Crônicas do Abismo - Nos Portais do Abismo

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Era mais uma noite fria no grande deserto e como de costume a desordem do Saloon contrastava com a tranquilidade do lado de fora. Estava cheio, como de costume e tinha o ar pesado, como de costume.

-Novamente aqui... Acho que nunca vamos nos livrar desse lugar. - Disse um abissal numa mesa destacada, próxima a uma das extremidades. Ele tinha a aparência definitivamente humana, mesmo sendo enorme, era muito musculoso e tinha grandes cabelos ruivos que mesmo presos insistiam em algumas mechas caírem por sobre seu rosto até depois de seus ombros. Era mal encarado e tinha a voz condizente com seu porte brutal. -E essa escória barulhenta!?... - esbravejava enquanto batia a grande, e agora vazia, caneca de madeira na pobre mesa, que nada tinha com sua fúria.

-Você mesmo é o mais escandaloso dentre todos aqui. -dizia o outro homem na outra extremidade da mesa com um leve sorriso. E isso fez o outro ficar ainda mais irritado.

-Nanico magricela, não me provoque!

O outro não era de fato magricela, muito menos nanico. Era também parecido com um humano padrão, não era alto nem tão pouco baixo, parecia ter uma constituição física forte mas não era um brutamontes, tinha os cabelos pretos até a altura do queixo, uma barba por fazer e um olhar forte e penetrante, conseguia com isso deixa seu amigo inquieto.

-Vai ficar aí me olhando ou vai pegar mais bebida? -dizia o grandalhão -Afinal hoje é uma noite de celebração! Estamos vivos e novamente aqui, nos encontrando de novo nesse Saloon fedorento e bebendo as mesmas porcarias de sempre! E isso é incrível!

-Você está coberto de razão, Velho amigo. Sabe, acho que mesmo que nós quiséssemos muito nós não conseguiríamos nós livrar desse lugar.

Ficaram ali por um tempo em silêncio, apenas olhando em volta, para a mesa, para os copos vazios.

-To olhando aqui para minha caneca e acabou de me ocorrer que ela continua vazia e não vai ser por mágica que ela se encherá e olhando agora você continua acomodado aí. -o grandalhão dizia calmamente ao outro -Agora se levanta, vai até o balcão e peça por uma ânfora de vinho, e não economize, traga uma das grandes!

-E existe alguma razão para EU ir ao invés de você?

Eles se encararam por um tempo e então quase que ao mesmo tempo ergueram seus punhos serrados e disseram em uma única voz enquanto no mesmo momento desciam ao mãos ferozmente:

-JO KEN PO!

-JO KEN PO!

Suas palavras soaram ameaçadoras, tanto que alguns abissais no entorno olharam desconfiados e outros até mesmo assustados. Continuaram com seu jogo por quatro vezes, até que finalmente o maior jogou "pedra" enquanto o outro jogou "tesoura", assim perdendo a partida.

-Vamos lá, melhor de três! -dizia o menor inconformado, arregalando seus olhos amendoados.

-Você perdeu, vá logo e traga nossa bebida.

-Eu sabia que deveria ter jogado "papel"... Tenho que confiar mais nos meus instintos. -resmungava o menor para si mesmo.

-Que mané papo de instinto o que, seu preguiçoso. Para de choramingar e vai logo!

O outro então levantou, não estava com preguiça, estava realmente pensando que a única razão para ele ter jogado errado foi no último momento ter medo de que o que ele tinha certeza a se fazer pudesse ser a forma errada de agir, em outra época ele não teria se desesperado e feito o movimento errado, parecia pouca coisa por se tratar de um simples jogo mas ele sabia que não poderia falhar se a situação assim exigisse.

-Fica quieto aí ô bocó, já to indo. -disse ele ao grandalhão.

Andou até o balcão do saloon e ficou ali esperando entre os mesmos vagabundos de anos atrás que estavam quase na mesma posição.

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