Bem vinda a Paris

Prólogo

Quando vim de João Pessoa pra São Paulo, carreguei na mala milhares de sonhos. Com muito esforço eu tinha conseguido passar no vestibular de Jornalismo na USP, o que pra uma pessoa que vinha de escolas públicas do Brasil, era uma grande vitória. Meus pais se despediram de mim aos prantos, e as últimas palavras de meu avô antes de entrar no avião me marcaram pro resto da vida.

"As conquistas vem através de esforços, Rebecca. Não espere as coisas caírem no seu colo, corra atrás de seus sonhos, e você os conquistará."

Tudo bem, não eram palavras bonitas, especificamente, mas eram palavras cheias de sabedoria e ensinamento. Eu era uma garota de apenas 18 anos, que não tinha conhecimento nenhum da vida. Aquelas palavras foram os melhores conselhos que pude receber. Foram suados cinco anos de esforço e conquistas na Universidade, onde consegui me formar com mérito, sendo a aluna laureada e ainda conquistando o melhor emprego que uma pessoa poderia pedir: colunista de uma revista nacionalmente famosa.

Fui contratada para estagiar na Linda! Quando estava apenas no 4º Período do curso, e eu não fazia mais do que o trabalho de secretária, ou seja, era capacho de Lucinda Price (minha chefe chata, afinal quem nunca teve um chefe chato?). Eu estava nas nuvens mesmo assim, afinal, era a maior revista teen do Brasil, e eu estagiava lá! Imagina o que isso ia fazer pro meu currículo?! Afinal, nunca imaginei durar tanto tempo lá, mas para a minha surpresa e felicidade, quando terminei meu curso, Lucinda me chamou na sua sala e me ofereceu a coluna de relacionamentos da revista. Tudo bem, não era a melhor coluna da revista, e provavelmente me ofereceu porque ninguém mais quis pegar esse pepino, mas quem sou eu pra negar?!

Obviamente aceitei, e logo no começo a coluna fez um grande sucesso. Veja bem, eu nunca fui de namorar muito. Lembra que eu disse que as palavras do meu avô me marcaram? Então, eu sempre me preocupei demais com a faculdade e o trabalho, que acabei negligenciando minha vida amorosa. Agora imagina eu, Rebecca Nunes Mendonça, uma jovem de 23 anos que teve apenas dois namorados na vida (e que devo confessar que não duraram muito) assumi uma coluna de conselhos amorosos. Tipo... Oi?! Mas para a surpresa geral da nação, fiz sucesso!

Minha coluna se tornou uma das mais comentadas em poucas semanas, e o que deveria ser a minha alegria, acabou se tornando meu maior problema. Não é que eu não goste de escrever a minha coluna, longe disso. Mas acontece que agora, três anos depois, Lucinda não quer me dar outros trabalhos, e eu sinto que preciso de mais. Não consigo me contentar em apenas dar conselhos amorosos, afinal, quem sou eu pra dizer algo sobre seu relacionamento?

Observe bem o quadro. Neste exato momento estou sentada na cadeira em frente à mesa de Lucinda, pedindo... não! Implorando para que ela me passe alguma matéria pra fazer além da coluna, mas ela está categoricamente me ignorando e olhando a tela de seu computador com um sorriso no rosto.

- Por favor, Lucinda... Eu aceito qualquer coisa! Pode ser até uma matéria sobre o cachorro da Kylie Jenner, eu não me importo. Mas por favor, me dê algo pra fazer! – peço mais uma vez, e finalmente recebo uma reação da morena alta que está na minha frente.

- Rebecca, sinto muito. Mas todas as nossas matérias já foram passadas para os outros jornalistas. – ela diz calmamente me encarando. – Eu realmente não te entendo. Você deveria estar feliz com uma coluna de sucesso numa das maiores revistas do país, e você está aqui reclamando do trabalho que tem.

- Mas Lucinda, eu estou feliz com minha coluna... é só que... – tento me explicar, mas ela volta sua atenção para a tela do computador e me interrompe secamente.

- Não quero saber, Rebecca. Se tiver insatisfeita, posso repassar sua coluna pra outra pessoa. Tenho certeza que muitos almejam seu lugar.

- Não. Tudo bem, esquece. – falo me levantando e indo até a porta.

- Até mais, Srta. Mendonça. – diz enquanto vou abrindo a maçaneta e me retirando de sua sala.