Rosa

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Assim que fechei a porta do carro da minha mãe .bateu aquele frio na barriga. respirei fundo e caminhei na direção do enorme portão de ferro. Respirei fundo e caminhei na direção do enorme portão de ferro. Era meu primeiro dia de aula na Dinâmica, minha escola nova. Caro que estava tensa. Onde sentar? O que conversar ? Como puxar assunto? Com quem puxar assunto? Antes de ir embora minha mãe deu uma buzinadinha , mandou um beijo e um sorriso fofo, e eu entrei.

A escola era grande, tinha piscina, quadras de basquete, muito verde e ocupava um casarão antigo no coração de Botafogo, aos pés do Cristo Redentor. Bonitona. Bem maior do que a que eu estudava em Vitória, no Espirito Santo, onde morei seis anos . Eu fui pra lá com 8 anos, quando meu pai teve de se mudar de mala, cuia e família depois de ser transferido para a filial capixaba da empresa em que trabalhava.

Gostava muito das minhas amigas de Vitória, a maioria eu conhecia desde que chequei lá. Algumas eram como irmãs para mim. Por isso, fiquei com o coração partido na hora de voltar para o Rio, a cidade em que nasci. Mas fiz questão de vir para a Cidade Maravilhosa com minha mãe, ela precisava da minha companhia , ainda mais depois que se separou do meu pai.

          Não, não fiquei triste com a separação. Juro! Os dois viveram brigando, discutindo, dizendo coisas horrorosas um para o outro. Eu chorava, eles choravam, batiam porta, gritavam, ficava o maior climão pesadão lá em casa... A decisão de cada um seguir para um lado foi mais do que acertada. E tomada civilizadamente, o que eu achei muito legal.

              O meu pai voltou para Vitória depois de passar três meses de férias no Rio aproveitando a família (entenda-se por família eu, ele, mamãe, vovó, vovô... Não disse que a separação era civilizada? Pois é, meus pais mantiveram a amizade, o que é maravilhoso). Ele foi embora na véspera do meu primeiro dia de aula e prometeu me visitar sempre. Sabia que não o veria mais com frequência que gostaria , mas optei por ficar com minha mãe e estava muito feliz perto dela.

                     Enquanto caminhava à procura da sala de aula, pensava que era chegado minha hora, a minha virada, a minha vez de encarar o desconhecido . Do alto dos meu 14 anos, vi minha vida mudar por completo de uma hora pra outra , e precisava olhar para o futuro de frente, sem medo, sem vergonha, sem constrangimento. Porque primeiro dia de aula em colégio novo é ridiculamente difícil.

                     Será que iam implicar comigo porque eu tinha morado em Vitória? Pô, adolescentes brigam por tudo , por qualquer motivo - e sem qualquer motivo também, vamos combinar. Será que me deixariam de lado, sozinha num canto? Será que a comida da cantina era boa?

                  Antes de entrar na minha sala, fiquei na porta observando as pessoas que conversavam animadamente lá dentro. Eram amigos se revendo depois dos meses de férias, mostrando fotografias, falando dos presentes que guanharam no natal, todo mundo alegre, todo mundo rindo muito. Ninguém com cara de peixe fora d'água. Só eu.

                  Entrei r logo tive a nítida sensação de que era invisível. Ninguém me viu, ninguém reparou em mim, ninguém se quer fingiu que me viu, ninguém reparou em mim, ninguém ser quer fingiu ter me visto . Desviei dos vários grupinhos espalhados pelo lugar e escolhi uma mesa perto da janela. Fiquei alo sozinha por um bom tempo, com vergonha de me aproximar de algum grupo. Fingi procurar alguma coisa na minha mochila e tirei tudo lá de dentro. Torcia para que alguma pessoa viesse me dar um oi, um sorriso, qualquer coisa para me tirar daquela aflição de estar completamente sozinha numa sala cheia de gente. 

 _ Oi. Beleza?

         Não creio! Alguém falou comigo! Alguém falou comigo! Não posso perder tempo, tenho que ser simpática, que sorrir mostrando os dentes, preciso me mostrar interessada , engrenar um diálago incrível!, Planejei.

_ Arrã.

             Nossa nota zero para mim. Zero, zerésimo . Eu sou uma anta mesmo. Eu sou uma anta mesmo, Louca para fazer amizade, para não me sentir deslocada, para me sentir alguém no mundo e mandei um " arrã " logo no primeiro contato. Péssima aluna na matéria " relacionamento com gente nova" . Em pouco tempo, com certeza, eu viraria  " a antipática do arrã". Meu apelido em toda escola seria "ARRÃ" . "Olha a roupa que Arrã veio hoje!", " Repara só na arrã comendo" . "Nossa! Arrã não sabe escolher perfume!", "A letra da arrã é medonha!", eles diriam as gargalhadas. Triste. Para piorar meu sofrimento, de " Arrã" eu viraria " a Rã", de " rã" pra " sapa" seria um pulo e "sapa" seria o fim. O fim! Que futuro terrível me esperava!

                Claro que depois dessa recepção gélida ( com direito ao arrã estúpido que me fadaria ao insucesso escola) seria praticamente impossível o menino continuar puxando assunto.

_ Você é nova aqui?]


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