A HISTÓRIA DE NÓS DOIS

Capítulo 2

Ele era realmente lindo. Eu era um pouco alta com meu 1m70cm mas ele era um pouco mais. Seus cabelos eram loiros no estilo surfista e seus olhos cor de mel. Ele parecia um modelo de encher os olhos de qualquer garota. Eu tentei continuar minha caminhada afinal era tarde da noite e mesmo com aparência tão bela, ele ainda parecia perigoso. Ele chegou mais perto e perguntou se eu estava bem, eu concordei apenas mexendo a cabeça. Depois de um tempo parada, eu comecei a sentir meu corpo lentamente. Ele ficou mudo por um tempo também. Mudo o suficiente para que eu percebesse seus músculos saltando pela camisa de capitão américa e sua calça jeans.

Quebrei o silêncio perguntando qual era o seu nome e o que fazia na ponte nesta madrugada. Ele ficou calado durante mais uns minutos sem responder nada ou mecher a boca. Apenas se inclinou me dando um beijo na bochecha e saiu. Eu tentava gritar mas não consegui tamanha a adrenalina. Me virei mas ele não estava mais lá. Assim, continuei meu caminho até minha casa.

Minha casa fica bem afastada da cidade. Poucas pessoas moram por perto. O vizinho mais próximo fica há mais de 2km. Cheguei em casa e cumprimentei minha mãe Rose e seu namorado Alberto. Eles namoravam há pouco mais de seis meses. Ele era policial e ela era recepcionista do hotel em frente à delegacia. Alberto havia se mudado há pouco menos de um ano para nossa cidade. Não tinha filhos ou esposa e frequentava como nenhum outro hospede, o bar do hotel. Apenas consumia o jantar. Eles acabaram se conhecendo no dia em que uma bartender faltou e minha mãe, como tinha experiência na área, assumiu o local. Desde então conversavam bastante. Ele a levou para dois encontros antes de pedi-la em namoro.

Minha mãe nos apresentou dois meses depois. Em um jantar no hotel em que trabalhava, ela me levou dizendo que tinha uma grande novidade e que agora queria fazer da maneira correta. Eu não tinha certeza mas algo me dizia que ela ainda guardava mágoas do último relacionamento. Seu ex-namorado era um pilantra de classe maior. As mães sabem o que é melhor para seus filhos mas quem disse que o contrário também não era válido. O tal ex a roubou.

Depois de quase três meses de namoro, ela o convidou para morar em nossa casa. Ele estava afastado do atual emprego devido a um acidente de trabalho e ficava a maior parte do tempo sozinho na casa. Ele descobriu aonde estava nossas economias e se mandou com todo o dinheiro. Mamãe teve de penhorar suas joias guardadas no banco incluindo a aliança de casamento. Ficamos uns meses sem luxo nenhum. Faltavam poucos meses para eu poder procurar emprego legalmente mas não deixei de ajudar. Me candidatei a babá do irmão de Karyme e ajudava nas despesas de casa. Quando completei 16 anos, me candidatei a uma bolsa de estudos no colégio e consegui ajuda financeira para metade da mensalidade. Dois anos depois, comecei a trabalhar na lanchonete com indicação de Armênia. Ela falou com seu pai que prontamente me ofereceu o emprego.

Após cumprimentar minha mãe e Alberto, deixo minhas coisas no meu quarto e vou tomar um novo banho. Sem querer, penso no estranho da ponte com seus cabelos loiros e seus olhos de mel. Como disse, a cidade é relativamente pequena. Aliás, estamos numa ilha. É difícil forasteiros fora de época visitarem o local. Termino o banho, troco de roupas e vou para a cozinha esquentar algo para comer. Após a feijoada recém-esquentada do almoço, me despeço dos dois e vou para meu quarto. Me deito com meu livro predileto: Como eu era antes de você. Karyme que me deu de aniversário no ano passado mas com a faculdade em pleno vapor, acabei deixando pra lá. O Will é fofo embora meio chato e a Lou é um amor de pessoa. Já chorei algumas vezes lendo este livro. Adormeço depois de dois capítulos.

Acordo no dia seguinte com dor de barriga mas teimosa como sempre, vou ao trabalho. Seu Jonas, meu chefe, me dispensa após o almoço. Vou ao hospital seguindo suas recomendações e envio uma mensagem para minha mãe. Ele responde falando que ainda está no trabalho mas que sairá às 15hs. Pede que eu a espere no hospital ou então vá encontrá-la no hotel.

Chego ao hospital e faço a triagem falando sobre minha dor de barriga, o que comi no dia anterior e coisas desse tipo com a enfermeira Merina. Eu a conheço do café. Ela é morena, baixinha e tem cabelo black power. Sempre a achei linda. Ela faz perguntas sobre alergias e tudo mais. Me encaminha para a sala de exame onde encontro outro conhecido, Guilherme. Ele é marido de Merina e médico geral. Ele prepara o raio-x e pede que eu aguarde a resposta no consultório do novo médico. Fiquei na sala de espera por quase trinta minutos.