Alice Lopez
Minha vida se resumia a duas palavras: estranha e impiedosa.
A menos de uma semana, meu carro deu defeito. Eu o mandei para a oficina, e disseram que o problema na porta se devia á trava mal encaixada, que por isso não fechava. Até aí tudo bem, eu o buscaria em dois dias, tempo suficiente para trocar a peça danificada. Mas, quatro horas depois, me ligaram, e disseram que o vela de ignição - seja lá o que for isso - pegou fogo.
Enfim. É uma puta falta de sorte, não é? Sim.
E agora, com meu apartamento em reforma, estou dependendo da boa vontade da minha da minha mãe para me emprestar o carro para ir ao trabalho, à academia, à faculdade e a qualquer outro lugar, além de eu estar por um tempo hospedada no meu antigo quarto. E, com as férias inacabáveis, o trabalho e a faculdade estão fora de questão, me deixando "livre" para minha mãe encher meu saco. E era o que estava acontecendo naquele exato momento.
- Por que não deixou pelo menos um bilhete?! Por que não me mandou uma mensagem?! - Rosely puxava os fios castanhos do cabelo, esbugalhando ainda mais os olhos cor de mel. - Você me deixou louca de preocupação!
- É pra tanto, mãe? Meu Deus - Falei, dando um passo para o lado, apenas para ela me acompanhar e barrar mais uma vez a minha subida pela escada.
- Tem noção do que eu pensei quando eu me levantei e você não estava em casa?!
Revirei os olhos.
- Eu sei me cuidar, está bem? - Dei mais um passo em direção à escada, dessa vez esbarrando nela para chegar aos degraus. - Tenho 21 anos, mãe, não 11.
- Não importa Alice! Você sabe que tenho motivos para me preocupar! Você sabe muito bem! - Berrou ela.
Eu subi até o topo da escada e me virei para ela. Levantei uma mão aberta.
- Olha só, podemos deixar esse pequeno debate para amanhã? - Indaguei - Estou morrendo de sono e preciso tomar um banho.
Sem esperar por sua resposta, dei-a as costas e adentrei no corredor, correndo para o banheiro. Tranquei a porta atrás de mim e tirei os tênis com os pés e logo depois as meias, soltando um gemido de satisfação quando meus dedos deixaram o calor das meias grossas e se encontraram com o piso gelado do banheiro.
Liguei a torneira de água quente por inteiro e um quarto da fria, e a banheira cor de pérola começou a se encher.
Logo que entrei, meu corpo, que estava rígido por causa da corrida, relaxou na água morna. Eu fechei meus olhos, procurando me desligar de mim mesmo por um momento, e sem perceber adormeci.
***
- Alice! - Meus olhos se abriram de repente. - Ande logo! Alice!
- Estou saindo - respondi. Passei a mão em meu rosto. Esfreguei-me rapidamente, enrolei-me na toalha e abri a porta, apenas para encontrar Arthur do outro lado da porta, apertando as pernas e fazendo careta.
- Meu deus. Já faz uma hora desde que você está aí. - Ele correu para o vaso, e eu fechei a porta.
Entrei em meu quarto e fechei a porta. As paredes eram quase não vistas, escondida por pôsteres de atores e bandas, colados durante minha adolescência, e os ursos e bonecas da minha infância, ficavam amontoados em uma prateleira um metro acima da cama. O guarda-roupas era rosa e desgastado, cheio de poemas típicos que se dava àquela idade rebelde de 14, 15 anos.
Apanhei minhas roupas em uma das gavetas da cômoda e vesti-as apressadamente. Joguei-me na cama e dormi.
O que eu menos queria naquela manhã era descer e ver minha mãe com cara ruim para mim. Mas infelizmente era necessário.