Minhas pernas já estavam dormentes, doendo em todos os pontos. Mas eu continuava a correr.
Esse era o único jeito de esquecer. A dor era o jeito, o jeito que me distraia por um momento, e me desligava de todo o resto. E era por isso que eu estava correndo no parque á uma da manhã. Mas mesmo assim, as imagens vinham à tona em minha mente.
Cerrei os olhos com força. Se minhas pernas não tivessem parado de latejar, eu não haveria percebido que eu estava no chão, que eu havia batido com alguma coisa.
Abri os olhos. Os cabelos negros da mulher caída na minha frente foram a primeira coisa que eu vi. Ela tinha os olhos semifechados, e suas mão tateavam os paralelepípedos da calçada do parque. Seus dedos se fecharam em volta de pequenos óculos redondos e prateados, e ela os colocaram no rosto, abrindo por inteiro os olhos negros. Minha cabeça aos poucos parou de rodar, e eu imediatamente me levantei.
– Ah! Me desculpe, eu...– Não terminei a frase, apenas estendi a mão direita para ela. Ela a segurou e eu a ajudei a se levantar. Eu a fitei melhor. Estava de legging, uma blusa cor de limão e tênis. Parecia estar fazendo o mesmo que eu: correndo.
– Eu realmente lamento muito – eu disse novamente.
Ela acertou os óculos tortos no nariz e sorriu.
– Tudo bem –, ela espalmou a blusa – você não era a única distraída.
Mesmo assim meus olhos continuavam a percorrê-la, buscando por um dano sequer na mulher.
– Ei, estou bem, ok? Nenhum arranhão! – Ela levantou uma mão e tocou meu ombro. – Continue a correr. – E foi embora, desaparecendo pelas árvores altas.