- Parabéns, mais uma semana de sucesso. – Roger fala jogando a nova edição da Linda! na minha mesa. Pego a revista e folheio até encontrar a minha sessão. A coluna da semana falava sobre traição. Era a segunda vez que Lucinda me fazia falar sobre o assunto, já que, segundo ela, a primeira tinha dado polêmica, o que fez com que as revistas sumissem das bancas como um flash.
- Não agüento mais falar sobre as mesmas coisas sempre, Rô. – falo me encostando na minha cadeira e encarando o belo moreno a minha frente. – Não entendo porque Lucinda resiste tanto em me passar alguma matéria.
- Olha loirinha, você se preocupa demais com isso. Você deveria aproveitar que tem pouco trabalho e ganha bem, coisa que 90% dos brasileiros sonham em ter, e você insiste em mudar. – Roger senta numa das poltronas a minha frente e começa a folhear a revista que eu tinha jogado em cima da mesa novamente.
- Mas do que adianta ganhar bem e não ser feliz? – pergunto e ele levanta uma sobrancelha me olhando confuso. – Não me olha assim, Rô. Você não entende como é viver frustrada por querer fazer mais, e ser impedida disso.
- Becca, você que não entende o que é viver frustrado por querer trabalhar menos e ganhar mais, e ser impossível isso. – ele fala com desdém e eu me calo. Já vi que essa batalha eu não ganho. – Bom, o papo ta bom, mas alguém tem trabalho a fazer, afinal hoje é quarta-feira, e conhecendo bem você, já deve ter escrito a coluna da semana que vem.
- Ai que inveja de você! Me deixa fazer essa matéria, vai! Qual a matéria que você está escrevendo? – pergunto fazendo biquinho, e Roger dá uma risada.
- Deixa de ser ridícula. Queria muito poder te passar essa matéria sobre a nossa Lindsay Lohan brasileira. Aquela mulher é um saco, e ta sendo difícil marcar uma entrevista com ela. – ele diz se levantando devagar.
- Melissa Van Halen? Pensei que já tivesse feito essa entrevista na segunda.
- Tivemos que remarcar duas vezes, porque a louca chegou drogada nos dois dias pra fazer a entrevista, e não conseguia dizer coisa com coisa. Odeio trabalhar com essas magricelas doidas. – ele fala ríspido e dou um suspiro. Pode parecer loucura, mas por dentro eu to morrendo de inveja. – Você só pode ta ficando louca! Para de me olhar com essa cara de cachorro sem dono! Vou logo antes que você me implore pra te levar comigo pra ver essa doida. Tchau!
- Ooooh! Posso?! Por favor?! – digo e só escuto um sonoro "Não!" antes de Roger fechar a porta com força.
Tamborilo meus dedos na mesa bufando. Afinal, qual o problema de Lucinda comigo? Já deixei mais que provado que sei escrever, e que eu realmente sou boa nisso. Então, porque não posso escrever uma única matéria sequer? Reviro os olhos mais uma vez, indignada com a falta do que fazer e decido ler meus e-mails.
Diariamente eu recebia cerca de 100 e-mails pedindo conselhos amorosos, e como geralmente termino de escrever minha coluna na própria segunda-feira, e reviso na terça, fico o resto da semana sem ter praticamente nada pra fazer. Então, eu gasto o meu tempo lendo os e-mails e selecionando os mais interessantes, e que possam se tornar o tema da semana que vem.
Alguns são bem loucos, com situações tão inusitadas, que eu chego até a duvidar. Por exemplo, uma vez uma mulher me mandou um e-mail indignado dizendo ter sido trocada pelo cachorro. Mas não foi simplesmente: "Eu gosto da companhia do cachorro." Foi do tipo: "Eu quero o divórcio, porque quero casar com Fifi, nossa pastor alemã.". Sempre caio na gargalhada com esses e-mails. Sei que deveria ser mais profissional com relação a isso, mas qual é! O cara queria se casar com a cadela!
A manhã passa se arrastando, e quando finalmente dá a hora do almoço, eu saio da minha sala apressada. Não to com fome, mas não agüento mais ficar sentada naquela sala sem ter nada pra fazer. Passo no cubículo do Rô, quem sabe ele não aceitar ir almoçar comigo? Chego sorridente, feliz por finalmente poder sair desse tédio, mas me deparo com Roger bufando de raiva.
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Bem vinda a Paris
ChickLitRebecca sempre sonhou em ser uma grande jornalista, mas depois de quase oito anos trabalhando na mesma revista e não conseguir sequer uma matéria de sucesso, ela resolve arriscar a vida em uma nova cidade, ou melhor, em um novo país. Acompanhe a jor...