, o cabelo esvoaçando ao vento e colando nas lágrimas que já escorriam em sua face angelical.
- Eu pensei que você me amava. - Ganiu. Sua voz mal saía e eu tive que fazer um esforço extra para ouvi-la diante daquele vendaval. - Depois de anos de convivência, de altos e baixos... eu vou ir, e você não levantará um dedo para me impedir.
Meu corpo retesou-se e forcei um passo. Um passo que não aconteceu. Parecia que meus sentidos estavam estáticos, sem mover, sem falar, apenas a ouvir. Um espectador à mercê de seu fim inevitável. Fitei seus olhos, em uma súplica silenciosa. Mas ela parecia não perceber, estava imutável, olhando uma parede de gesso ao invés de mim. Seu pé esquerdo descalço tocou o beiral do precipício, e meu coração batia em uma velocidade que eu imaginava ser impossível de atingir sem um consequente ataque cardíaco.
Ela posicionou-se na beirada, virada de costas para mim e todo meu pavor.
Sentia o suor, meu coração palpitando em minhas veias, o grito silencioso que eu me esforçava para produzir e meu corpo negava em emitir. Virou o rosto para mim, e tive a certeza que seria a última vez que eu o veria com vida. Meus músculos se rebelavam contra aquela força invisível e esmagadora que me proibia de chegar até ela e segurá-la em meus braços. Eu iria explodir com tamanho esforço que eu fazia, mas nada mudava. O tempo se arrastava, como em câmera lenta. Doía, mais do que qualquer surra. Queimava, dilacerava. E meu corpo não emitia uma resposta.
Ela soltou uma última lágrima antes de seus pés pegarem impulso e se arremessarem ao infinito, sem falar nada, sem música dramática, apenas o silêncio. O frio e duro silêncio da verdade. E no momento que ela saltou, senti as amarras do meu corpo se desfazem, como uma ironia do destino. Como se ele dissesse: "Ei, agora vá pegá-la."
Gritei um "NÃO!" que eu jamais seria possível de produzir em condições normais. Meu corpo disparou à frente em fúria, na vã esperança de agarrar seu punho que se desfez com o vento.
Eu estava diante aquilo que eu amava sumir em um infinito buraco.
-LOGAN! - Senti minha face formigar e esquentar em seguida.
Alguém me deu um tapa.
Era Dominic. Ele me segurava pelos ombros, e ao ver que eu havia recobrado a consciência, afastou-se cautelosamente. Três pares de olhos me fitavam, a inegável preocupação estampada. E foi aí que entendi que era só um sonho. Ou pesadelo.
Meu corpo sentou-se com dificuldade, pingando em suor, as mãos tocando o colchão duro e fino. Ouvi meu coração disparado, e sentia toda minha musculação tensionada, como se estivesse acabado de sair de uma luta.
- Ah. - Foi tudo que consegui dizer.
Levei uma das mãos ao rosto, querendo sumir.
- Outro pesadelo, né? - A voz de meu irmão mais novo, Lucas, ressoou baixa. Assenti em resposta, sem a capacidade de ter outra reação. - O que era dessa vez? Mamãe de novo? - Perguntou, fazendo meu coração estraçalhar mais do que eu considerava aceitável.
- Não.... Dessa vez não. - Respondi, a voz rouca. Me levantei, sacudindo a cabeça e tentando levar as imagens ruins para longe. - Mas estou bem agora. - Menti descaradamente, sabendo que ninguém acreditaria em mim. Meus olhos dispararam para o relógio. 04:30 da manhã. - E vocês têm que dormir. Já para cama, os três.
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Impervious
Random"Impervious - Impenetrável: 1. Que não dá acesso ou que não permite a passagem. 2. que não se pode compreender ou explicar." Brasil, ano de 2017, Vila dos Antares. A pequena cidade é o lar de Logan, chefe de sua família que foi abandonada pelo pai...