2 anos

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Hoje era o tão esperado dia, Camila finalmente saberia os resultados de seu exame. Mal sabia ela que a vida pode brincar conosco nos momentos menos esperados.

Camila, que na verdade era Karla Camila, era uma mulher de vinte anos, de vida resolvida, estatura média, cabelos longos e castanhos, olhos brilhantes e sonhadores, ela tinha um grande estúdio de fotografia que herdara de sua mãe, que havia falecido à cerca de um ano. Cursando fotografia ela poderia ter mais contato com a empresa, ela pensou, e foi o que ela fez, já estava no último ano da faculdade e tinha muito futuro ainda. Mas tudo dependia dos resultados de hoje.

Camila observava seu grande guarda-roupa à procura de alguma roupa "descente" para ir ao médico, pegava uma, olhava outra, guardava algumas, jogava outras pelo chão, até que decidiu ir com uma calça social, uma blusa branca lisa e um salto simples, afinal era um médico de alta classe, ela precisava ir bem vestida.

Enquanto passava maquiagem pensou em ligar para seu pai e dizer que pegaria os resultados hoje, para tranquiliza-lo um pouco, já que nos últimos dias ela havia tido muitas dores na coluna e tosse seca, não era normal para uma menina saudável como ela, os dois sabiam e estavam torcendo para não ser nada.

**

- Srta. Cabello?- A secretária chamou Camila para entrar no consultório.

- Sim, já vou. - Disse Camila enquanto terminava de arrumar algumas coisas em sua bolsa e passava pela porta que dava pra o consultório do médico.

- Olá, Camila, trouxe os exames? - Ela acenou positivamente – Bem vamos dar uma olhada então, sente-se, serei breve.

- Então... – Disse Camila com expectativa enquanto o médico analisava os papéis com uma expressão ilegível.

- Vou ser sincero, os resultados não me agradaram em nada. – Neste momento Camila já queria sair correndo para nunca ter que saber o que viria a seguir. – Eu sinto muito Camila, mas eu temo que você não tenha mais do que dois anos de vida daqui pra frente, você tem um câncer de pulmão terminal, eu realmente sinto muito!

Camila nada disse, apenas sentiu a mão do médico acariciando seu ombro de leve pra reconforta-la enquanto ela chorava baixinho e pensava no que faria, no que diria para sua família, o que faria com sua faculdade e trabalho, mas principalmente o que ela faria com a sua vida cheia de sonhos e esperanças que acabaram de morrer naquele mesmo consultório.

**

Saiu do consultório meio cambaleando e ainda chorando, e foi para a cafeteria que havia no hospital, pensar no que faria dali em diante e no que diria ao seu pai quando ele ligasse.

Chegando lá escolheu uma mesa mais isolada do resto e torceu para que ninguém a visse ali e a perturbasse, afinal nada mais justo do que ficar um pouco sozinha após uma notícia daquelas, mesmo ela estando morta de fome. Mas para sua infelicidade ou felicidade uma garçonete dos olhos verdes cintilantes a notou no cantinho da lanchonete e foi até lá.

- Hey, você gostaria de alguma coisa?- A garçonete disse, mas Camila pareceu não ouvir porque ainda estava de cabeça baixa e não deu nem um sinal de vida. – Moça? Está tudo bem com você?! – A garçonete insistiu e dessa vez Camila levantou o rosto inchado e molhado de lágrimas para olhar a moça ao seu lado. – Ai meu Deus! Aconteceu alguma coisa?! Eu vou te trazer um copo de água, fique aí e vê se não chora mais, uma garota linda como você não deveria chorar.

Camila apenas abaixou a cabeça de novo e começou a chorar baixinho novamente, logo a garota dos olhos verdes e cabelos pretos cumpridos voltou com um copo de água e uns cookies, o que fez a pequena pessoa cabisbaixa ali no canto dar um sorrisinho, sua fome iria a matar uma hora e aquela garota estava sendo um anjo.

- Coma isto, vai se sentir melhor, seja lá o que tenha acontecido eu espero que você não chore mais, se quiser conversar tudo bem, eu pedi uma hora de folga pro meu chefe. – Camila sorriu um pouco por causa da solidariedade da garçonete, mas logo focou nos cookies e os devorou em menos de um minuto o que surpreendeu a garota de olhos verdes. – Pelo jeito você estava com fome mesmo e eu acertei. – Ela disse e deu um sorriso genuíno de dever cumprido.

- Obrigada, de verdade, eu estou passando por um momento muito difícil, e você nem me conhece e está me tratando melhor do que meus pais. – Ela riu um pouco, a garota dos olhos verdes havia conseguido a distrair um pouco do assunto tragédia.

- Mas então, quer me contar o que te deixou assim tão pra baixo? – Camila ponderou se diria a verdade para uma estranha ou não.

- Minha mãe morreu, e não sei como contar ao meu pai, você sabe um hospital esconde várias facetas, as boas, as ruins, as macabras, etc, mas hoje eu tive o privilégio de conhecer a faceta ruim, a que esconde a morte das pessoas que estavam morrendo aos poucos a muito tempo.

- Uau, isso foi profundo, sinto muito pela sua perda, mas um dia tudo se vai, infelizmente, mas essa é a lei natural das coisas, e quanto ao seu pai se você quiser eu posso te ajudar ou até mesmo dar a notícia no seu lugar – Ela disse em tom de brincadeira, mas com um olhar sério.

- Acho melhor não, meu pai vai pirar e você não vai saber lidar – Camila disse vendo que tinha entrado numa furada quando resolveu mentir.

- Tudo bem então, quer dar uma volta para libertar os demônios que estão na sua mente?- Disse a garota de olhos verdes, agora cintilantes de esperança, esperança de poder ajudar uma bela moça como aquela que estava a sua frente.

- Não parece ser uma má ideia, mas quer mesmo gastar sua hora livre com uma garota recém-depressiva?- Perguntou Camila já se sentindo melhor.

- Eu não me importaria desde que essa garota fosse linda e ainda rica – Disse a garçonete em tom de brincadeira e uma careta engraçada.

- Como pode saber se sou rica ou não? E eu nem sou linda assim, ok? – Disse Camila rindo da situação.

- Tem razão, eu não sei, então pensando melhor acho que vou embora... – A garçonete saiu andando e logo sentiu a mão da pequena a puxando.

- Hey, pare de ser difícil eu já tenho problemas demais aqui.

- Tudo bem, eu só estava brincando bobinha. – Camila sentiu vontade de socar aquela bela face, mas apenas riu.

- Eu ainda não sei seu nome, o meu é Camila Cabello e o seu? – Perguntou curiosa.

- Me chamo Lauren Michelle Jauregui , mas me chame só de Lauren, prefiro assim – Deu um sorriso e tirou o seu avental para deixa-lo no balcão e pegá-lo quando voltar, assim que o fez olhou para Camila mais uma vez e Camila tinha um olhar perdido em algum lugar do seu torso, mas decidiu simplesmente ignorar e seguir para a saída do local.

Lauren não percebeu, mas Camila estava o tempo todo com os olhos pregados nela, talvez seja sua beleza que a tenha atraído ou o seu carisma, mas algo na garçonete simplesmente chamou atenção da pequena, ela a fez esquecer que provavelmente daqui dois anos não poderia mais ver o dia de amanhã, a fez esquecer que seu mundo desabou e não havia volta, talvez Lauren tenha poderes sobrenaturais ou algo do tipo. A cada minuto que passava ao lado da garota de olhos verdes Camila se sentia cada vez mais segura e a vontade, quem sabe era o começo de uma bela amizade.

**

Camila resolveu não contar para ninguém sobre o seu problema, decidiu fazer tudo quieta e só na hora certa dizer a verdade para todos, assim como ela havia feito com Lauren ela fez com seu pai e o resto da família, simplesmente mentiu e disse que era uma gripe normal que passa rápido.

Ela não queria preocupar a todos e fazer com que passem a chamar de coitadinha, ela resolveu seguir sua vida e viver normalmente até o seu último minuto de vida.

O médico tinha dito que havia algumas míseras chances de cura se ela fizesse quimioterapia, então ela disse que o faria, mas para isso iria precisar trabalhar mais um pouco para conseguir todo o dinheiro, mas dinheiro nunca foi uma dificuldade para os Cabello's, Camila sabia que depois de um tempo se acostumaria com a ideia de morrer e acabaria contando para a família e assim conseguiria o quanto de ajuda fosse preciso.

Por enquanto sua prioridade era viver intensamente.


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