''Muitas vezes nos perdemos por necessidade, não porque queremos.''

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                                                                                                        8 anos antes

   Era uma manhã quase normal, em que eu tinha exatamente 8 anos, uma manhã em que eu acordaria, levaria meu irmão para o conservatório onde lá ele se divirtia com a música, ou pelo menos, tentava. Era apenas uma manhã fria, chuvosa, e era apenas minha vontade de ficar dentro de casa deitada, mais não foi bem isso que aconteceu. Levantei e fui fazer companhia minha mãe pela trajetoria de casa ao conservatorio, pra ela não voltar sozinha e também para eu não ficar sozinha em casa, a gente pensou e fez planos que iriamos ir e voltar rápido para chegar em casa deitar vê um filme até chegar a hora de levantar pra eu me arrumar e ir pra escola.
    Mais daí telefone da minha mãe tocou, ela nem sequer olhou quem seria e atendeu, a partir dai toda trajetoria mudou, não só ela como toda nossa vida, e o pior: pra sempre!
    Fisionomia dela mudou, seus olhos se encheram de lágrimas, logo eu pude sentir meu coração parecendo querer sair pela boca pois lembrei que meu pai tinha saido de casa nessa manhã para fazer uma viagem ao trabalho, mais eu queria ter a certeza de que nada estivesse acontecido. Quando ela disse ''isso só pode ser engano, isso não pode ter acontecido, não, nunca, não com ele.'', foi dai que eu percebi que todas minhas certezas tinham sido enterradas junto com as lágrimas que desciam em seu rosto descontroladamente.
    Mais eu sempre fui uma menina com esperança sabe? Sempre via aquela luz bem fraca no fundo no tunel achando que aquilo seria minha esperança, e que aquilo me deixaria seguir em frente. Com todo nervosismo que se acumulou dentro dela me fez ficar com medo, me fez vê tudo escuro, me fez procurar essa luz fraca mais eu não achei, nem sequer um pontinho dela.
    Ela mudou todo nosso caminho fazendo com que nós fossemos para onde meu pai trabalhava, que para mim aquele lugar era mágico, era ali que eu passava minha maior parte do tempo rindo, brincando, correndo, e não importava se ali era o serviço do meu pai ou nao, era ali que eu queria estar, porque eu podia fazer o que eu quisesse e sabia que meu pai estava ali, pertinho de mim, que se acontecesse alguma coisa era só eu correr para seus braços que qualquer dor amenizava, qualquer machucado sarava, meu lar era no abraço dele, meu lar era ao lado dele, meu lar era no colo dele, e de repente, descobri que perdi meu lar, num piscar de olhos meu chão sumiu dos meus pés e parecia que minha vida estava me empurrando para um penhasco e eu queria pular, pois já tinha perdido meu pai, e com ele eu também me perdi. E todo aquele lugar que achava mágico se tornou um verdadeiro pesadelo, apenas por olhar para lá e saber que nunca mais vai ser a mesma coisa, nunca mais ia ter a voz do meu pai ecoando nos corredores, e seus sorrisos? Quem mais teria um sorriso mais lindo que o dele? O mundo definitivamente nunca mais seria o mesmo. Eu mesma cheguei me perguntar como iria ser minha vida, ou até mesmo se aguentaria, até que olhei para minha mãe e sabia que eu precisava aguentar, por ela, pelo meu irmão eu precisava lutar, não podia deixar os dois assim, precisava me mostrar forte, mesmo sendo tão fraca, e ate mesmo a mais nova, eu iria fazer o papel do papai, eu iria trilhar os sonhos dele, e eu iria conseguir, pois sabia que de uma maneira estranha, ou, da melhor maneira ele estaria do meu lado, me dando força, e feliz por saber que eu não desisti, eu apenas me perdi e estava querendo me encontrar novamente.
   Um turbilhão de pensamentos ecoavam na minha mente enquanto me deparava sentada na cama da minha mãe, eu, ela, e meu irmão. Eu sabia que eles estavam procurando forças para levantar dali e seguir a vida, eu sabia que eles tinham medo, e eu sabia também que eu precisava deles tanto quanto eles precisavam de mim. O silêncio já fazia parte de nós, mais parecia que eu conseguia escutar nossos corações se repartindo em cacos em cada lágrima derramada. Foi quando eu levantei e disse:
  _Mamãe a gente não pode ficar aqui parada,  - disse há ela e logo vi um pouco de esperança em seus olhos - nós temos que ser fortes igual papai era, ele não iria gostar de ver a gente simplesmente parado aqui nos entregando há dor. - ao falar isso um mar de lágrimas se formou em meu olho. E ela simplesmente assentiu e meu abraçou. E logo pude escutar a voz do meu irmão saindo rasgando sua garganta:
  _A Georginna tem razão mãe, precisamos nos reeguer, pois é isso que o papai iria querer. - seus olhos se encheram d'água e nos três nos abraçamos.
  E a partir daí pude sentir toda esperança voltando ao nossos corações, porque eu sabia, que se a gente quisesse a gente poderia conseguir, e a gente ia conseguir, pela gente, pelo homem que se foi e deixou pra gente a melhor imagem de uma pessoa lutadora e guerreira. Sim, a gente tinha em quem se espelhar.

"Entre curvas."Onde histórias criam vida. Descubra agora