Capítulo 02

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Estava à beira da cama olhando pro teto. Ainda com as marcas e feridas me corrompendo. Me deitei e olhei para a janela que ficava ao lado direito. Iasmim. Uma rua vazia com qual sonhei, qual era a relação?
Também me lembrava do que minha mãe houvera dito. Não me lembrava de ter um irmão. Apenas reminiscências curtas ouvindo falar dele. Que agora sei não ser rumores.
Virei minha atenção novamente para o teto. Iasmim. Ela me parecia ser legal. Amigável também. Será que todos da rua vazia são assim? Iasmim, a minha primeira amiga.
Toc, Toc, Toc. O som de pedras batendo em minha janela. Por minha sorte minha mãe havia adormecido há um tempo. Fui à janela e olhei pra ver quem era. A noite escura não me permitia ver nada além de sombras místicas.
Abri a janela e chamei para a figura misteriosa.
- Kelvin, sou eu. Iasmim.
Vai falar da menina que ela aparece. De vez em quando tento entender a lógica do mundo.
- O que tá fazendo aqui uma hora dessas? Já são 11:30 PM.
- Vem comigo, você precisa conhecer meus amigos. A vida já foi feita vazia pra ser preenchida por aventuras e memórias sabia? Temos que viver como se não houvesse amanhã, pois não sabemos o nosso amanhã.
Ambos ficamos em silêncio por um breve momento.
- Vem, Kelvin?
- Não posso.
- Só cinco minutos. Prometo.
Eu dei um longo suspiro e desci pela janela (não era uma altura relativamente grande, bem curta na verdade).
- Vem! - Iasmim falava enquanto me puxava pelo braço.
Ela havia me arrastado para um beco e lá havia uma fogueira. Tinha várias crianças ao redor.
- Galera. Esse é o Kelvin, se apresentem!
Enquanto se apresentavam eles levantavam a cabeça.
- Olá Kelvin, Richie, prazer.
- Mark, prazer.
- John, mas pode me chamar de Johnny.
- Robert.
Iasmim se sentou e todos olharam pra mim com um olhar fixo.
- Não precisa ter vergonha. Somos todos amigos aqui. Se sente Kelvin.- Johnny falou.
Eu me sentei e relevei tudo até agora. Somos todos amigos aqui. Amigos...
- Então Kelvin, porque está aqui?- Johnny perguntou.
Eu fiquei sem entender. Como assim? Porque estou aqui?
- Ele quis dizer qual a sua motivação. Todos nós aqui temos problemas, é o que faz nossos laços serem mais fortes. Johnny é um órfão desde pequeno. Mark tem a síndrome de Riley- Day e seus pais nem ligam pra ele. Então grande parte do tempo ele tem que se virar por si. Robert tem, vamos dizer, uma fobia de pessoas. E eu... Bom... Meu pai foi assassinado em minha frente. 13 balas. Uma magnum.- Richie falou com seu boné de 1980 em sua mão e ele olhando pra baixo.
- E a Iasmim? - eu perguntei com arrependimento.
- Eu mesmo conto.- Iasmim falou.- É uma longa história, mas vou resumir. Meus pais se suicidaram em minha frente. Desmaiei e fui jogada em um rio por não sei quem. Johnny me salvou e hoje estou aqui.
- E você Kelvin, porque está aqui? - Johnny perguntou.
Eu estava tão horrorizado com o que havia escutado então não falei nada. Nem ouvi direito pra ser franco, ainda tentando esquecer o que consegui ouvir.
- Não precisa ter vergonha.- ele falou me tirando da transe.
- Eu não tenho muito o que falar. Pois eu não lembro de nada. Tudo que posso me recordar e contar é o atual. Minha mãe me proíbe de sair e se eu fizer algo que ela não goste. Bem... - eu comecei a chorar. Iasmim se jogou em mim e me confortou com o calor de seus braços.
- Tudo bem, não precisar falar mais nada.
- Obrigado. Preciso ir agora. Obrigado a todos.
Eu me despedi de todos e fui pra casa. Iasmim me acompanhou caso algo acontecesse. Ela me abraçou e se foi. Entrei pela porta de fundo e subi pro meu quarto sem fazer zuada.
Joguei-me  na cama chegando em meu quarto e olhei pra cima. Amigos...
Fiquei pensando no que haviam dito. Sempre pensei que meu caso fosse único, que apenas eu poderia sofrer tanto. Fechei meus olhos e deixei o sono me tomar. Então isso é amizade...

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